Lembro-me do meu pai, à mesa, me
confortando. Eu, com sete ou oito anos, com medo de ficar velha e não poder
mais brincar. Ele sabiamente dizendo que as brincadeiras mudariam com a idade,
mas jamais me seriam proibidas.
Algumas coisas podiam perder a graça para que
novas viessem a me interessar. Usou como exemplo a minha mamadeira. Estava lá.
Eu não era proibida de usá-la. Eu só não tinha o interesse. Havia descoberto
outras maneiras. Não brincar mais, não seria uma imposição da idade, mas uma
troca de interesses.
Embora eu não acreditasse que alguém pudesse
perder o interesse em brincar aceitei de coração aberto as palavras que me
encorajaram a vida toda. A vida, afinal, é como no videogame. Quando se passa
para uma nova fase a dificuldade aumenta, mas o prazer de vencer também. Os
obstáculos são parte do jogo.
Pensar assim torna menos difícil seguir em
frente, sem olhar pra trás. Com isso resolvido na minha cabeça, retomar um
ciclo já fechado era algo que eu não considerava. Isso até o dia em que, no
desespero de retomar a minha rotina de exercícios físicos, decidi colocar o
prazer no início da minha lista de prioridades. Precisava reencontrá-lo em
alguma atividade física que eu pudesse me dedicar diariamente. Precisava me
mexer.
Mais um mês lendo, escrevendo e vendo filmes
e eu me esqueceria de como se anda. Sempre fiz muita atividade física e minha
apatia tinha um nome. Ninho vazio. Meus passarinhos voaram em bando. Precisava
redescobrir um prazer que me motivasse.
Procurei uma aula de dança. A aula foi
ótima, mas o meu preparo estava péssimo. Temi não encontrar a satisfação que
buscava. Foi quando surgiu a ideia do balé. Paixão antiga. Faz tanto tempo,
pensei. Ciclo fechado. Mas, algo dentro de mim fez com que eu me questionasse.
E se eu ressuscitar esse prazer? E se eu recomeçar? Foi o que fiz. Escolhi o
horário, a turma, o método que mais se adaptava ao meu momento e recomecei do
zero.
Não sei se, realmente, acreditava que
sentiria algum dia o que eu sinto agora. Deixem o mundo lá fora! Aconselha o
meu querido e abençoado mestre. Eu obedeço. Meus ouvidos, minha mente, meu
corpo estão a serviço da superação. A cada aula venço um dragão, mas acima de
tudo me entrego a um prazer indescritível.
Não tenho a pretensão de fazer voltar o
tempo, mas de fazer o meu melhor. A cada aula o meu esforço busca isso. Pensei
que ficaria o tempo todo me cobrando, comparando o presente com o passado. Não.
Isso nem é permitido. Precisamos ser ainda melhores. Precisamos nos reinventar.
Quando ouço: “Vamos lá, minhas bailarinas,
com todo o capricho”. Eu me sinto num teste do Bolshoi. Mentalizo cada
pedacinho do meu corpo e dou tudo de mim. Esta concentração, este controle:
respiração, movimento, ritmo, leveza, equilíbrio e memória, causam em mim o
efeito da meditação.
Nem acredito como estou mais serena, em paz,
de bem comigo. Isso, sem contar todas as boas coisas que vieram com essa
decisão. Mas, sobre este assunto, falo numa outra crônica. A amizade feminina
merece bem mais do que três linhas. Se conto isso a vocês é porque, por muito
pouco nem considerei a ideia.
Obstáculos demais num período em que estava
sensível demais. Portanto, queridos leitores, aceitem a minha contribuiçãozinha
amiga e tentem. Procurem até encontrar. Caminhada, dança, pilates, musculação,
ciclismo, estepe, tênis, pádel, vôlei, futebol, corrida, boxe, zumba, ritmos,
surfe, frescobol, slackline, pollydance, o que for. Experimentem.
Reexperimentem. Troquem de modalidade de
tempos em tempos, mas não abram mão de fazer o que for com muito prazer. Estou
falando de atividade física, mas se quiserem abusar da criatividade, fiquem à
vontade que está valendo.
A vida é uma só e muito curtinha pra se
perder tempo de ser feliz se conformando com o satisfatório. Aproveitem que chegou
o verão e saiam da janela! A vida tá aí pra ser vivida.
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