Desde os gregos, queremos
lapidar o corpo. Mas qual a medida exata da perfeição?
O corpo perfeito deve combinar massa muscular,
estética e saúde física e mental. De nada adianta beleza com o não
funcionamento de órgãos vitais, muitas vezes destruídos pelo uso de substâncias
prejudiciais ou deformados pelo sedentarismo.
Apesar desta visão dominante, o
corpo perfeito também precisa se adequar a uma cultura. Ou seja, é a
sociedade que define este padrão através da mídia, da sociedade civil e da
influência dos padrões do Estado, através de órgãos reguladores.
“Sou básica: como um quilo de peito de frango por dia e 20 claras de ovos, que é proteína. O carboidrato é o arroz integral”. diz a campeã Thaissa Costa.
Sob este argumento, não é o corpo
que inspira os padrões, mas o formato cultural que dita a beleza de cada época.
Assim, o perfeito é um “discurso”, algo que se aceita e que se toma como
verdades através dos reiterados diálogos sociais.
A nutricionista Daiana Mendes
Freitas explica que mais do que
se preocupar com o corpo perfeito, as pessoas comuns devem se atentar para a
alimentação adequada, comer corretamente e evitar o sedentarismo.
“O corpo perfeito é um mito. A não
ser que existam padrões fixos, como os concursos que avaliam tanto a cultura
muscular quanto a beleza corporal, o corpo perfeito é aquele que você consegue
ao evitar doenças e promover uma boa forma”, diz.
“A medida que interessa é aquela do
teste de glicemia e de outros exames, quando você observa que está fora ou
dentro da margem. Se o seu hábito alimentar o leva para o diabetes, com
certeza, você não tem mais um corpo perfeito”.
GORDO E BELO
Em recente projeção do artista
Nickolay Lamm, especialista em 3D, o homem perfeito das últimas décadas do
século 19 assumiu a posição de que belo é ser gordo. Sem fácil acesso aos
alimentos gordurosos, principalmente os industrializados, restava aos pobres
admirar a obesidade, que representava sinal de riqueza e consumo.
O belo
do século 19 era gordinho, pois demonstrava poder para consumir.
Mas quem anda hoje pelas ruas de
Goiânia, por exemplo, vai ignorar o corpo de 1870 e focar seu olhar na beleza
dos anos 2016. A ‘beleza’ do século 21 é formada pelo corpo magro e
musculoso – ao menos para o olhar dominante.
Essa preocupação com o físico e o
belo é bastante natural e teve origem junto aos gregos. Antes dos atenienses e
espartanos, o homem buscava a força. E a mulher se contentava com a genética.
Na modernidade, existe a preocupação
com o corpo, mas também em entender como colocar este corpo na sociedade. De
acordo com a mestre em Educação Física Betania Bolsoni, a própria inserção da
educação física nas escolas já demonstra uma preocupação da modernidade com a
saúde. O problema, diz ela, estaria na busca exclusiva da mecanização do corpo.
A pesquisadora explica que a partir
da leitura do filósofo Michel Foucault sobre a relação do homem com o corpo, a
modernidade tem procurado tomar consciência e realizar ações para o ato de
cuidar de si mesmo.
Para Foucault, “as práticas de si”
podem ser traduzidas em uma forma de observação e análise da própria vida. A
pesquisadora explica em sua pesquisa que o corpo de cada sujeito não é apenas
resultado da constituição biológica, mas a constituição de desenvolvimento
cerebral e
comportamentos culturais.
Um dos temores de quem defende esse
ideal de Foucault é fazer com que o corpo seja tratado exclusivamente de forma
mecanizada, principalmente através de exercícios em partes isoladas. O corpo,
para este grupo, não estaria separado do espírito.
Para essa corrente, que não
necessariamente pensa o corpo como belo, exercitar-se num processo repetitivo
de movimentos e buscar o melhor desempenho até a exaustão pode ser um erro –
ainda mais quando se procura anabolizantes para alcançar um resultado meramente
plástico.
