A Justiça Estadual, especialmente nas varas cíveis
deste nosso condado, tem deixado a desejar, pois, não raro, a simples juntada
de uma petição demora uma enormidade. Liberação de alvarás tem sido um drama.
Intimações a processar dormem nas prateleiras à espera de uma ação. Medidas
cautelares que merecem um despacho urgente, mesmo que contrário ao interesse do
requerente demora mais de uma semana. A Ordem dos Advogados do Rio Grande do
Sul tem se esforçado para, junto às autoridades, tentar ajudar nesse emperramento
da máquina judicial, mas me parece que se sente impotente.
Retrata essa lentidão na justiça a história que
passo a contar:
“Juiz e advogado tinham certa animosidade. Ambos
eram experientes e professores na Faculdade de Direito, e, não raro, se ‘bicavam
amistosamente’ em audiências e nos respectivos intervalos.
Num destes interregnos, o juiz, brandindo uma
petição qualquer que estava sobre sua mesa, exclamou ironicamente ao veterano
advogado:
- Doutor, esta petição aqui deve ter sido redigida
por um dos seus alunos!
- Por que meritíssimo?
- Veja bem, ele escreveu ‘excelentíssimo’ com dois
‘esses’, não com ‘xis’, como é correto.
- Senhor juiz, respondeu o advogado, nada a reparar
na petição do ilustre colega, pois apenas houve uma falha no espaçamento da
palavra ao digitar, pois o que ele efetivamente quis dizer é ‘Esse lentíssimo
juiz...’.”.
Essa historinha poderia ter acontecido em qualquer
foro deste Brasil, pois, sob certo aspecto, revela um lado negativo da justiça:
a sua lentidão.
O ex-presidente da Suprema Corte, o ministro
Joaquim Barbosa, por ocasião de sua posse pôs o dedo na ferida, e, “sem firulas
e rapapés” foi direto ao ponto, confessando publicamente que justiça que tarda
é justiça que falha.
No entanto, também por justiça, é necessário reconhecer
que as leis têm defeitos que tornam o processo lento. Também é forçoso entender
que há um excesso de demandas, fruto da litigiosidade e da consciência de
cidadania dos jurisdicionados. Outro fator considerável é que as nossas
administrações públicas, tanto da esfera federal, estadual e municipal, são
useiras e vezeiras em sonegar direitos aos administrados, contribuindo
enormemente para abarrotar os escaninhos da justiça.
Não bastasse, o servidores do judiciário
trabalhista vivem em permanente estado de greve, aí, meus amigos, não tem
Brasil que aguente.
O meu amigo Teko, sempre atento, cutuca a minha
mente lembrando que, muitas das vezes, o caso revela-se como falta de preparo
do magistrado em conduzir os processos e os serviços atinentes à sua secretaria
ou cartório.
E vejo que ele tem razão, pois, em algumas varas,
parece que o juiz não dialoga com o pessoal do cartório, ficando enclausurado
em seu gabinete-redoma, não interage e nada cobra, ou seja, parece uma
verdadeira política de laissez-faire, ou, em bom português: deixa estar para
ver como é que fica.
Como exemplo, pois não dou morto em testemunho, há
alguns anos tivemos na Justiça do Trabalho a juíza Ângela Chapper, em cuja vara
os processos andavam céleres, pois se notava, tanto por sua ação dinâmica em
audiência, como em visível dialogar com a secretaria; era uma magistrada
empenhada em desobstruir gargalos.
Pois bastou a dra. Ângela entrar em licença,
para que a vara começasse a capengar. E mais, quando retornou, a máquina voltou
a funcionar azeitada. Indago-lhes: como explicar essas incongruências? Como
explicar que os “velhinhos” do Tribunal de Justiça em Porto Alegre, apreciam e
decidem as medidas liminares de urgência na média de 48 horas?
Há a alegação, sob certo aspecto pertinente, que há
carência de juízes e de servidores, mas, convenhamos – e isso é de uma clareza
cristalina, mesmo com tais deficiências, as medidas cautelares deveriam ter um
tratamento diferenciado, de sorte a serem despachadas em tempo razoável, não em
quinze dias como tem acontecido.
Eu não tenho dúvidas: trata-se de falta de
interesse, e, sobretudo, de talento, um predicado que a universidade não ensina
e não se compra na mercearia da esquina.
São preocupantes essas deficiências do sistema, as
quais em tempos idos eram exceções – mas, atualmente, têm dado sinais de se
tornarem regra, indicador seguro que o sistema está em franca
deterioração. Com a palavra os interessados.
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Ferram com a vida do cidadão e este não tem a quem reclamar, nem entrar na justiça... Na França, se um processo demorar (e é rápido) o cidadão entra na justiça contra o Estado.
ResponderExcluirAntonio Guedes