A polêmica das máquinas caça-níqueis

A intensa discussão em torno das máquinas caça-níqueis, principalmente na última semana, quando reportagens a respeito do uso desses equipamentos no Rio Grande do Sul ganharam destaque, atiçou minha curiosidade. O que me causou estranheza foram algumas colocações do tipo: as máquinas são reguladas para que o apostador sempre perca. Ai eu pergunto: mas que jogo não é assim? Alguma modalidade de jogo favorece o apostador? Nenhuma.
O próprio fabricante das máquinas disse que elas saem com a regulagem de 50%. Ou seja, retém metade do valor das apostas. Nesse caso as chances de ganhar numa máquina caça-níqueis é de 50%. Uma chance proporcionalmente muito maior do que em qualquer loteria oficial. Já as chances de acertar os seis números da Mega-sena, por exemplo, são de uma em 50 milhões. E mesmo assim há pessoas que jogam em todos os concursos das loterias oficiais, e algumas irão jogar durante toda a vida e nunca terão seus números sorteados. Duas apostas de R$ 1,50 por semana, ao longo de alguns anos, somam pequenas fortunas, sem qualquer retorno na maioria dos casos.
Todo jogo é injusto com quem aposta. Até mesmo nos esportes mais populares é assim. Ou seja, 20 times investem alto para disputar o Campeonato Brasileiro, mas somente um será campeão. E é assim nas modalidades olímpicas também, e até no baralho que as crianças jogam com os avós. A vitória é para a minoria, e sempre que você entrar numa disputa deve saber que as chances de fazer parte da turma que não vai ter sucesso são imensamente maiores do que a de se sagrar vencedor.
Nos cassinos americanos a lei requer que os percentuais de pagamento dos caça-níqueis sejam acima de determinado nível – geralmente 70%. O percentual de pagamento na maioria das máquinas de cassinos é muito maior que o mínimo - geralmente entre 90 e 97%. Os cassinos não querem suas máquinas mais controladas do que as dos concorrentes, pois os jogadores irão apostar onde têm mais chances de ganhar. Isso ocorre porque lá o jogo é regularizado.
Então penso que se realmente o apostador nunca ganhe numa dessas máquinas caça-níqueis ninguém mais estaria insistindo em colocar moedas nelas. Pois o que mantém um jogador inveterado apostando é a possibilidade de recuperar o que já perdeu apostando.
Acredito que mais fácil do que tentar conter a utilização dessas máquinas ilegalmente seria legalizar esse tipo de aposta. Dessa forma seria possível aumentar a porcentagem de dinheiro devolvida como prêmio, facilitando a vida do apostador. Além do governo não gastar dinheiro público nessas operações para desmantelar quadrilhas, poderia direcionar as equipes de investigações em atividades que garantam mais segurança efetiva para a população, sem contar que estaria arrecadando impostos com a atividade. O que hoje gera despesa, poderia se tornar fonte de receita. E esses recursos quem sabe poderiam ser usados para substituir a CPMF.
Para quem mantém uma máquina dessas o lucro é garantido, mesmo com porcentagem pequena de retenção de apostas, pois nem mesmo na mais generosa possibilidade 100% das moedas serão devolvidas como prêmio.
Caça-níqueis distribuídos naturalmente e de forma legalizada poderiam incentivar o vício do jogo? Claro que isso iria acontecer. Mas será que é melhor manter os escassos agentes da polícia investigando onde essas máquinas são fabricadas e mantidas em funcionamento, que são abastecidas por uma multidão de pessoas ávidas em jogar? Se a proibição eliminasse o vício das pessoas o problema já estaria resolvido.

Qual a sua opinião sobre esse assunto? liberar o jogo ou não?