Aqueles que não
reconhecerem as mudanças em processamento no país - e que são muitas! - por
certo julgarão o presente pelo passado
O
mundo está in fieri. Há
uma mudança nas relações de poder entre estados e também um deslocamento do
poder dos estados para atores não estatais. Isto é: falo de um duplo fenômeno
de deslocamento e de difusão do poder. Mas a mudança que atinge o globo
terráqueo e o Brasil, em particular, é para melhor ou para pior? Bem, isso depende
do ângulo de observação e da proposta filosófica de cada um. Todavia, de um ou
de outro modo, todos nós, brasileiros, temos essa sensação no Brasil de hoje.
Talvez, por isso, o vocábulo da moda seja "emergência".
A
sensação de mudança não é em si mesma uma novidade. Países mudam e o Brasil,
faz bastante tempo, sofre mudanças. A novidade, estou seguro, origina-se da
percepção de que estamos vivendo um período de ruptura e de transformação, no
qual a mudança ocorre em ritmo tão intenso que configura a emergência de alguma
coisa nova que não se sabe bem o que é. Mais: que não repete o que existia
antes. Não é assim? Por isso, é inegável que o Brasil trilha novos caminhos. A
sociedade brasileira, sabe-se, sempre foi marcada por intensa mobilidade
social. E essa mobilidade social acompanhou os processos de integração
nacional, crescimento urbano e industrial ocorridos no transcurso do século
passado.
O
Brasil, como disse, está in fieri.
E a mudança atual não repete o que existia antes. O país trilha novos caminhos.
E essa sensação de estar vivendo algo novo, como afirmei, traz consigo uma
sensação de insegurança. Percebemos que alguma coisa está sucedendo. As coisas
estão in fieri. Mas que
mudança é essa? Para onde estamos indo?
Diariamente,
a mídia nos fala de coisas novas. Fala-se, por exemplo, da emergência de uma
nova classe média. Em verdade, as classes médias brasileiras são muitas. De
outra feita, as profissões do futuro estão sendo inventadas hoje. E, muitas
delas, não são produtos dos bancos universitários, mas sim de novos modos de
fazer, de trabalhar, de aglutinar competências. É isso que ocorre. E é,
justamente, esse complexo de dinâmicas e oportunidades antes não existente, que
gera a sensação de que estamos avançando, embora não se saiba muito bem para
onde vamos.
No passado, cabe dizer, também avançamos, mas
tínhamos um norte, sabíamos para onde queríamos seguir e estávamos seguindo. No
passado, reitero, o caminho do progresso era repetir o que dera certo lá fora.
Por isso, a economia brasileira cresceu - não há dúvida! - mas a sociedade não
mudou. Ela apenas estufou: migração favelização, colapso dos serviços públicos
etc.
Hoje,
caro amigo, não é mais assim. Em razão da globalização, não se consegue fechar
nada, absolutamente nada, nem a economia. Nos dias atuais, ninguém propõe a
generalização do acesso à antiga sociedade. Mais: a interrogação sobre a
sociedade é mais desafiadora do que a questão do mercado. Os temas em debate
são outros. Hoje, as grandes interrogações dizem respeito à sociedade. O que
está sucedendo na sociedade? Como as pessoas - os brasileiros, no caso - vão
reagir diante das novidades que afetam diretamente sua vida?
É a emergência do novo que move a sociedade.
Não estamos mais a repetir o passado nem a seguir modelos de fora. Algo
original está sendo gerado. As formas de socialização estão mudando. O
importante agora é compartilhar. Comunidades virtuais coexistem com o mundo
real.
A
sociedade emergente é estranha. Complexa. Ela causa espécie. Mas aqueles que
não reconhecerem as mudanças em processamento no país - e que são muitas! - por
certo julgarão o presente pelo passado. E julgar o presente pelo passado, caro
leitor, é condenar o presente. Toda a mudança, face ao desconhecimento de seus
efeitos, é geradora de medo. E o medo nada mais é do que uma reação natural do
ser humano diante do desconhecido.
A
simples visão de que nada muda quando não há revolução é conservadora.
Patética. Os nostálgicos do passado - encastelados na sua nostalgia do ontem! -
serão incapazes de compreender o presente. Mais: calarão sobre o futuro. Não
têm o que dizer. Ficam sem saber o que é bom e o que é ruim.
A
sociedade contemporânea não ferve o tempo todo. Não é assim. Ela aquece. Ferve.
Esfria. Mas o debate aparece adiante. Com seus altos e baixos, idas e vindas de
temas, o ato de debater é contínuo. E, por veredas imprevistas, o debate
converge para ações coletivas.
Não
vivemos, na terra revelada por Cabral e abençoada por frei Henrique de Coimbra,
um momento em que se tenha recibo. Um momento em que se tenha resposta. Mas,
por certo, as respostas de hoje não serão as respostas do passado. As respostas
do futuro, leitor amigo, estão sendo inventadas: aqui e agora.
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Há muito o que fazer para mudar esse país , mas creio que estamo rumando para isso, ou não?!
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