sábado, 28 de abril de 2012

A invisibilidade



A invisibilidade é um assunto que fomenta o imaginário de pessoas de todas as faixas etárias, desde crianças de tenra idade, passando por pré-adolescentes incentivados por desenhos e filmes; e até mesmo os adultos sonham por algumas vezes realizar, praticar ou saber de tudo aquilo que a matéria corporal não lhes permite.

Quem em suas brincadeiras de infância não imaginou ser invisível por alguns momentos? A primeira ideia que pode ser construída a partir deste tema está ligada a um “status”, um diferencial positivo, que faria com que a sociedade reconhecesse o indivíduo por essa capacidade fantástica. Todavia, essa invisibilidade do mundo imaginário é uma construção da mente que possivelmente não seja alcançada pela ciência humana.

Entretanto, de outra banda, temos uma invisibilidade que é tão presente e real dentro da nossa sociedade que passa paradoxalmente a não ser percebida, dando vazão ao significado mais controverso acerca do tema, qual seja, a invisibilidade sob o aspecto denotativo, com o mais amplo conceito semântico. Afinal, onde queremos chegar com essa quase parábola acerca da invisibilidade?

Uma simples pergunta, mas como uma resposta no mínimo tormentosa para muitas pessoas, pois estas podem se identificar, como dizem alguns, em gênero, número e grau com as reflexões e também indagações aqui presentes. Dessa forma, vejamos: quantos de nós ontem, ao sairmos de casa desejamos um bom dia ou uma boa tarde a uma pessoa desconhecida que nos ombreava em uma calçada qualquer ou mesmo em um estabelecimento comercial?
Quantos cumprimentaram um funcionário que nos atendeu em um caixa ao pagarmos nossas contas ou compras?
Quantos cumprimentaram um funcionário da limpeza pública?
Quantos agradeceram quando um funcionário de qualquer empresa que frequentemos, abre ou fecha a porta para a nossa passagem?
As atitudes corteses que eram frequentes em décadas passadas a cada dia se tornam mais escassas. Alguns consideram sem propósito já que estas pessoas são desconhecidas, ou mesmo pensam que sua obrigação é nos servir, ou ainda por não fazerem mais parte de sua educação familiar essa atitude.

O certo é que muitas pessoas que estão no outro polo desta relação simplesmente não são visíveis com o passar dos anos ou com a repetição dos comportamentos aqui considerados reprováveis. E nesse sentido iniciamos a construção de uma das mais perversas nuances do ser humano: a capacidade que outrora era considerada fictícia de ser invisível, ou melhor, de transformar pessoas que não são importantes para ele em invisíveis.

Muitas pessoas que são grandes mestres desta arte nefasta se utilizam de seus cargos, funções, graus e títulos de toda ordem, pois necessitam “invisibilizar” os demais para se sentirem mais austeros e importantes na sociedade, nas acepções mais depreciativas alcançadas por essas palavras.

Caráter e valores não são como o conhecimento ou “status” social que surgem normalmente advindos de critérios objetivos, mas são construídos e perpetuados pela tradição familiar, pelo bom círculo de amizades e pelo amadurecimento moral, individual e da sociedade.

Ser invisível em nossa sociedade é o primeiro passo para efetivamente não ser considerado ser humano, pois qual a diferença entre uma pessoa que trabalha na mais humilde das funções para o que ocupa o mais intelectualizado cargo do País? Por muitas vezes a resposta está na oportunidade que por diversos motivos o segundo dispôs, que o primeiro sequer imaginou ter. No entanto, isso não deve fazer este melhor do que aquele.

Enfim, ser melhor é não criar invisibilidades e sim promover visibilidades, tratando pessoas de maneira humanizada, não “coisificada” artificialmente...


Por: Carlos Alexandre Michaello Marques.

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