quinta-feira, 28 de julho de 2011

Endividamento familiar e cultura de poupança



Diversos indicadores estão apontando que o endividamento do brasileiro alcançou um nível recorde. Trata-se de uma constatação que não pode figurar como pauta secundária no Brasil, principalmente, quando se projeta nova crise internacional num horizonte não tão distante. Se tais condições se confirmarem, é provável que as consequências cheguem novamente ao País – uma vez que, na economia globalizada, não há ilhas de isolamento.


Pois bem: a dívida total das famílias no cartão de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, crédito para compra de veículos e imóveis, incluindo recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), já corresponde a 40% da massa anual de rendimentos do trabalho e dos benefícios pagos pela Previdência Social.


Vejamos esse dado por outro raciocínio: se os bancos e as financeiras decidissem cobrar a dívida total das pessoas físicas (juros e o empréstimo principal), totalizaria R$ 653 bilhões em abril. Isto é: cada brasileiro teria de pagar o equivalente a 4,8 meses de rendimento para zerar as pendências. Apesar dos ganhos de renda registrados nesse período, as dívidas abocanharam uma parcela maior dos rendimentos da população.


Essa situação, paradoxalmente, decorre de um dado positivo em si mesmo: mais acesso ao crédito. Porém, como se vê, existe um grande risco embutido aí: em vez de economizar para depois comprar, boa parte das pessoas está comprando através da contração de dívidas. Se isso é feito com prudência e organização, não há qualquer problema. Ocorre que, não raras vezes, o grau de endividamento alcança um patamar insustentável no cotidiano de muitas famílias.


Ficam evidentes, nesse contexto, pelo menos dois problemas de ordem cultural: a falta de uma cultura de poupança e o consumismo desmedido. Se houver agravamento desse quadro, ainda mais com a incidência de uma nova crise internacional, há possibilidade de um forte desaquecimento da economia e do aumento da inadimplência. As famigeradas “bolhas” ficariam visíveis e com chances cada vez maiores de explodir.


O Brasil deve cuidar bem de seu mercado consumidor familiar. Isso não significa obstaculizar o acesso das pessoas aos bens de consumo, mas monitorar de perto o crescimento da dívida privada. É preciso criar consciência sobre a necessidade de poupança, inclusive com crianças e jovens em idade escolar. Algumas nações da Europa, perto da bancarrota, agora começaram a incentivar ações nesse sentido. Não deixemos chegar tão longe. Já é tempo de nosso País preparar as próximas gerações para uma nova postura de responsabilidade financeira individual.


Por Germano Rigotto. (um dos piores) Ex-governador do Rio Grande do Sul e presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários.

Se é assim como ele fala, por que não agiu quando foi governador do Estado do RS? Mas se desejar comentar, fique a vontade.

Um comentário:

  1. Eu, por exemplo, acabei de refinanciar minha dívida de cheque especial e cartão de crédito no Bradesco. Crédito de mais, sem saber usar faz mal...

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