“A vida é aquilo que
acontece enquanto você está planejando
o futuro”.
( J. Lennon )
Contar o tempo é uma grande ilusão, como sabemos, mas – e se não
contássemos? Li esta indagação tempos atrás. Não lembro quem a escreveu, mas a
achei muito pertinente.
Agora, quando nos aproximamos de um novo ano, a questão de
contar o tempo se torna muito presente. Ao iniciar 2019 lá iremos todos
assistir à queima dos fogos, tomar espumante, trocar votos de um feliz ano novo
entre abraços e beijos efusivos. Estaremos comemorando o tempo que passou e,
igualmente, o tempo que está chegando.
É a emoção da virada, da volta a uma espécie de marco zero, do
recomeço, de projetar o futuro. Vamos renovar propósitos, fazer um balanço do
que passou e do que poderemos fazer nos próximos 12 meses.
É um momento de doçuras e reconciliações, principalmente, no
momento em que vivemos. Tempo de soerguimento de ânimo e afirmação de
propósitos. Quantas vezes já fizemos isto no passado e, obviamente,
continuaremos a fazê-lo. É um ritual de passagem do tempo. Ah ! o tempo. Sempre
ele.
Embora saibamos que não há recomeço pelo simples fato da
passagem de ano, mesmo assim, iremos todos aderir ao coro da contagem
regressiva e, ao toque da meia-noite, estaremos emocionados trocando votos de
felicidades, saúde, progresso etc.
Sabemos que o tempo, para todos nós, avança de forma inexorável.
Talvez, na passagem de um ano para o outro, busquemos aprisionar o que não é
possível deter, o calendário. Sabemos que ele provoca desgaste e
envelhecimento.
É ele que, diariamente, nos mostra, nos alerta, que o tempo está
passando. Entretanto, a cada 365 dias, todos nós temos a ilusão de retornar ao
marco zero e começar tudo de novo. Vamos dizer feliz ano novo e derramar
lágrimas ao saudar, com alegria, emoção e esperança, a chegada de 2019. Esta é
a mágica da passagem de ano.
Caetano Veloso compôs uma canção, Oração ao Tempo, na qual
exalta o seu mistério:
“ És um senhor tão bonito/Quanto a cara do meu filho/Tempo, tempo,
tempo, tempo/Vou te fazer um pedido/Compositor de destinos/Tambor de todos os
ritmos/Entro num acordo contigo/Por seres tão inventivo/E pareceres contínuo/És
um dos deuses mais lindos/Que sejas ainda mais vivo/No som do meu
estribilho/Ouve bem o que te digo/Peço-te o prazer legítimo/E o movimento
preciso/De modo que o meu espírito/Ganhe um brilho definido/E quando eu tiver
saído/Para fora do teu círculo/Não serei nem terás sido/Ainda assim
acredito/Ser possível reunirmo-nos/Num outro nível de vínculo/Tempo,tempo,tempo.”
Coisas de um grande poeta.
A Grécia e seus sábios nos deixaram um ensinamento célebre, o
carpe diem (aproveita o dia de hoje), ou seja, a convicção de que só vale a
pena viver a vida que se situa no aqui e no agora, na reconciliação com o presente.
Nesta época de renovação de esperanças, é preciso lembrar de um
ensinamento dos filósofos, segundo o qual, a esperança, ao contrário do que
pensa o comum dos mortais, longe de nos ajudar a viver melhor, nos faz perder o
essencial da vida, que deve ser abraçado aqui e agora. Isto é, não podemos
viver a nostalgia de um passado que não existe mais e a espera de um futuro que
ainda não existe. É,portanto, preciso viver intensamente o aqui e agora.
O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu, com toda a sua
genialidade, uma Receita de Ano Novo:
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
Não precisa
Fazer lista de boas intenções
Para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
Pelas besteiras consumidas
Nem parvamente acreditar
Que por decreto de esperança
A partir de janeiro as coisas mudem
E seja tudo claridade, recompensa,
Justiça entre os homens e as nações,
Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
Direitos respeitados, começando
Pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
Que mereça este nome,
Você, meu caro, tem de merecê-lo,
Tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
Mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o ano novo
Cochila e espera desde sempre.
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
Não precisa
Fazer lista de boas intenções
Para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
Pelas besteiras consumidas
Nem parvamente acreditar
Que por decreto de esperança
A partir de janeiro as coisas mudem
E seja tudo claridade, recompensa,
Justiça entre os homens e as nações,
Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
Direitos respeitados, começando
Pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
Que mereça este nome,
Você, meu caro, tem de merecê-lo,
Tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
Mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o ano novo
Cochila e espera desde sempre.
Feliz 2019 para cada um e cada uma!!!
José Ernani de Almeida.
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