segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Pequenas tragedias de antigamente...




1. Quando as fichas acabavam no meio da ligação feita do orelhão.
2. Ou o disco riscava bem na melhor música.
3. Você datilografava errado a última palavra da página.
4. E não tinha fita corretiva de máquina de escrever pra consertar.
5. A fita do Atari não funcionava nem depois de você assoprar.
6. O locutor falava as horas ou soltava uma vinheta BEM NO MEIO DA MÚSICA que você tinha passado horas esperando pra gravar.
7. E depois o toca-fitas mastigava a fita.
8. O locutor não falava o nome da música quando ela terminava.
9. E você ficava anos sem saber quem cantava ou como chamava aquela música que você tinha amado.
10. Seu irmão bebia o líquido das Mini Cokes.
11. E alguém dizia que o filho do amigo do tio do vizinho tinha morrido depois de beber o líquido das Mini Cokes.
12. Alguém fumava dentro do ônibus.
13. Ou do avião.
14. Ou do elevador.
15. Você tinha que pagar multa por devolver a fita de vídeo pra locadora sem rebobinar.
16. O Ki-suco vazava da garrafinha da sua lancheira.
17. E molhava os pãezinhos com patê.
18. Você tirava as letras das músicas em inglês tudo errado.
19. E depois descobria, no folheto da Fisk, que estava tudo errado mesmo.
20. Mas já era tarde, pois você já tinha decorado errado (e canta errado até hoje).
21. Você arranhava com todo cuidado, mas quando levantava o papel via que o bichinho do decalque do Ploc tinha saído sem uma perninha.
22. A televisão resolvia sair do ar no dia do capítulo final da novela.
23. E seu pai tinha que subir no telhado pra mexer na antena.
24. E ele gritava lá de cima “melhorou?”
25. E você, embaixo, avisava: “melhorou o 5, o 7 e o 9. Piorou o 4, o 11 e o 13”.
26. E nunca todos os canais ficavam bons ao mesmo tempo.
27. Chegar à padaria e lembrar que você tinha esquecido o casco do refrigerante.
28. A Kombi que trocava garrafas velhas por picolés e pintinhos passava na sua rua um dia depois da sua mãe jogar tudo fora.
29. Você descobria que todas as 36 fotos do seu aniversário tinham ficado desfocadas.
30. E algumas tinham queimado, porque o rebobinador da câmera tava meio enguiçado.
31. Quando sobrava só o lápis branco da caixa de 36.
32. Você pensava que ia morrer porque engoliu uma bala Soft
33. Você pesava que suas tripas grudariam, se você engolisse chiclete.
Nossa vida era assim. E nem faz tanto tempo, mas nossos filhos nem têm ideia do que significa tudo isso.
passe pra quem viveu nessa época, porque pra mim enviaram por engano..


O ETERNO RITUAL DA PASSAGEM DO TEMPO




 “A vida é aquilo que acontece enquanto você está planejando
o futuro”.




