Ele voltou, contratado a peso de euros, com enorme sacrifício da atual direção do clube. Saíra consagrado, autor das melhores jogadas vistas em décadas. De técnica refinada, jogava de cabeça erguida, antevia os passos do adversário. Executava com maestria o over lapping e o ponto futuro. Dizia-se que ninguém sabia fazer a leitura do jogo como ele. Era o melhor e era a certeza absoluta do retorno financeiro ao investimento.
Estádio cheio, torcida inebriada, imprensa disputando cada declaração. Amigos de sempre e amigos de agora relatando peculiaridades e intimidades. Parentes de todos os lados, de viagens longas. Luzes e holofotes, faixas de boas-vindas. Tarde de sol, sol de outono, bergamota e sorrisos.
O jogo inicia e cinco e dez minutos e nada de jogadas geniais. Preso à marcação, nem tão cerrada assim, ele fazia jogadas laterais. Não ousava, não verticalizava, não finalizava. Ele está preparando algo, comentavam todos. Ele vai rebentar, estraçalhar, esperavam todos. O tempo passa e passa, a marcação afrouxa e, mesmo assim, nenhuma réstia do futebol que um dia encantou.
Na metade do segundo tempo, aparentemente ele começa a simular desconforto muscular. Acena para o banco, tímidas vaias, abafadas por aplausos. Será que estava jogando descontado, no sacrifício. É, pode ser.
É substituído e beija o distintivo do clube. De todos os que se decepcionaram com a reestreia quem mais sentiram foram às crianças. Porque puras, elas simplesmente esperavam as jogadas triviais do grande jogador.
Antevia-se show. E nada. O foguetório não existiu e o time adversário nem jogou tão bem assim.
Entrevistas, evasivas, explicações vazias, tergiversações e tédio, misturado com incredulidade e um pedaço de revolta.
Esperava-se tanto. Afinal, tanto preparo físico, tantas habilidades naquele corpo e ele não correspondera.
O que será que o Criador pensa quando analisa o nosso desempenho. Deu-nos tantos talentos, além dos atributos físicos. Deu camiseta, calção, meias e bola nova.
Convocou seus melhores para acompanhar a nossa participação. E mostramos pouco. E perguntaram para Ele: esse é o teu bruxo? Isso aí é o melhor que ele tem a nos presentear?
O nosso melhor não é o desempenho profissional, nem social, nem financeiro. O nosso melhor é, o que talvez nos aproxime mais de Sua imagem, o desempenho humano. Da ressonância, da capacitação exercida em homenagem e retribuição ao que de graça recebemos.
Tantos passes perfeitos em nossa direção como se acreditassem eternamente nas nossas capacidades e a gente não faz nem um golzinho.
Nós, os jogadores seremos vaiados? Seremos substituídos? Ou não somos aquilo tudo que imaginaram que fôssemos?
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