domingo, 9 de agosto de 2009

O CD quebrado...

Certa manhã, encontrei um CD quebrado ao meio, jogado à rua. Disseram que fora jogado daquela casa, aquela ali, a casa das meninas da difícil vida fácil. Contaram que uma delas rompeu um relacionamento com um homem casado e que, cansada de ouvir aquela coletânea de sertanejas melodiosas, resolvera dar término oficialmente aquele amor impossível. Simbolizara com a quebra do símbolo mais romântico, a música, o tema musical daquele relacionamento.
Houve um tempo, sim em que as meninas se apaixonavam pelos seus amantes. Isto é, não era somente pelo dinheiro. A maioria sabia do papel que exerciam na sociedade e seus homens dificilmente deixariam suas esposas e filhos. Então, restava o sonho, uma espécie de refúgio embalado pelas românticas músicas, de cantores e cantoras de vozes possantes e ritmadas. Romper com a música significava romper com a última esperança, significava o desencanto e, agora, nada mais restaria.
Sempre achei que se o homem fosse ao espaço e desejasse levar uma mensagem mostrando o que de melhor havia no planeta Terra, ele deveria levar a imagem de uma criança e música. Não temos nada de melhor.
Quando eu me entristeço, e há muitos motivos para um adolescente se entristecer, costumava trancar-me no meu quarto e ficava imaginando minha infância, crianças brincando, correndo nos balançinhos, jogando bola. Seus sorrisos são indicativos que o mundo poderia ser bem melhor. Então, revigorado e, ao mesmo tempo, pesaroso por ter brincado tão pouco com meus amigos, retornava à rotina. Crianças e músicas.
Quebrar um CD, romper uma trilha sonora significa o adeus. Nós sempre temos uma música para marcar nossos melhores momentos. Numa festinha de formatura da Faculdade de Direito, de um amigo, ouvi muitos homens e suas esposas ligadas em algumas música que certamente marcaram suas vidas. Um implorou: não toca Cat Stevens porque primeiro eu vou me matar e depois me separar. Tocaram Cat Stevens (Morning has broken) e encarávamos sordidamente o colega que segurando uma taça de vinho, vociferava a expressão, fdp. Tem gente que não dá a mínima para as músicas. Tem gente que nunca ouviu Cat Stevens. A propósito, você lembra da trilha sonora que embalou o teu casamento? Não? Que pena, tua mulher nunca esqueceu.



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