sábado, 23 de julho de 2011

As prisões da Infância de todo ser humano



Das cinco classes de grandes primatas, duas delas desenvolveram intensos sistemas de controle sobre a infância, através de estratégias evolutivas absolutamente opostas (ainda que, diga-se de passagem, apenas uma delas chame a infância com esse nome ou qualquer outro). Lembremos, invisíveis, que as cinco classes de grandes primatas, todos geneticamente muito semelhantes, são: Chimpanzés, Orangotangos, Gorilas, Bonobos e “Humanos”.

De fato, no que diz respeito a cuidar dos filhotes, todos temos em comum a necessidade de mantê-los dependentes dos adultos por mais tempo que a maioria dos mamíferos. No caso dos Bonobos e dos Humanos, esse tempo é ainda maior.

Os Bonobos são famosos por terem sido os únicos que conseguiram eliminar a dominação masculina e suas sequelas de violência quase por completo, e muito se deve ao fato das fêmeas formarem grupos de cooperação mútua e manterem os filhotes todos juntos de si por muito mais tempo que os demais, criando laços mais fortes entre mães e filhos.

De certa forma, os seres humanos fazem o mesmo, porém, para isso lançam mão de seu fantástico e inigualável aparato cortical, que produziu, ao mesmo tempo, a capacidade de curar inúmeras doenças infecciosas e a de construir a bomba atômica. Nesta mesma linha ambivalente, o Homo Sapiens é capaz de exterminar a infância massivamente, bem como mantê-la intacta ou controlada quase ao infinito.

Não posso aqui discorrer sobre toda a história da infância, mas posso dizer que construímos seu conceito e seus modos de governar ao longo dos séculos, e continuamos construindo, e chegamos a grandes avanços, como a redução radical na mortalidade infantil ao longo dos últimos 100 anos e a construção de uma ideia de proteção integral e de direitos sem precedentes na história. Hoje já não é mais socialmente aceito atirar recém-nascidos nos rios ou nas rodas de expostos, nem submeter crianças a trabalhos forçados.

No entanto, também construímos gigantescas escolas nas quais as crianças são acondicionadas em séries, grades, currículos, tarefas, avaliações, produções de fracasso. Aqueles que não cabem nesta cama de Procusto estão aos cuidados de máquinas conceituais subjetivadoras que engarrafam as significações de comportamentos desviantes em conceitos enlatados de bullying ou drogas encapsuladas como ritalina, rivotril e antidepressivos.

Para além dos presídios escolares, construímos grandes centros de comércio e as encapsulamos em um mundo de luzes e cores artificiais abrigadas no ar-condicionado e naquilo que o dinheiro pode pagar. Na fila do caixa do supermercado, a infância é enclausurada em monstros com copyright, videogames e festas de aniversário pré-programadas. Todos os dias, em nossas casas, a infância que está latente no mundo dos adultos - viaja pelo espaço ou na selva amazônica ao consumir cereais, achocolatados, refrigerantes.

Encaixotamos o saudável e alucinante mundo da criança em políticas duvidosas e pouco efetivas de educação, e com ele reconstruímos um mundo adulto de prazer delirante e inconsequente.
Mas eu ainda tenho fé que possamos fazer bom uso de nossos invisíveis genes e neurônios para produzir algo maior que nós mesmos...


...e que a infância em nós permaneça como a janela para o futuro...

Por Fábio Dal Molin.

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