Quem ainda não teve
a oportunidade de ler a série de reportagens que publicamos, sobre a escravidão
dos homens ao relógio, trabalho construído pelo repórter Diego Queijo, deveria
dedicar alguns minutos à leitura e à reflexão dessa questão que afeta a todos.
Crianças, jovens e adultos têm hoje suas vidas controladas pelo tempo. Não mais
por hábitos saudáveis e importantes em cada fase da vida, como brincar, ouvir
música, namorar, estudar, trabalhar em algo que a gente goste. Mas por rotinas
preestabelecidas desde o momento em que se passa a caminhar e a falar.
Uma criança, hoje,
a partir dos cinco anos de idade, até menos, já tem sua semana ocupada a pleno.
Vive um turno do dia na escola e outro em atividades determinadas pelos pais,
como aprender línguas estrangeiras ou praticar esportes. E qualquer tempinho
livre já é motivo para ganhar nova tarefa - não raro, uma repreensão verbal por
estar parada. Ela não consegue descansar e cultivar atos de crianças, como dar
asas à imaginação, livre da agenda imposta pelos mais velhos.
No caso dos
adultos, a situação é muito pior. Passou-se a viver para o trabalho e o resto
deixou de ser importante. Não interessa se é dia, noite ou madrugada, homens e
mulheres não relaxam, nunca. Só param mesmo quando o corpo desaba e dá o
primeiro sinal de que algo está errado. Levanta-se da cama pensando na tarefa
para executar à tarde. Corre-se para adiantar todas as coisas. Sofre-se por
antecipação, sem ao menos cogitar se era preciso tanto.
A escravidão do
relógio é a marca deste século. Quem pensa em descansar um pouco, dedicar alguns
minutos ao ócio, sofre bullying da vida. É apontado como malandro, preguiçoso,
pouco dedicado ao trabalho. É quase forçado pelas circunstâncias a retornar à
esteira, sempre acelerada para tudo.
Não é de graça que
muitas doenças ganharam o rótulo de modernas. O estresse é uma delas. As
doenças do coração também não param de aumentar. E no fundo, qual a origem de
cada uma?
Uma vida que dá
pouco valor a hábitos mais saudáveis, mais lentos. E desse jeito o tempo voa
para todos. Tem-se a sensação de que tudo ao redor passa muito rápido. Mas o
tempo é sempre o mesmo. Quem o acelera são os homens.
É hora de encontrar
um momento para refletir sobre o que é, de fato, importante à vida: não vivê-la
ou aproveitá-la melhor. Quem por exemplo, após uma semana de céu cinzento e
chuva diária no Rio Grande do Sul, saiu para a rua na última quarta-feira e
caminhou, por cinco minutos apenas, com o sol batendo no rosto. Um ato simples,
ao alcance de qualquer um, indescritível.
Quem não aproveitou
deve ter alegado falta de tempo.
DP.
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