Não só Ovídio, que nos deixou A arte de amar, mas todo o
mundo tratou de nos incutir a sublime missão de amar ao próximo. Isso é bom,
mas por que não terão feito, com igual empenho, que aprendêssemos a amar-nos a
nós próprios? Porque é mais fácil ensinar a amar o vizinho, pois logo você será
reconhecido generoso, o que lhe fará ficar bem na foto.
Já gostar de si é
mais delicado para acertar a mão, um pouco demais, você fica um arrogante
insuportável, um pouco de menos, você vira um autoflagelador péssima companhia.
Não fazem parte da educação esses assuntos com o próprio eu, esse cara de quem
nunca nos livramos.
Nunca nos disseram: filhinho, vem que vou te ensinar a que
gostes de ti igual que gostas da mamãe. Dela nos queixamos, óbvio, com razão,
todo bom filho se queixa de sua mãe, a melhor maneira de aguentar a dureza
desta vida. Por que ela não nos contou a historinha do Ariano Suassuna que, ao
se reconhecer curto de cabeça, diz que levou 70 anos para dar-se conta de que
não gostava de cafezinho, se todo brasileiro gosta? Igual que o escritor, de
meninos ela não nos ensinou a gostar-nos de si, para, então, poder saber do que
a gente gosta neste mundo.
Cuidas de ti igual que cuidas de teu irmão? Gostas de ti
mesmo? Há momentos em que te amas? És implacável contigo em igual medida que o
és com os outros? És gentil, amável para contigo? Casarias contigo próprio?
Pensaste alguma vez em pedir divórcio da tua pessoa? És pesado ou leve para ti
mesmo? Já te apresentaste a ti próprio? Quem sou eu, a sós? E com o outro? Já
te perguntaste?
“Se não sou eu por mim, quem por mim? Se eu sou só por
mim, quem sou eu?”, um reforço talmúdico para tirar o bolor de si mesmo e
mostrar-se o que se é ao próprio eu. Ou ainda a sinalização bíblica: “amai ao
próximo como a ti mesmo” que, se pusermos ao contrário também dá o que pensar:
amai a ti mesmo como amas ao próximo. A instigante arte de amar-se requer mais
estudo.
Comente este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário