Existem momentos de empolgação do povo brasileiro com algumas ações
aparentemente positivas dos nossos dirigentes na esfera dos três poderes. É um
verdadeiro oba-oba na base do “agora vai mudar”! Ledo engano. Imediatamente vem
um festival de outras medidas retrógradas altamente prejudiciais.
A administração pública é pródiga
em fazer das boas notícias ensaio para as desastrosas. Este ano o ensaio
beneficente começou com a diminuição do preço da energia elétrica. Depois, veio
a série de ações do verdadeiro Brasil.
Primeiro foi o pré-julgamento do ministro Carlos Roberto Barroso ao
afirmar que o Supremo Tribunal Federal, no rumoroso caso do “mensalão”,
decidira em desacordo à linha habitual, o que chamou de “um ponto fora da
curva”, numa insinuação de que houve um julgamento de exceção. Com essa
afirmativa, ele antecipou o voto que dará nos julgamento dos recursos.
Na mesma esteira, o Congresso Nacional está aprovando um projeto de lei
complementar para abrir novamente a porteira da criação de novos municípios. A
nova lei devolverá às assembleias legislativas a competência para elas
autorizarem a criação de novos municípios, que serão mantidos com os repasses
de verbas federais e estaduais, já que não terão uma fonte significativa de
receita.
Contentar-se literalmente com pouca miséria não é do estilo do Congresso
Nacional. Dando seguimento à farra do inchaço da máquina pública, foi aprovada
a criação de quatro novos tribunais regionais federais. Os defensores da
ampliação alegam que o povo precisa estar mais próximos da Justiça.
Bem antes das benesses de uma Justiça federal, “Josés e Marias” formam
uma clientela de gente humilde com muitas necessidades prévias de outras justiças
básicas.
A começar por uma cama e um quarto em substituição às macas e aos
corredores de hospitais públicos, onde agonizam dias a fio. Concomitante,
faz-se necessário um ensino de qualidade; um telefone que funcione, uma rua com
rede de esgoto e centenas de outras “justiças”, incluindo principalmente uma
segurança que assegure a seus filhos usarem um tênis sem perder a vida.
Além de tudo, seria preciso assegurar ao povo condição para ter acesso à
Justiça, já que hoje somente por meio de advogado, o que a esmagadora maioria
não consegue. Atribuir a criação desses tribunais aos benefícios que trariam à
população seria o mesmo que obrigar a utilização do dinheiro do programa
bolsa-família na compra de lagosta e caviar em vez de pão, café e feijão.
Por essas e outras, o brasileiro já tem por certo que toda vez que o
país dá um passo adiante, significa que três ou quatro estão programados para
trás.
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