A questão do tempo é intrigante. Me espanta que o ser humano o tenha criado e depois tenha se tornado escravo dele. Gostei duma definição sobre o assunto: "O tempo é o ponto de vista dos relógios". Tem gente que parece viver em marcha lenta, mas essa sensação de urgência, de nunca se conter com o já realizado, parece fazer parte da natureza do ser humano.
Nossas vidas são uma eterna busca insatisfeita de propósitos, especialmente hoje em dia, quando os valores estão totalmente voltados para o ter. Buscamos possuir bens de consumo numa escala progressiva em relação a seus valores. Começamos quando crianças, sonhando em ter uma bicicleta e, quando a temos, e crescemos um pouco, passamos a querer uma moto, um carro, um iate, um avião e talvez uma nave espacial, para alçar vôos mais altos.
Tenho a sensação que sentiríamos menos sofrimento e inquietações se conseguíssemos o equilíbrio para racionalizar o grau de importância que esses bens de consumo representam em nossas vidas. Então surge o inevitável questionamento: Porque trabalhamos? Usamos tudo que possuímos? Olhando nossa casa, nosso guarda-roupas, será que realmente utilizamos tudo que compramos? Necessitamos do que compramos ou adquirimos apenas para satisfação do ego? Experimente quando se encontrar numa situação de compra eminente, fazer um questionamento: Preciso realmente disto ou posso viver sem? Talvez você descubra que boa parte do que adquire é desnecessário. E na luta do "ter" em detrimento do "ser" acabamos por não valorizar o tempo tão precioso. Acabamos desperdiçando-o na busca de subsídios para ter.
É claro que existem algumas ocasiões peculiares quando sinto que o tempo está passando depressa. Revendo algumas fotografias, me pego emocionado com algumas passagens da minha vida. E revivendo essas passagens, constato realmente que o tempo está voando. Me sinto num presente que não me permite mais ser quem eu fui, ou ainda pior, não me permite vivenciar emoções ocorridas no passado, da mesma maneira. Como um sopro de vento que não se repete.
Em contrapartida, sinto que ainda tenho muito tempo para realizar muita coisa. Não me sinto observando o tempo passar pela janela, a não ser é claro, quando recordo o passado como fiz à pouco. Mas também não me sinto num avião supersônico vivendo todos os momentos, como se fosse morrer amanhã. Essas duas situações se alternam de maneira sutil, e me permitem sentir que vivencio isso tudo como acho que se deve: com a comprovada aceitação de que estou sim ficando velho, mas não com tempo desperdiçado. E essa aceitação não me faz sentir desânimo ou qualquer sentimento negativo, ao contrário disso, me tranqüiliza. É como se o físico não acompanhasse o intelecto, como se a mente inconsciente se recusasse a acompanhar o envelhecimento do corpo e me pregasse peças. É engraçado isso. Uma mente mais jovem que o corpo. Sim, os sinais já começam a aparecer. Então já me pego a questionar o passado como se fosse a maior parte da minha vida e quando isso acontece tomo um susto. Em outros momentos me pego a vislumbrar as possibilidades do meu futuro, os meus possíveis projetos e me assusto do mesmo jeito.
Às vezes o tempo parece estar passando tão rápido, que não vamos ter tempo para tudo o que esperamos do futuro, o que nos obriga a ser extremamente seletivos e procurar fazer no presente o que realmente é prioritário. Mas o que é realmente prioritário no presente? Será que são coisas universais? Ou o que é prioritário é único pra mim, pois diz respeito aos meus sonhos, e pra você por dizer respeito aos seus?
Prefiro esquecer os valores universais. Eles são apenas referências. O que vale somos nós, é como nós os interpretamos e os vivemos. Creio que o ser humano já evoluiu o bastante para acreditar no coletivo sim, mas não esquecendo que nossos objetivos, nossos sonhos, são como molas propulsoras que nos fazem viver efetivamente. Aqueles que não sonham ou não tentam realizar seus sonhos, vivem pela metade. E viver pela metade é não viver, por conseguinte, é desperdiçar o tão precioso tempo.
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