terça-feira, 22 de setembro de 2009

Você é egoísta com seu amor? Não? Será mesmo? Então leia essa!!!

É de Martin Buber, filósofo alemão, um livro chamado Eu e Tu. Sua tese é que o "eu" só se afirma quando diz o "tu". O "eu" não é ninguém sem o outro que o identifica. No domingo passado li sobre o mau costume de habituar-se à felicidade. No mesmo dia, à noite, fui ver o filme argentino O filho da noiva. Em plena crise econômica, dono de restaurante, divorciado, uma filha, num segundo romance, procura ajudar seu pai, já idoso, a realizar o sonho da mãe: casar-se na igreja. No sonho do pai que quer o sonho da mãe, ele reordena suas relações afetivas - com os pais, com a filha, com os amigos, com a atual e a ex-mulher.

Nino Belvedere, o pai, tem uma pequena poupança e duas opções para gastá-la: voltar à Itália para rever suas origens ou realizar o sonho da esposa, agora com mal de Alzeimer. Norma, a mulher, em respeito aos princípios anticlericais do marido, havia sacrificado o desejo durante quarenta e quatro anos de casamento. Entre realizar o seu sonho e o da amada, Nino opta pelo da amada. Entre a sua felicidade e a dela, opta pela dela. Agora é hora dele sacrificar-se para a alegria da esposa. Na felicidade dela, reencontra a sua.

Sou contra a maioria dos livros de autoajuda. Defendo uma altero-ajuda. Raros são os autores que não proclamam um egoísmo explícito. Eu tenho que ser vencedor, eu tenho que ter dinheiro, eu tenho que ser feliz, eu tenho que ter sucesso, eu tenho que ser o melhor. O outro apenas é objeto para minhas metas. Muitos autores ensinam técnicas de persuasão ou como "fazer amigos". O "tu" não aparece como alguém parceiro de meu sonho, mas como degrau de uma escada. Há, quase sempre, uma "coisificação" do outro. Assim, é preciso pensar quais pessoas poderiam ser "úteis" para meu sucesso. Uma vez descobertas, preciso incluí-las em meus planos de vida. Observe nas festas como é disputada a proximidade às pessoas "importantes" e/ou "poderosas".

Sucesso e felicidade são coisas muito diferentes. Sucesso tem a ver com poder e com dinheiro. Felicidade tem a ver com a vida. O sucesso é masturbatório, você sente prazer sozinho. Felicidade é sempre compartilhada a dois ou mais. Na busca do sucesso, o outro é um degrau. Na busca de felicidade, o outro é meu companheiro. Para alcançar o sucesso, é ótimo que o outro caia, assim passarei à frente. Para alcançar a felicidade, é preciso atrasar-se para levantar o caído.

É realmente feliz aquele cujo sonho faz parte do sonhar do outro. Ao realizar o sonho do outro, sem querer, a vida me brinda com a realidade do meu. Pense como são simbióticas as felicidades dos filhos e dos pais, do amado e da amada.

Diz uma lenda chinesa que céu e inferno são muito parecidos. Em ambos há montes de arroz cozido e a todos são dados aqueles pauzinhos, só que enormes. No inferno cada um tenta, inutilmente, levar o arroz à própria boca. No céu, um alimenta o outro. Ao servir o outro, o homem supera o instinto animal de disputar a comida. Usar nosso talher para saciar o outro de felicidade é mais que uma atitude inteligente frente a um inatingível monte de arroz. Usar nosso talher para alimentar o outro é descobrir que, por maior que seja o arroz acumulado, de nada vale sem um "tu" para nos ajudar a comê-lo.

E aí como você tem comido seu "arroz"? Comente para mim aqui ou no diHitt.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. e que tal trocar o eu tenho pelo eu quero e deixar de sonhar para desejar...
    abs

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  3. Acredito bem nisso boa reflexão
    sabe o inferno estás na terra e não no céu.
    bela comparação.

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  4. Paz WILLIAM... sou suspeito de falar.... mas adorei esse final... estou postando aqui como prova..e também porque eu vou salvar esse trecho ...
    paz amigão ....!!!!!
    "No céu, um alimenta o outro. Ao servir o outro, o homem supera o instinto animal de disputar a comida. Usar nosso talher para saciar o outro de felicidade é mais que uma atitude inteligente frente a um inatingível monte de arroz. Usar nosso talher para alimentar o outro é descobrir que, por maior que seja o arroz acumulado, de nada vale sem um "tu" para nos ajudar a comê-lo."

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