“Brasileiros, é hora de reformas de estrutura, de
métodos, de estilo de trabalho e objetivo, portanto uma reforma geral”. Sim, houve
um tempo em que tínhamos um Presidente convicto de que o Brasil necessitava
quebrar paradigmas para avançar. E ousou deixar o plano da teoria para
ingressar na prática efetiva. Tal frase foi proferida no maior comício público
de nossa história, no dia treze de março de 1964, por João Belchior Marques
Goulart. O resultado já se conhece. No dia primeiro de abril do mesmo ano, dia
da mentira, um golpe civil-militar condenou nosso país a vinte e um anos de
ditadura, com supressão das liberdades políticas individuais e coletivas,
perseguições, torturas, exílios e assassinatos. Para o Presidente Jango, o
preço foi a morte na solidão do exílio.
Todos os dias essa história é escrita e reescrita
de várias formas, de acordo com diferentes versões. De outra sorte, é comum
ouvir o provérbio “todos os fatos têm três versões: a sua, a minha e a
verdadeira”. A verdade sobre a derrocada inconstitucional do Presidente Jango e
suas consequências está retratada de forma fidedigna no excelente documentário
“O dia que durou 21 anos”, dirigido por Camilo Tavares e produzido por seu pai,
Flávio Tavares. Próximos à data do cinquentenário deste triste capítulo que nos
envergonha e mancha com sangue as páginas da nação brasileira, a ninguém mais
cabe desconhecer a verdade da influência do governo dos Estados Unidos no Golpe
de Estado no Brasil. Várias gerações precisam saber que a CIA e a própria Casa
Branca, lideradas pelos Presidentes Americanos Kennedy e Johnson, se
organizaram para derrubar Jango e subverter a ordem interna no Brasil, apoiando
um regime de exceção que estagnou nossa Ordem e Progresso.
A verdade assusta os opressores que apoiaram uma
ditadura implantada contra o povo brasileiro. Assusta os pseudo-democratas que
insistem em manter seus privilégios fingindo serem cegos, surdos e mudos
perante o contexto social. São os mesmos que se submetiam caladamente às
prepotências da ditadura que cultuam. Estes sim têm medo da verdade que teima
em se impor hoje mostrando quem é quem. Filmes como “O dia que durou 21 anos”
mostram uma realidade que muitos não querem ver.
Fala-se por aí que o Governo de Jango era
“subversivo” e que implantaria uma república sindicalista ou até mesmo
comunista no Brasil. Que Jango era “fraco” ou que não tinha pulso para reagir
ao golpe. Muitos destes que falam, inclusive, são saudosistas do famigerado Ato
Institucional nº 5, que mergulhou o país no período mais sombrio da história da
República.
Verdade seja dita, cinquenta anos é tempo
suficiente para percebermos que a “subversão” do Presidente Jango consistia na
vontade de realizar profundas reformas estruturais e institucionais no Estado
brasileiro, que até hoje não aconteceram; que sua “omissão” de reação ao golpe
de Estado foi um ato humanitário que evitou uma guerra civil; que jamais
existiu na nossa história um “fraco” com tanta coragem para enfrentar o
imperialismo americano, com o claro objetivo de consolidar um país mais justo
para todos os brasileiros.
Que venham os filmes. Cada um conte a sua história,
cientes de que a verdade é inconvertível.
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