O caráter revolucionário da moda através de seu papel em
mudanças sociais auxiliou na quebra de paradigmas e desafia constantemente
tabus da sociedade. Podemos citar o movimento de libertação sexual das mulheres
e o direito à vaidade masculina, amplamente divulgado sob o conceito de
"metrossexual". Agora, a moda reacende o debate sobre a questão de
gênero.
O termo gender-bender, além-gênero, em tradução livre, é
utilizado para denominar pessoas transgêneras. De forma geral, é utilizado para
designar o movimento de neutralização de gênero, uma transposição das barreiras
sociais que envolvem os gêneros masculino e feminino.
Há muito tempo homens e mulheres usam peças que antes só eram
permitidas aos seus opostos, como por exemplo, calças, camisas e saias. A diferença
do momento atual é o desejo da criação de um estilo unissex, com peças usáveis
e que despertem o desejo em ambos os gêneros.
As fronteiras entre o masculino e o feminino foram ultrapassadas
com a ajuda dos mundos da música, cultura pop e arte. A força que o movimento
ganha é atribuída por consultores de tendências ao transculturalismo, fenômeno
que salienta a fluidez das fronteiras culturais.
Na cultura de consumo contemporânea a mobilidade social está
sendo redesenhada em escala global, passando por novos valores e ocupações para
espaços públicos ou ainda pela constituição de novos modelos de família.
Os sinais da força e impacto deste movimento nos rodeiam.
Recordando acontecimentos recentes, temos a Amazon, vencedora de dois Globos de
Ouro com a série Transparent, e Caitlyn Jenner com a conta que chega mais
rápido a um milhão de seguidores na história do Twitter. Ciente da diversidade,
o Facebook expandiu sua escolha binária para 58 opções de gênero, mais tarde
aperfeiçoada para um modelo customizado onde cada indivíduo informa a definição
que mais lhe agrada. Nas passarelas o tema está em discussão há cerca de cinco
anos, algumas marcas deram o pontapé inicial e lançaram coleções que não
possuem gênero definido. O gender-bender aparece tanto nas criações quanto na
escolha de modelos transgêneros para os desfiles, como Lea T. E Andrej Pejic.
Entre as marcas que apostaram aparecem os mais variados estilos e conceitos,
vistos em coleções da Prada, Gucci, Burberry, Gareth Pugh e Rick Owens,
alcançando também o universo da alta costura, na passarela de Jean Paul
Gaultier.
Novas propostas e mudanças de comportamento levam um tempo maior
para serem incorporadas pelo varejo. Internacionalmente temos exemplos
bem-sucedidos, como o da multimarcas inglesa Selfridges, que lançou uma
estratégia inédita denominada Agender. O projeto foi uma experiência de compras
sem manequins com gênero definido e a ausência das seções masculinas e
femininas, um desafio para quebrar parâmetros e a visão enraizada de moda. No
Brasil temos coleções com esta provocação em marcas como Ausländer e Alexandre
Herchcovitch; em Pelotas, criadores apostam na mesma linha, como o caso do
designer Maurício Guidotti.
O rompimento com a definição de gênero não é um fenômeno
passageiro, ganha força a cada dia com novos cenários unidos pelo poder
engajador das redes socais. A moda neste contexto é agente de inclusão e
promoção da diversidade, capaz de difundir ideias e atuar como mídia
fundamental para inclusão de novos estilos de vida.
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