segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A Química da felicidade


Áreas cerebrais são inibidas e outras ativadas, enquanto neurotransmissores passam mensagens para que a felicidade aconteça. Entenda o que acontece quando estamos felizes.


“Quando a gente está sonhando, as áreas cerebrais no córtex pré-frontal que passam o dia todo lhe freando, impondo limites e regras sociais, deixam de agir, e recebem menos fluxo sanguíneo. O fluxo fica mais concentrado no sistema límbico, responsável pelas emoções. Por isso que você sonha fazendo coisas que você não faria normalmente. O Carnaval são quatro dias de sonho”. É com essa metáfora que o psiquiatra e professor do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), David Lucena, começa a explicar os mecanismos que se sucedem no cérebro quando estamos tomados pela alegria do Carnaval. 

Esse processo influencia a ideia de liberdade, de se sentir aberto a possibilidades não tão comuns no dia a dia e, também, um dos motivos pelos quais as pessoas se fantasiam. Na prática, é o que o biólogo Thieres Pinto, 33, apaixonado assumido pelo Carnaval, diz sentir no período. “É uma sensação de liberdade. De que é tudo mais permitido. Fui vestido de lutador de luta livre para uma padaria de manhã e as crianças adoraram, vieram brincar. Em outro dia, não me deixariam entrar daquele jeito, mas no Carnaval pode. A Cidade inteira fica mais leve”, comenta.
  
A inibição da parte cerebral mais racional e a ativação de áreas responsáveis pela emoção e pelo humor se dão quando o corpo, ainda na ansiedade pelo Carnaval, começa a produzir e transmitir neurotransmissores. De acordo com a neurofisiologista Geanne Matos, os principais são a dopamina, a serotonina, a endorfina, a adrenalina e a noradrenalina. Elas agem em conjunto e estimulam principalmente o sistema límbico que, por ter muitos receptores, reconhece as sensações e as repassa ao córtex frontal, que compreende e faz o corpo agir.
 
Cada uma dessas substâncias provoca uma reação no organismo e é responsável pelo estado de euforia, próprio do Carnaval. “É devido à endorfina, por exemplo, que você aguenta a maratona de quaro dias de festa e só sente o cansaço no final. E é a dopamina que ativa suas lembranças, cria novas e lhe motiva a viver a experiência”, aponta Geanne, explicando o papel da dopamina, conhecida como neurotransmissor da alegria justamente por ser a ponte entre a região cerebral onde as emoções são recebidas e o local onde elas são decodificadas.

Alegria coletiva
Das coisas que o biólogo Thieres concorda com a advogada Bárbara Lia Melo, 31, em relação ao Carnaval é a máxima de que não é possível fazer folia sozinho. “É uma alegria estar ali com os amigos, criando laços e compartilhado aquele momento”, diz Bárbara. E o biólogo dialoga: “Carnaval é uma felicidade coletiva. É preciso interagir com as pessoas, tirar onda, brincar. É uma alegria muito compartilhada”. Para a professora Geanne, esse é o princípio da “alegria contagiosa”. “Quando vemos fotos de pessoas sorrindo, é passada a mensagem pela noradrenalina para o córtex frontal esquerdo de que podemos ficar felizes também”, explica.
 
Já David explica a felicidade de estar junto aos amigos, tão presente no Carnaval, citando uma pesquisa, intitulada Estudo do Desenvolvimento Adulto, de pesquisadores americanos da Universidade de Harvard. “Eles acompanharam um grupo de mais de 700 pessoas por 75 anos e faziam escalas para medir a qualidade de vida. Eles identificaram que o principal fator — antes mesmo do trabalho, do dinheiro ou do sucesso — que os fazia felizes e saudáveis era as genuínas relações interpessoais”, conta. 
 
Quando chega a ingrata Quarta-feira de Cinzas acaba o “sonho”. O pré-frontal volta a regular o comportamento. E, se as experiências foram boas e os momento felizes, a dopamina age gravando os quatro dias no hipocampo. Para reviver tudo outra vez quando fevereiro chegar e a saudade não matar mais a gente.
Comente este artigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário