Me gustan los estudiantes, que marchan
sobre la ruina. Con las banderas en alto, va toda la estudiantina. (Violeta Parra)
Pensei que
tivessem morrido os estudantes que marcham sobre ruínas. Via somente estudantes
querendo tchu ou tcha, estudantes entorpecidos pelo consumo, socados em
lanchonetes nórdicas. Felizmente, enganei-me. Eles estão de volta! Marchamos
sobre as ruínas da ditadura, lutando por democracia. Agora, a marcha é sobre as
ruínas de uma democracia falida.
Democracia
em ruínas... A culpa não é apenas desse ou daquele político, desse ou daquele
partido. A culpa é, sobretudo, do sistema político que não funciona mais. É
como um carro velho, que ainda anda, mas engasga sempre. Não adianta pensar que
a solução seja colocar esse ou aquele ministro togado no Executivo, como se
fosse um messias, hipernutrindo um poder que não sofre de desnutrição.
Ilusão!
Democracia em ruínas... A tripartição dos poderes não funciona mais. A
representação popular via partidos políticos também engasgou, perdeu a
velocidade necessária à complexidade de nossa sociedade. Em vez de povo no
poder por meio de partidos, temos partidos no poder por meio do povo e, muitas
vezes, contra o povo. Os grandes meios de (tele)comunicação, quarto poder, que
deveriam ser democráticos, são o esgoto do esgoto da ruína dos quatro poderes.
Quatro
poderes divorciados do povo. Derrubaram a escada e abandonaram o povo. O
Judiciário também. Diz que segue “a lei” e não o “clamor dessa turba chamada
opinião pública”. Esnoba o povo com a prática da impunidade e, sobretudo, da
indiferença em relação ao clamor popular, como se o Poder Judiciário emanasse
dos concursos e não do povo.
A oposição
diz que a culpa é do governo, mas isso é somente simplificação oportunista,
eleitoreira. Não sabemos como será a nova democracia. Nem sabemos quando e como
trocaremos essa falida que temos por aquela que ainda não temos.
Ela está nos livros que ainda não foram
escritos, ali no futuro. Não está mais em Montesquieu, que já fez a sua parte.
Enquanto, marchando, não descobrimos o substituto para o carro que engasgou,
temos ao menos a certeza de que a razão política de tudo continua sendo a
mesma, válida razão: soberania popular! Não há crise no “todo poder emana do
povo” e sim nas formas de sua realização. A alma da democracia, popular, não
morreu.
O problema é que ela ficou prisioneira desse
zumbi, falido zumbi de quatro poderes em ruínas, divorciados da soberania
popular, sobre os quais marchamos hoje, liderados pela esperança ativa,
militante dos jovens, sangue novo, parte nobre dessa nossa sociedade...
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