 ( J. Lennon )
Contar o tempo é uma grande ilusão, como sabemos, mas – e se não contássemos? Li esta indagação tempos atrás. Não lembro quem a escreveu, mas a achei muito pertinente.
Agora, quando nos aproximamos de um novo ano, a questão de contar o tempo se torna muito presente. Ao iniciar 2019 lá iremos todos assistir à queima dos fogos, tomar espumante, trocar votos de um feliz ano novo entre abraços e beijos efusivos. Estaremos comemorando o tempo que passou e, igualmente, o tempo que está chegando.
É a emoção da virada, da volta a uma espécie de marco zero, do recomeço, de projetar o futuro. Vamos renovar propósitos, fazer um balanço do que passou e do que poderemos fazer nos próximos 12 meses.
É um momento de doçuras e reconciliações, principalmente, no momento em que vivemos. Tempo de soerguimento de ânimo e afirmação de propósitos. Quantas vezes já fizemos isto no passado e, obviamente, continuaremos a fazê-lo. É um ritual de passagem do tempo. Ah ! o tempo. Sempre ele.
Embora saibamos que não há recomeço pelo simples fato da passagem de ano, mesmo assim, iremos todos aderir ao coro da contagem regressiva e, ao toque da meia-noite, estaremos emocionados trocando votos de felicidades, saúde, progresso etc.
Sabemos que o tempo, para todos nós, avança de forma inexorável. Talvez, na passagem de um ano para o outro, busquemos aprisionar o que não é possível deter, o calendário. Sabemos que ele provoca desgaste e envelhecimento.
É ele que, diariamente, nos mostra, nos alerta, que o tempo está passando. Entretanto, a cada 365 dias, todos nós temos a ilusão de retornar ao marco zero e começar tudo de novo. Vamos dizer feliz ano novo e derramar lágrimas ao saudar, com alegria, emoção e esperança, a chegada de 2019. Esta é a mágica da passagem de ano.
Caetano Veloso compôs uma canção, Oração ao Tempo, na qual exalta o seu mistério:
“ És um senhor tão bonito/Quanto a cara do meu filho/Tempo, tempo, tempo, tempo/Vou te fazer um pedido/Compositor de destinos/Tambor de todos os ritmos/Entro num acordo contigo/Por seres tão inventivo/E pareceres contínuo/És um dos deuses mais lindos/Que sejas ainda mais vivo/No som do meu estribilho/Ouve bem o que te digo/Peço-te o prazer legítimo/E o movimento preciso/De modo que o meu espírito/Ganhe um brilho definido/E quando eu tiver saído/Para fora do teu círculo/Não serei nem terás sido/Ainda assim acredito/Ser possível reunirmo-nos/Num outro nível de vínculo/Tempo,tempo,tempo.” Coisas de um grande poeta.
A Grécia e seus sábios nos deixaram um ensinamento célebre, o carpe diem (aproveita o dia de hoje), ou seja, a convicção de que só vale a pena viver a vida que se situa no aqui e no agora, na reconciliação com o presente.
Nesta época de renovação de esperanças, é preciso lembrar de um ensinamento dos filósofos, segundo o qual, a esperança, ao contrário do que pensa o comum dos mortais, longe de nos ajudar a viver melhor, nos faz perder o essencial da vida, que deve ser abraçado aqui e agora. Isto é, não podemos viver a nostalgia de um passado que não existe mais e a espera de um futuro que ainda não existe. É,portanto, preciso viver intensamente o aqui e agora.
O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu, com toda a sua genialidade, uma Receita de Ano Novo:
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
Não precisa
Fazer lista de boas intenções
Para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
Pelas besteiras consumidas
Nem parvamente acreditar
Que por decreto de esperança
A partir de janeiro as coisas mudem
E seja tudo claridade, recompensa,
Justiça entre os homens e as nações,
Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
Direitos respeitados, começando
Pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
Que mereça este nome,
Você, meu caro, tem de merecê-lo,
Tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
Mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o ano novo
Cochila e espera desde sempre.
Feliz 2019 para cada um e cada uma!!!


José Ernani de Almeida.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

A neurose no trabalho moderno







As novas práticas de administração, que deveriam reconciliar o homem ao ambiente de trabalho, conduzem-no à luta sem quartel em busca de espaço.
As novas práticas de administração, que deveriam reconciliar o homem ao ambiente de trabalho, conduzem-no à luta sem quartel em busca de espaço.





Durante a Guerra do Vietnam, os bonzos, sacerdotes budistas, ateavam fogo às vestes em imolação pública de protesto contra a presença americana no território vietnamita. Anos após, Robert McNamara, à época Ministro da Defesa dos USA, diria: “A coragem impassível daqueles bonzos em chamas foi uma das mais poderosas armas utilizadas contra nós no Vietnam”.

