quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Sem fronteiras


A criação dos estados nacionais é, como se sabe, fruto da Revolução Industrial, onde a burguesia precisava de segurança jurídica e militar para desenvolver o comércio. 
Nas fronteiras Brasil-Uruguai este conceito tem muito pouco valor ou inexiste, nas relações sociais e interpessoais. É uma demonstração explícita de que as regras estabelecidas pela lógica nacionalista não podem explicar as vivências nas regiões de fronteira aqui no “sul do mundo”.
E escolho a palavra vivência, justamente por que este conceito é o que melhor sintetiza o modo de se enxergar de um doble chapa. Vivência significa que existe um processo psicológico que atribui valores ao ato de viver, que não são apenas passivos e emocionais e sim uma formulação intelectual ativa e consciente.
Percebe-se que quando se identificam como doble chapa as pessoas não o fazem nem com orgulho nem com vergonha, pois esta é uma condição cultural, inerente ao modo de vida fronteiriço. É difícil enquadrá-lo em uma nacionalidade. Ele não tem. Isso não quer dizer que ele negue sua origem - de um lado ou de outro -, mas suas relações com a sociedade em que vive não encontram respostas neste limitado conceito de nação.
Utilizam os dois idiomas, as duas moedas, participam das duas eleições, são cidadãos de um lugar só: da fronteira.
As fronteiras Brasil-Uruguai são Santana do Livramento-Rivera, Quaraí-Artigas, Jaguarão-Rio Branco, Barra do Quaraí-Bella Unión, Chuí-Chuy e Aceguá-Acaguá.
Estas cidades formam o que se chama de conurbações, que são localidades onde as culturas e hábitos sociais se misturam, fazendo com que pareçam ser um só lugar.
Existe um grupo de linguistas e historiadores que já formulou estudos para propor a inclusão do portunhol, mistura entre o português e espanhol, considerada uma forma de expressão “no meio do caminho”, como Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco, uma forma de enfrentar todo o preconceito destinado a este dialeto.
Em um mundo com tantos conflitos por territórios, por riquezas naturais e divergências culturais de toda ordem, as fronteiras entre Brasil e Uruguai dão uma lição de como viver sem fronteiras.


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