Quem
paga pela nossa burocracia?
Nesta
terra em que se plantando tudo dá, perdemos o tempo da colheita em meio às
exigências torpes de alvarás, carimbos e autorizações. Ocupando o singelo 116º
lugar no ranking do Banco Mundial, que avalia a facilidade de fazer negócios em
189 países, o brasileiro é sufocado até pela dificuldade de provar que é ele
mesmo. Precisa autenticar sua própria assinatura em várias vias.
O drama
da burocracia é mais uma herança da colonização portuguesa, que trouxe seus
registros e princípios administrativos para legitimar a doação de bens da
Coroa. Este legado, que já deveria ter sido superado, ainda atrasa a vida dos
cidadãos desde as suas atividades mais simples até o momento em que ele decide
empreender. Demoramos para alugar um apartamento, para casar, demitir ou ser
demitido. A lista de exigências confunde os próprios burocratas.
Aqui, sou
obrigada a dividir com você leitor uma experiência pessoal. Sou jornalista
freelancer e preciso emitir notas fiscais para os meus clientes. Para isso, fiz
uma inscrição como Microempreendedora Individual (MEI). Feita a inscrição no
site, precisei preencher formulários e agendar um horário nos Correios para
criar um Certificado Digital, que me permite andar dentro das rédeas da lei.
Entretanto, na hora de criar o cadastro eu usei um endereço errado. Confusão
que corrigi no próprio site.
O
endereço certo foi atualizado no sistema do MEI, da Prefeitura de São Paulo e
no Ministério da Fazenda. Porém, no cadastro da Junta Comercial (JUCESP), o
endereço permaneceu o antigo. Nos Correios fui informada que essa
incompatibilidade de endereços me impedia de dar entrada na Certificação e que
eu deveria ir na própria Junta Comercial para fazer as devidas alterações. Fui
em duas unidades da Jucesp em São Paulo para ouvir a mesma resposta: a Jucesp
não faz alterações em cadastros da...Jucesp!
Ainda
ouvi de um dos funcionários que aquele cadastro não tinha importância. Talvez
seja uma verdade, mas é esse cadastro que me impede de atuar dentro da lei.
Após a frustração na Jucesp, segui o conselho de um escritório que facilita a
documentações de ir até o Sebrae. Lá, o funcionário também me disse não poder
alterar o tal endereço, mas prometeu me ajudar a resolver a questão. Ainda
aguardo resposta.
A questão
é que cada minuto jogado fora em filas e órgãos burocráticos, significa um
tempo de produção que não terei de volta. Significa também que o meu
contratante está perdendo dinheiro. Se a burocracia existe para evitar a
corrupção e as fraudes, temos no Brasil a prova de sua ineficiência. Em vez de
adotar mecanismos inteligentes e a própria tecnologia para trazer eficiência
aos organismos públicos, acompanhamos a perpetuação de um sistema fedido a
mofo. Enquanto aqueles que fraudam estão mais espertos, a legalidade segue
arcaica, os cartórios cada vez mais ricos e quem se prejudica somos nós.
Além dos
entraves processuais, existe ainda uma espécie de burocracia ainda mais
perversa, que é tributária. São mais de três mil normas e 80 tributos. Apenas o
ICMS conta com 27 legislações distintas que devem ser incorporadas pelos
empresários. Tamanha complexidade demanda tempo para a organização da própria
classe produtora. Se eu gastei dois dias para tentar conseguir uma certificação
digital, uma empresa gasta em média 2.600 horas apenas para contabilizar e
pagar impostos.
E se
muitos acreditam que as tentativas de simplificação nunca passam da retórica
para a prática, o Movimento Brasil Eficiente tem um projeto que visa unificar
esses tributos, tornando o sistema mais inteligente. Se não queremos viver em
um país onde é mais fácil ser desonesto, precisamos apoiar este tipo de
projeto, assinando e compartilhando a petição de apoio no site Brasil
Eficiente.
Também
promovendo a desburocratização como pauta essencial para criarmos um ambiente
favorável aos negócios. É hora de dizer adeus às filas burocráticas e olá ao
Brasil moderno.
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