Fala-se muito na imprensa
e nos círculos empresariais, com justificadas razões, sobre a necessidade de se
realizarem as chamadas reformas estruturais, principalmente a política, a
previdenciária, a tributária e a trabalhista, sempre postergadas pelo Congresso
Nacional e o governo federal. Sem dúvida, elas são mesmo necessárias para
adequar o arcabouço legal brasileiro às realidades mais contemporâneas dos
cenários mundiais.
No entanto, mesmo que efetivadas, terão efeito limitado como
fator de estímulo e crescimento econômico se o Brasil não empreender uma ampla
transformação cultural, focada de modo firme no desenvolvimento.
Esse processo, no
qual já estamos atrasados a esta altura da segunda década do século 21,
assenta-se sobre três vertentes essenciais: a postura da classe política; a
atitude dos empresários; e, atrelado a ambas, um consistente choque de
produtividade. É premente refletir sobre isso e partir para a ação. Não há mais
tempo a perder!
No primeiro caso, é
preciso que os ocupantes de cargos eletivos no Poder Executivo e no Legislativo
coloquem cada vez mais os interesses do Brasil acima das questões partidárias e
políticas.
O debate nos anos eleitorais, como este 2014, os embates
programáticos e filosóficos, a permanente vigilância das oposições e a retórica
são enriquecedores para a democracia. Permitem a troca de ideias, a
participação da sociedade nas discussões dos grandes temas nacionais e
possibilitam que a opinião pública posicione-se.
No entanto,
governantes e parlamentares não podem nortear sua gestão e seu trabalho tendo
como parâmetro essencial as próximas eleições, como se o cotidiano nacional
fosse uma novela voltada a conquistar pontos de audiência, conforme as emoções,
o humor e as preferências do público. A prioridade é a solução dos problemas, a
expansão do PIB, a qualidade do ensino e da saúde, os investimentos públicos e
a gestão eficaz.
Quanto à oposição, não deve ficar torcendo
pelo caos para ter mais argumentos de crítica contra a situação e tentar
vencê-la nas urnas. Encerrada cada eleição, a classe política deve trabalhar em
favor e não contra o país. É assim que ocorre na maioria das nações que
conquistaram o desenvolvimento.
Quanto aos
empresários, a mudança cultural que deles se espera transcende a sua já
decisiva e importante missão de empreender, investir, criar empregos, gerar
riquezas e pagar impostos. É necessário que se engajem de modo mais efetivo na
política, na mobilização cidadã da sociedade, no debate dos grandes temas e na
proposição de mudanças positivas. Sua experiência, capacidade de gestão e olhar
pragmático do mundo são elementos essenciais para o aperfeiçoamento do setor
público e o avanço do Brasil.
A terceira grande
mudança cultural diz respeito ao choque de produtividade, de modo a se atender
às exigências e expectativas dos grandes investidores: recursos humanos
qualificados e eficientes; logística eficaz; e inovação. O nosso fantástico
mercado de 200 milhões de habitantes não é mais suficiente para atrair
investimentos produtivos, que miram nossos consumidores, mas podem conquistá-los,
neste mundo globalizado, com produtos fabricados em qualquer lugar do Planeta.
O capital para ampliar e erguer novas fábricas e empresas da área de serviços
somente ficará e virá para o Brasil se tivermos alta produtividade em todo o
sistema econômico.
Sem essas três
mudanças culturais, continuaremos por muito tempo a ser uma economia de renda
média e dificilmente alcançaremos os padrões das nações desenvolvidas.
Seguiremos com baixo crescimento do PIB, discutindo medidas pontuais para a
correção de rumos e priorizando as urgências, em detrimento das estratégias.
Enquanto isso, assistimos a numerosas outras nações, com potencial muito menor
do que o nosso, decolarem para um futuro de prosperidade!
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