sexta-feira, 6 de maio de 2011

As eternas discussões



Política e futebol têm muito em comum. Despertam paixão e ódio. São temas de difícil consenso. Quase sempre decepcionam seus seguidores. Têm fases boas e ruins. Apresentam resultados surpreendentes e, muitas vezes, contraditórios com o desempenho da temporada ou campanha. E, não raro, têm os mesmos personagens como estrelas.

Não gratuitamente, aparecem conselhos no sentido de evitar debates sobre dois assuntos. Porém, como toda pauta polêmica, política e futebol sempre levam uma dupla ou um grupo a desenvolver grandes teses pelos bares e restaurantes que, ao fim da noite, se transformam em ideias diluídas e prontas para desaparecerem.

Fato é que, embora ambas as discussões sejam sempre acaloradas e instigantes, futebol e política ocupam espaços diferentes no contexto da sociedade. As decisões que são tomadas no campo da política atingem diretamente a vida de cada um dos cidadãos. Estão relacionadas à evolução ou involução de uma sociedade. O debate nessa área é mais do que necessário, faz parte de um processo de sedimentação de conceitos, que vai definir qual será o padrão sociopolítico atual e do futuro.

E é notória a ampliação da participação do cidadão na sociedade em que vive. As democracias por todo mundo estão adquirindo, cada vez mais, um perfil mais participativo do que representativo. Ou seja, a posição de cada um, defendida nas diversas organizações sociais, ganha mais força do que a representação escolhida para ter voz dentro da institucionalidade - os Poderes Legislativo, Executivo e Legislativo.

O crescimento da democracia participativa estimula o debate político e estende a responsabilidade para os diversos setores da sociedade. Há um processo em curso em que a representatividade precisa da participação popular para ganhar legitimidade. No Brasil, por exemplo, as casas legislativas estão criando suas instâncias internas destinadas à expressão direta do cidadão.

Por outro lado, no futebol, a ampliação da discussão fica mais difícil a cada dia. O setor, embora não tenha grande peso do ponto de vista da organização sociopolítica, é uma manifestação popular importante, especialmente no Brasil. É nessa área que o brasileiro extravasa suas dores e manifesta seu nacionalismo. Daí a justificativa para toda a manifestação em torno da Copa do Mundo de 2014.

Mas não é possível esquecer que o interesse econômico permeia o futebol e a política. E nessa área, as análises são mais complicadas, os interesses mais difusos e a compreensão mais difícil. Tanto assim que é impossível dizer se a derrota de anteontem do Cruzeiro está relacionada com incompetência, interesse econômico ou rasteira política. Uma coisa é certa, foi lamentável.


Por Carla Kreefft. E-mail: carlak@otempo.com.br

Comente aqui ou no dihitt.

Um comentário: