Os defeitos pessoais e as limitações humanas
dos homens públicos, inevitáveis e recorrentes como as chuvas de verão, não
matavam a política. Hoje, no entanto, assistimos ao advento da pornopolítica e
ao avanço de um inclemente deserto de liderança. A vida pública, com raras e
contadas exceções, transformou-se num espaço mafioso, numa avenida transitada
por governantes corruptos, políticos cínicos e gangues especializadas no
assalto ao dinheiro público.
Não bastasse tudo isso, e não é pouco, o
Brasil foi tomado por um grupo disposto a impor à sociedade um modelo
ideológico autoritário de matriz marxista: o bolivarianismo. Optaram, esperta e
pragmaticamente, pelo atalho gramsciano: o populismo democrático.
De acordo com a constatação insuspeita de
Frei Betto, nas favelas que se multiplicam por todo o País se encontram hoje
barracos devidamente equipados com geladeira, eletrodomésticos, televisores
moderníssimos, às vezes até mesmo carros populares e outros objetos de consumo,
mas quando saem porta afora as pessoas não encontram escolas, postos de saúde e
hospitais decentes, transporte público eficiente e barato, segurança adequada,
enfim, os bens sociais que são muito mais essenciais a um padrão de vida digno
do que os bens de consumo que lhes oferecem a ilusória sensação de
prosperidade.
O bolivarianismo tupiniquim, estrategicamente implantado por Lula, rendeu bons resultados aos seus líderes: muito poder e muito dinheiro. Não contaram, no entanto, com três fatores complicadores: a força inescapável da realidade econômica, o papel da liberdade de imprensa e a independência das instituições.
A política econômica populista, que, como
hoje se constata, não tinha possibilidade de se sustentar, provocou a
catastrófica crise que maltrata o Brasil, reduziu a pó o capital político do PT
e transformou Lula num náufrago que se agarra à miragem de sua candidatura em
2018.
Não vai funcionar. Lula é um manipulador,
mas tudo tem limites. Esgotou-se sua capacidade de enrolar. A imagem produzida
de herói do povo brasileiro desabou pela força dos fatos no despenhadeiro da
decepção.
As recentes notas do Instituto Lula a
respeito dos imbróglios imobiliários do ex-presidente, carregadas de flagrantes
incoerências, só reforçam as suspeitas contra Lula e a sua promiscuidade com
empresários corruptos. A população está revoltada. Sente a mordida da traição
populista: corrupção assombrosa, desemprego, inflação, saúde que definha nos
corredores da morte do SUS. Recente pesquisa do Instituto Ipsos confirma a
percepção.
Na avaliação do presidente do Instituto, Cliff Young, a pesquisa demonstra que o PT deixou de ser considerado o partido dos pobres para se transformar na legenda dos corruptos: 71% dos entrevistados consideram o partido de Lula o mais corrupto entre todos. De tal modo que a preferência popular pelo PT, que era de 28% em 2002, ano em que Lula foi eleito presidente pela primeira vez, caiu para 6%, depois de o partido ter permanecido 13 anos no poder. O mito está derretendo.
A liberdade de imprensa, tão execrada pelos
caciques bolivarianos, está cumprindo sua missão. O jornalismo, sem as mordaças
que alguns defendem e livre de quaisquer tentativas de cooptação, tem um papel
decisivo no processo de recuperação do Brasil. Denunciar a corrupção é um dever
irrenunciável. Lula manifesta crescente irritação com o trabalho da imprensa
independente. Seus sucessivos e raivosos ataques à mídia, balanceados com
declarações formais de adesão à democracia, não conseguem mais esconder seus
dragões interiores. Lula está desesperado com o avanço da Lava Jato.
O panorama de ampla, geral e irrestrita bandalheira escancarado pela divulgação diária de novas e escandalosas pilhagens, acordos e chantagens coloca o Brasil diante do risco da banalização da safadeza que pode matar a indignação, destruir a esperança e gerar um indesejável fatalismo. É isso, caro leitor, que a bandidagem quer. Mas é isso que você, brasileiro honrado, não pode aceitar.
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