Queremos que a rede de telefone
celular seja ampliada e o sinal melhore. Mas rejeitamos que novas antenas sejam
instaladas, quanto mais em nossa vizinhança. Queremos que presídios sejam
construídos para deter a criminalidade. Mas rejeitamos que nossa própria cidade
abrigue uma casa prisional, quanto mais nosso bairro. Queremos menos acidentes
de trânsito. Mas rejeitamos a ideia de fazer bafômetro ou parar numa blitz,
quanto mais se estivermos atrasados.
Queremos que os
congestionamentos diminuam. Mas rejeitamos as implicações que qualquer obra
viária causa, quanto mais no caminho que percorremos. A burocracia e os
protestos são obstáculo corriqueiro para abrir novas ruas e avenidas. Queremos
políticos mais qualificados e probos. Mas rejeitamos uma análise mais atenta
dos candidatos durante a eleição, quanto mais se qualquer conhecido estiver na
lista. Poucos lembram em quem votaram, quanto menos acompanham os eleitos.
Esses tipos de contradições
sociais ficam mais evidentes em tempos de crescimento e abertura de
possibilidades - como ocorre no Brasil. O avanço econômico amplia o leque de
direitos da população, o que é justo e necessário. Porém, ao mesmo tempo,
revela a oportunidade para uma introspecção - social e individual - sobre a
própria postura na reciprocidade da vida comunitária.
É de cultura civilizatória que
estamos falando. Conforme aumenta a coluna dos direitos, necessariamente
precisa crescer a das obrigações. E esse equilíbrio nem sempre é digerido com
facilidade pelo homem moderno. Nosso juízo político médio foi formado na lógica
dos deveres de outrem para conosco - como se esse caminho só tivesse uma via.
Na hora de reivindicar,
conjugamos verbos na primeira pessoa: o “eu” de mim mesmo e o “nós” da
corporação ou do pequeno grupo de interesse ao qual pertencemos. Já na hora de
conceder, compreender ou cumprir, a conjugação migra para o “tu” e o “ele”,
seja do Estado ou dos demais indivíduos e organizações que nos cercam.
Claro que a lista de débitos
estatais é imensa, até pela enorme carga tributária que pagamos. Claro que a
classe política está longe de alcançar a aspiração da nação. A população deve
exigir mais, muito mais. Porém, isso é dito e repetido cotidianamente.
O que proponho, então, é a
abertura pra uma reflexão sobre pequenas atitudes cotidianas. São aqueles
gestos e práticas que, nem se tivermos um poder público absolutamente eficaz,
deixarão de estar vinculados a cada cidadão. Falo do respeito e da
responsabilidade - nossa para com os outros - que dependem de uma adesão ao
verdadeiro sentido de viver em comunidade.
Nesse aspecto, temos bastante a
aprender com a estrutura cultural e até mesmo jurídica de diversos países
orientais - como é o caso do Japão. A lógica constitucional daquela nação é
firmada na prioridade dos interesses coletivos perante os individuais. Tem foco
no resultado muito mais do que no processo. Não é por nada que, depois de um
tsunami devastador em 2011, os japoneses levaram apenas alguns meses para
recolocar tudo no lugar. Desnecessário imaginar quanto isso demoraria em nosso
querido país…
Precisamos absorver a lógica da
coletividade em substituição ao individualismo egoísta. Cultivar o bem comum ao
invés do bem de uns. Não para apagar o indivíduo em sua identidade, mas para
torná-lo mais completo como parte de um planeta mais equilibrado, compreensivo,
tolerante e colaborativo. O Brasil progride em muitas direções, mas também
precisa avançar na cultura cidadã. Entre querenças e rejeições, convém fazer
uma autocrítica sobre o que depende de cada um de nós.
Por: Beto Albuquerque.
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passofundense e Deputado Federal Beto Albuquerque.
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