quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Por que você não vai perder seu emprego para um robô


A inteligência artificial já pode executar algumas tarefas melhor que nós, humanos. Mas isso não é nosso fim


Os robôs estão chegando! A inteligência artificial vai roubar seu emprego! Volta e meia vemos imagens de robôs na mídia, ou somos informados de algum sistema que vai acabar completamente com o mercado de trabalho como o conhecemos e nos transformar todos em mendigos obsoletos.
A mídia e os mesmos especialistas que nunca acertam uma parecem adorar falar sobre o tema e volta e meia vemos uma nova projeção: a inteligência artificial vai acabar com não sei quantos milhões de empregos.
A robótica vai substituir empregados no mundo inteiro. Vamos todos ficar desempregados enquanto versões da Rose dos Jetsons ocupam nossos bons e velhos empregos! Isso até algum robô bacana ir dormir Rose e acordar Terminator, e resolver se livrar de nós de uma vez.
A ficção científica, aliás, não ajudou muito. Para cada simpático tenente Data do Star Trek, temos dezenas de Cylons, Cybermen,
Hals, Ultrons e um bando de seres mecânicos irritadinhos dispostos a tornar nossas vidas um inferno. Claro que, do ponto de vista da narrativa, é muito mais legal termos robôs assassinos do que história do tipo “Aí os Vingadores criaram o Ultron, e tudo deu certo e a paz reinou - Fim”.
Hoje, parece que finalmente chegamos em um ponto em que a Inteligência Artificial parou de ser coisa da ficção e se tornará cada vez mais útil. Naturalmente, o medo do desconhecido sempre faz o futuro parecer mais sombrio.
Se você acha que um dia os robôs vão se revoltar e matar todos nós, lembre-se de que exatamente zero pessoas morreram até hoje por que seus computadores decidiram assassiná-las, mas segundo a organização mundial da saúde mais de um milhão de pessoas morrem por ano no mundo por acidentes de tráfego e carros que se dirigem sozinhos estão cada vez mais próximos de se tornarem realidade.
Dá para imaginar o número de mortes e acidentes que podem ser evitados, a um nível global, a partir do momento em que os motoristas – e erros – humanos forem retirados da equação? Pouca gente percebeu que esse tipo de inovação vai fazer mais pela saúde do que muitos avanços da medicina (obviamente que se muitos motoristas profissionais já se incomodam com o Uber, imagina a gritaria quando os motoristas de carne e osso forem substituídos por computadores).
Outras inovações estão cada vez mais próximas. Que tal sistemas que conseguem prever o risco de você ter um ataque cardíaco nos próximos dias?
Ou um sistema que tire o erro humano da administração do seu dinheiro e maximize os seus resultados com base em seus objetivos? Que tal, ainda, um laboratório que consiga realizar experimentos de modo automatizado, tirando os erros e idiossincrasias que o ser humano traz? (Em um de meus exemplos favoritos, um pesquisador percebeu que o bafo do que comia no almoço alterava as propriedades físicas de seu experimento - robôs não param para o almoço, e é mais fácil garantir a integridade de um agente químico se não precisarmos passar pelas mãos trêmulas e cheias de tranqueiras daqueles seres feitos de DNA).
Com tudo isso, será que precisamos ter medo de tais avanços?
A melhor pista pode ser encontrada na batalha que começou a coisa toda. As partidas de xadrez entre o Deep Blue da IBM e o mestre Gary Gasparov entraram para a história como a primeira vez em que máquina bateu o ser humano em uma atividade considerada especialidade de seres humanos.
 Até então, considerava-se que computadores eram bons em fazer contas e coisas do tipo, mas que dificilmente substituiriam a capacidade humana de criar estratégias em algo complexo como um jogo de xadrez.
O Deep Blue, basicamente usava um método de força bruta: a partir de um banco de dados gigantesco, usava as partidas dos grandes mestres do Xadrez para determinar a melhor estratégia a ser seguida. Gasparov, na tentativa de vencer, criou uma estratégia que fazia coisas que um verdadeiro mestre de xadrez não faria, numa tentativa de enganar o programa do Deep Blue e ganhar a dianteira.
Como sabemos hoje, não deu tão certo assim, e ao que diz a lenda o humano ficou bastante chateado com a derrota.
No começo desse ano, foi revelado que o Google aumentou o desafio, e criou um sistema de inteligência artificial capaz de vencer mestres de Go. Não vou entrar em detalhes do jogo em si, mas Go é um jogo de tabuleiro bem mais complexo que xadrez.
É um jogo que precisa de raciocínio, mas é impossível calcular tudo. Um jogador precisa usar sua intuição para fazer suas jogadas. O Go é tão complexo que um programa como o do Deep Blue seria impossível de ser executado para ele.
O programa do Google funciona basicamente de duas formas: primeiro ele tem seu banco de dados alimentado; depois, ele começa a jogar consigo mesmo. É com esse “aprendizado” que o programa desenvolve algo que nós humanos chamaríamos de intuição.
A partida com um campeão humano será no mês que vem, e mesmo se não vencer, o sistema computacional já é tido como um grande avanço da área de inteligência artificial. Uma prova de que mesmo coisas consideradas impossíveis, como criar estratégias para um jogo complexo como o Go, agora são possíveis com um computador espertinho.
Isso quer dizer que, eventualmente, todos nós ficaremos obsoletos?
Basta olhar, novamente, o que ocorreu na área do xadrez. Após sua derrota, Gasparov participou da criação da modalidade de "xadrez avançado”. É basicamente o velho e bom xadrez, só que cada concorrente pode se utilizar de computadores para tomar sua decisão.
Em vez de lutar contra o computador, a capacidade de varrer imensas bases de dados é usada para os jogadores melhorarem o próprio jogo. Um humano pode ganhar de outro, um sistema de inteligência artificial pode ganhar de um humano, mas os dois juntos criam algo diferente, e mais efetivo, do que apenas um deles atuando sozinho.
E é basicamente isso que acabará acontecendo: sistemas de A.I. em saúde não vão tornar os médicos irrelevantes, facilitarão o diagnóstico e impedirão erros. Seu carro pode demorar para assumir completamente a responsabilidade de tomar todas as decisões por você, mas imagine quando for normal um carro sair de fábrica com a capacidade de determinar se um motorista está cansado demais para dirigir, corrigir eventuais erros e até a forçar seu proprietário a descansar?
Imagine quando seu telefone, smartwatch ou outro aparelho seja capaz de aprender o suficiente sobre você para te dizer que você não vai gostar de determinado restaurante, ou te ajudar a decidir qual imóvel comprar de acordo com os seus hábitos e comportamentos?
O que acontece quando o seu “asisstente virtual” ganhar alguma medida de inteligência de verdade e puder facilitar sua vida de uma forma que antes só quem podia se dar ao luxo de pagar um bom assistente em carne e osso poderia fazer?
A tecnologia não precisa ser algo que vem para substituir. Obviamente, em tarefas maçantes ou propensas a erros, é até bom que isso aconteça. Mas, fora isso, as promessas da inteligência artificial são a de fornecer uma inteligência aumentada aos seus donos.
Ao fazer isso, tornarão nossos trabalhos mais eficientes, práticos e seguros. Minha aposta é que tais sistemas vão melhorar, e não ameaçar, a vida de ninguém.
Pelo menos até algum computador espertinho resolver que não precisa da gente e se recusar a ser desligado. Aí, corram para as montanhas!
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