Recentemente, o mundo assistiu atônito à eclosão da Primavera Árabe, que se iniciou no norte da Tunísia com um jovem que ateou fogo às próprias vestes como ato de protesto contra o regime totalitário prevalecente nos países islâmicos.
Não resisto à comparação desses eventos históricos trágicos com a onda de suicídios, estresse desmesurado, síndromes de pânico, inusitadas doenças psicológicas profissionais que convivemos hoje no mundo das organizações e, é claro, também aqui no Brasil, se bem que de forma ainda mais dissimulada, como se esse drama não nos atingisse igualmente.
Bem, compreendo, alguns dirão: “Mas que absurdo – as circunstâncias de uma guerra boçal não se comparam à realidade vivida hoje no mundo das organizações empresariais. Muito menos as razões que sublevam os jovens militantes islâmicos contra situações políticas ditatoriais em tantos países do mundo árabe”.
Os contextos são obviamente distintos. As devastações de uma guerra econômica, como a que vivemos hoje na sociedade de mercado globalizada, irrestritamente protagonizadas pelas organizações, não são de mesma natureza que as de um conflito armado bélico ou de uma revolução política.
No entanto, muitas das constatações das razões de pessoas que dão cabo às suas vidas por causa do trabalho certamente expressam o desejo de denúncia da realidade vigente no interior das organizações. É um ato indubitável de denúncia! Um brado derradeiro em busca da tomada de consciência contra as iniquidades crescentes praticadas no mundo do trabalho. Em verdade, um ato final de libertação da neurose alucinante do trabalho moderno.
Esses suicídios e sequelas nos conclamam a um basta à violência psicossocial existente nas organizações, à loucura das reengenharias e das reorganizações incessantes, um basta à busca desesperada de resultados a qualquer custo, um basta ao sempre mais e mais, um basta ao disparate de trajetórias que nos levam a lugar algum, se não ao nada e à devastação psicossociológica dos trabalhadores assalariados.
As novas práticas de administração, que deveriam reconciliar o homem ao ambiente de trabalho, conduzem-no à luta sem quartel em busca de espaço, em que cada qual objetiva alcançar mais e melhores vantagens, e, em vez da integração, cooperação e boa interação pessoa-trabalho, levam-no à desilusão, ao desencanto e à desesperança.
As práticas de administração voltam a fazer da pessoa, trabalhador assalariado, apenas mais um recurso descartável a serviço da rentabilidade empresarial.
Por quais razões o mal-estar laboral é tão profundo ao passo que, historicamente, as condições objetivas de trabalho nas organizações têm se aprimorando tanto? É indiscutível a melhoria das proteções concretas do trabalho assalariado ao longo do tempo, do trabalho do menor, da mulher, do idoso, dos portadores de deficiência. A jornada de trabalho é reduzida substancialmente, as condições físicas do exercício laboral são bem menos sacrificantes. Dispõe-se hoje de todo um aparato cientifico tecnológico a minimizar as antigas agruras do trabalhador manual dos tempos passados.
Mas se as condições objetivas do trabalho são hoje bem mais confortáveis, as condições psicossociais, subjetivas, com certeza se degradam exponencialmente, na contramão do discurso oficialista das organizações de laudação de seus “colaboradores”.

Esse fenômeno atinge a todos os tipos organizacionais, indistintamente – ao setor público e ao privado, às empresas submetidas à competição de mercado e as monopolistas, as grandes, pequenas e médias empresas, atinge como um todo a sociedade globalizada e a uma economia globalizada.
É preciso, o quanto antes, compreender e erradicar as causas de tantos suicídios e sequelas profissionais no mundo do trabalho. Fazer adequadas necrópsias e autópsias psicológicas dos suicidas e dos sequelados pelo trabalho.
A tomada de consciência de uma questão tão grave para a humanidade contemporânea parece difícil de emergir. Mais ainda: para os dirigentes públicos, sindicais e empresariais esta é ainda uma questão meramente secundária, restrita apenas á dimensão acadêmica por ser inexpressiva no conjunto real da vida organizacional. Alegam, os problemas que de fato os afligem são o emprego e o desemprego.Questões distintas, é verdade, mais igualmente relevantes.
Como analisar as mudanças que ocorrem no mundo do trabalho?Como compreender e superar as violências, inquietações e sofrimentos que as mutações suscitam? Por que razões os sintomas do mal estar no trabalho, como o estresse, suicídio, depressões, fadigas, esgotamento profissional, burnout e síndromes se encontram cotidianamente em campos de atividades empresariais tão distintos? Quais são as causas mais profundas e sentidas do mal estar no trabalho na vida moderna? Por que a insatisfação crescente dos assalariados não se expressa forte, solidária e coletivamente nas distintas manifestações dos movimentos sociais em geral, e, em particular dos sindicatos e associações profissionais?
As respostas a essas questões estão longe de serem produzidas pelos seus mais diferentes atores. Quando muito o que se obtém são avaliações parciais e limitadas, às vezes até cínicas e hipócritas, dissimuladas. É preciso ir fundo às raízes das suas causas, no sentido de erradicá-las.
Os atos de denúncia desesperada dos monges budistas contribuíram decisivamente para o fim da Guerra do Vietnam. O fogo às vestes dos jovens islâmicos desencapsulou a Primavera Árabe.
Por que a denúncia dos suicídios generalizados e das perversões psicológicas tão graves nos assalariados em todo o mundo das organizações não desencadeia uma atitude efetivamente proativa dos dirigentes empresariais, das associações profissionais e sindicais e dos políticos comprometidos com o bem comum? O silêncio de todos é cúmplice! Só contribui para o agravamento de uma nova epidemia profissional – a neurose do trabalho moderno!
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Utopia e paz social




Salta aos olhos de qualquer cidadão atento o clima de radicalismo em que vivemos. Refiro-me aqui, especificamente, ao nosso Brasil, de incitações e de desentendimentos, sobre qualquer ambiente.
A animosidade parece sempre ser bem-vinda, nesta verdadeira “civilização do espetáculo”, hipócrita por falsa necessidade. Para este tipo de sentimento disseminado, sempre haverá aplausos, consequência natural para um País carente de apaziguamento, de pacificação dos espíritos acirrados.
Percebo que enquanto perdurar esta fórmula estúpida, permaneceremos muito afastados de qualquer esboço de paz social. Conceito utópico para muitos, não vejo o menor sentido em assumir responsabilidades públicas sem a busca de objetivos convergentes, independente da formação ideológica de cada cidadão.
 Poucos representantes são capazes de exercer esse papel. A representação política, definitivamente, não é para amadores. O problema é que os “amadores”, sejam criminosos ou simplesmente irresponsáveis despreparados, são cada vez mais a regra vigente no nosso meio político.
Mais humanidade e compreensão! Menos fórmulas prontas, dignas dos ultrapassados sabichões, que apontam o dedo antes de ouvir. Insisto em alertar que existe um sistema falido, que não mais atinge às expectativas da sociedade contemporânea. Por isso, trago à tona a ideia de “paz social”.
E já alerto que o rótulo de “utópico” me cai bem, tendo a plena noção de que o tempo é finito e que estamos de passagem. Para minhas filhas, quero ensinar a lição de Eduardo Galeano: “A utopia está lá no horizonte (…) Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.
Respeitando sempre as determinações Constitucionais que regram o País, não me abstenho de lançar uma visão de mundo, responsável com minha geração e as próximas que virão: mais diálogo, menos intolerância. Ouvir muito mais, falar bem menos! Nosso tempo é finito e, sobre essa avaliação, é fundamental a tentativa de deixar a nossa melhor mensagem.
 Christopher Goulart.
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