PERFEITA
A atleta goiana Thaissa Costa, vencedora
da categoria Wellness do Arnold Classic, evento com a chancela do ator e
esportista Arnold Schwarzenegger, é um exemplo de corpo perfeito da
modernidade.
A fisiculturista é a vencedora
nacional da categoria até 1,63cm. Diferente de outras categorias do esporte, na
modalidade de Thaissa o corpo é absolutamente proporcional. Em vez do músculo
apenas tonificado, o que mais conta é a beleza e o movimento. Ou seja, a
presença de palco e a forma física talhada com dieta e treino criam um padrão
de beleza contemporâneo.
A categoria da goiana exige que o
corpo seja menos hiperatrofiado e masculinizado, o que se adequa a uma visão
próxima do ‘belo’ mais atual – justamente sem a ideia mecanizada que muitos
atletas insistem em desenvolver ao treinar um ou outro músculo em específico.
RAZÃO DA BELEZA
A Universidade do Texas acredita que
a modelo e atriz britânica Kelly Brook seria o exemplo de corpo perfeito. Aos
36 anos, ela mede 1,68m, tendo 90 cm de busto, 63 cm de cintura e 91 cm de
quadris.
Os pesquisadores usam a matemática
para decretar quem tem ou não o corpo dos deuses: a partir da razão
cintura-quadril, os cientistas do Texas concluíram que qualquer mulher com a
razão 0,7 é atraente.
Para conseguir este número (a razão)
os pesquisadores realizam a divisão da medida da cintura pelo tamanho do
quadril. Por conta deste cálculo, a mulher de corpo perfeito que tenha, por
exemplo, 100 cm de quadril e 70 cm de cintura, poderá obter 0,7 –
justamente o número de Kelly , que registrou 0,70588253.
Segredos de campeã inclui dieta rigorosa e
treino árduo
A atleta goiana Thaissa Costa persegue a perfeição. Vencedora do Arnold
Classic 2016, a goiana é campeã estadual overall e vice-campeã brasileira.
Mas tudo isso aconteceu nos últimos meses. Antes, ela era apenas uma
aficionada em academia. “Nunca imaginei ter este destaque em tão pouco tempo”,
diz a atleta, que se preocupa menos com vaidade e mais com o desempenho. “Os
atletas deixam de sair á noite, de comer o que gostam. Sou assim também”, diz.
A vencedora da competição criada por Arnold Schwarzenegger tem a
fórmula para quem sonha com um corpo semelhante: “Primeiro, é preciso ter o
perfil adequado. Cada um terá um corpo de um jeito. No caso da competição, os
critérios avaliados foram beleza facial, o corpo e a forma com que você
se apresenta”.
A campeã goiana diz que a estrutura óssea será também determinante. “Essa
categoria que participo é um meio termo, uma espécie de miss fitness”.
Mas como conseguir o corpo da campeã? “Seis meses antes de uma competição
não como nada de sal. E dois meses antes como batata doce”, dá a dica.
Não bastasse, no cotidiano, Thaissa encara a alimentação de forma básica,
sem glamour ou sem glamourizar o que come. “Sou básica: como um quilo de peito
de frango por dia e 20 claras de ovos, que é proteína. O carboidrato é o arroz
integral”.
Restrita
A atleta diz que não sabia se exercitar até se casar com um marido
fisiculturista, que é também professor e dirigente do fisiculturismo em Goiás.
“Direcionei meu treinamento graças a ele. Meu marido é meu treinador”, diz a
atleta.
A reportagem do Diário da Manhã entrevistou Thaissa em uma sorveteria,
quando a atleta se encontrava com o deputado federal João Campos (PRB-GO). Mas
enquanto todos se deliciavam com os sorvetes, ela era irredutível: “Não como
nada que tenha açúcar”.
No local a campeã se encontrou com o deputado
para falar de esporte e da necessidade de investimentos no setor. O político
reconheceu as vitórias da atleta e disse que ela é exemplo: “Thaissa é a
demonstração da capacidade, superação e da disciplina, algo importante não só
no esporte. Mas para a vida”, disse.
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