A criação
dos estados nacionais é, como se sabe, fruto da Revolução Industrial, onde a
burguesia precisava de segurança jurídica e militar para desenvolver o
comércio.
Nas
fronteiras Brasil-Uruguai este conceito tem muito pouco valor ou inexiste, nas
relações sociais e interpessoais. É uma demonstração explícita de que as regras
estabelecidas pela lógica nacionalista não podem explicar as vivências nas
regiões de fronteira aqui no “sul do mundo”.
E escolho
a palavra vivência, justamente por que este conceito é o que melhor sintetiza o
modo de se enxergar de um doble chapa. Vivência significa que existe um
processo psicológico que atribui valores ao ato de viver, que não são apenas
passivos e emocionais e sim uma formulação intelectual ativa e consciente.
Percebe-se
que quando se identificam como doble chapa as pessoas não o fazem nem com
orgulho nem com vergonha, pois esta é uma condição cultural, inerente ao modo
de vida fronteiriço. É difícil enquadrá-lo em uma nacionalidade. Ele não tem.
Isso não quer dizer que ele negue sua origem - de um lado ou de outro -, mas
suas relações com a sociedade em que vive não encontram respostas neste
limitado conceito de nação.
Utilizam
os dois idiomas, as duas moedas, participam das duas eleições, são cidadãos de
um lugar só: da fronteira.
As
fronteiras Brasil-Uruguai são Santana do Livramento-Rivera, Quaraí-Artigas,
Jaguarão-Rio Branco, Barra do Quaraí-Bella Unión, Chuí-Chuy e Aceguá-Acaguá.
Estas
cidades formam o que se chama de conurbações, que são localidades onde as
culturas e hábitos sociais se misturam, fazendo com que pareçam ser um só
lugar.
Existe um
grupo de linguistas e historiadores que já formulou estudos para propor a
inclusão do portunhol, mistura entre o português e espanhol, considerada uma
forma de expressão “no meio do caminho”, como Patrimônio Cultural Imaterial da
Unesco, uma forma de enfrentar todo o preconceito destinado a este dialeto.
Em um
mundo com tantos conflitos por territórios, por riquezas naturais e
divergências culturais de toda ordem, as fronteiras entre Brasil e Uruguai dão
uma lição de como viver sem fronteiras.
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