Algumas críticas ideológicas ao jornalismo, amargas
e corrosivas, têm a garra do pessimismo amargo e do sectarismo ressentido.
Irritam-se, alguns, com o vigor do jornalismo de denúncia e vislumbram
interesses espúrios ou engajamentos partidários. Uma retrospectiva honesta,
contudo, evidencia que os jornais nunca tiveram uma relação amorosa com
governos, independentemente do colorido ideológico dos poderosos de turno. E é
assim que deve ser.
As
relações entre jornalismo e poder devem ser pautadas por certa tensão. O
estranhamento civilizado é bom para a sociedade e essencial para a democracia.
O jornalismo brasileiro, não obstante suas
deficiências, tem desempenhado papel relevante. Ao lancetar os tumores da
corrupção, por exemplo, cumpre um dever ético intransferível. A mídia, num país
dominado por esquemas cartoriais e assustadora delinquência pública, assume
significativa parcela de responsabilidade.
O Brasil, graças à varredura dos jornais,
está mudando. Para melhor. A cultura da impunidade, responsável pela rotina do
acobertamento e dos panos quentes, está, aos poucos, sendo substituída pelo
exercício da cidadania responsável.
Os pessimistas, no entanto, querem que as
coisas mudem pela ação dos outros. Esquecem que a democracia não é compatível
com a omissão rançosa. As críticas à imprensa, necessárias e pertinentes, são
sempre bem-vindas. Espera-se, no entanto, que sejam construtivas e
equilibradas.
Ouvi, recentemente, uma dessas críticas
certeiras num seminário de mídia. Os jornais, dizia meu interlocutor, estão
cada vez mais parecidos e sem graça. Concordo, embora parcialmente.
A "mcdonaldização" dos jornais é
um risco que convém evitar.
A
crescente exploração do entretenimento e da superficialidade informativa em
prejuízo da informação de qualidade tem frustrado inúmeros consumidores de
jornais. O público-alvo dos jornais não se satisfaz com o hambúrguer
jornalístico. Trata-se de uma fatia qualificada do mercado. Quer informação
aprofundada, analítica, precisa e confiável.
É preciso investir na leveza formal e no
fascinante mundo digital. Sem dúvida. O investimento em didatismo, clareza,
pautas próprias e agenda positiva é, entre outras, uma das alavancas do
crescimento. Mas nada disso, nada mesmo, supera a qualidade do conteúdo.
É aí que se trava a verdadeira batalha. Só
um produto consistente tem a marca da permanência. O The New York Times sabe
disso como nenhum outro: "produzir jornalismo de qualidade e matérias
sérias de maneira mais atraente". Qualidade e bom humor. É isso.
Outro detalhe: os jornalistas precisam
escrever para os leitores. É preciso superar a mentalidade de gueto, que
transforma o jornalismo num exercício de arrogância.
Cadernos culturais e econômicos,
frequentemente, dialogam consigo mesmos. O leitor é considerado um estorvo ou
um chato. É preciso escrever com simplicidade e explicar os fatos.
O jornal precisa moldar o seu conceito de
informação, ajustando-o às necessidades do público a que se dirige. Outro
detalhe importante, sobretudo em épocas de envelhecimento demográfico: a
tipologia empregada pelos jornais tem de levar em conta os problemas visuais
dos seus consumidores. Falando claramente: os jornais precisam trabalhar com
letras grandes.
Apostar em boas pautas (não muitas, mas
relevantes) é outra saída. É melhor cobrir magnificamente alguns temas do que
atirar em todas as direções. O leitor pede, em todas as pesquisas, reportagem.
Quando jornalistas, entrincheirados e
hipnotizados pelas telas dos computadores, não saem à luta, as redações se
convertem em centros de informação pasteurizada. O lugar do repórter é a rua,
garimpando a informação, prestando serviço ao leitor e contando boas histórias.
Elas existem. Estão em cada esquina das nossas cidades. É só procurar.
O jornalismo moderno, mais do que qualquer
outra atividade humana, reclama rigor, curiosidade, ética e paixão. É isso que
faz a diferença.
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