Intenção é que as palavras em português sejam escritas da
mesma forma em qualquer um dos países que falam o idioma
Intenção
é que as palavras em português sejam escritas da mesma forma em qualquer um dos
países que falam o idioma
Em 1º de
janeiro, as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa tornaram-se
obrigatórias no Brasil. A intenção é que as palavras em português sejam
escritas da mesma forma em qualquer um dos países que falam o idioma.
A
reportagem conversou com a diretora executiva do Instituto Internacional da
Língua Portuguesa (IILP), Marisa Mendonça, para saber como está a implementação
do Acordo nos demais países de língua portuguesa.
“Os
países estão em estágios completamente diferentes. Não só no que tange à
decisão das autoridades [responsáveis por ratificar e coordenar o processo de
implementação], mas nas possibilidades financeiras e de recursos humanos para
apoiar esse processo”, avalia Marisa.
Com sede
em Cabo Verde, o IILP é uma instituição da Comunidade dos Países da Língua
Portuguesa (CPLP) com personalidade jurídica e autonomia científica,
administrativa e patrimonial. O instituto monitora a implementação do acordo em
cada país e oferece apoio no processo. Integram a CPLP Angola, Brasil, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e
Príncipe e Timor-Leste. Leia os comentários feitos por Marisa sobre a
implementação do Acordo em cada um dos países da CPLP:
Guiné-Bissau
É um país
que enfrenta problemas de instabilidade social e política graves. Disputas
internas político-partidárias travam projetos de governo e têm levado à
deposição de parlamentares: “Para a Guiné-Bissau, as prioridades devem ser
outras neste momento. Permitir que o país encontre estabilidade para que isso
possa servir de base para o cumprimento de protocolos e de processos com os
quais o país se comprometeu, entre eles o acordo ortográfico.”
Guiné Equatorial
Tornou-se
membro efetivo da CPLP em 2014. O país busca resgatar a língua portuguesa no
território, que tem como línguas oficiais o francês, o espanhol e o português,
falado na Ilha de Ano-Bom e que deu origem à variante ano-bonense: “A Guiné
Equatorial busca a reimplementação da língua portuguesa no território. A grafia
que prevalecerá será a nova. É uma situação completamente diferente da dos
outros países.”
Moçambique
O acordo
ainda não foi ratificado no país. Moçambique passou por novas eleições em 2014
e, segundo Marisa, há esperança de que o acordo ganhe espaço com os novos
representantes: “Temos agora, no país, um governo com prioridades muito
demarcadas de nível econômico, social e político. Queremos crer que agora a
implementação do acordo ortográfico será realizada, dentro daquilo que as autoridades
moçambicanas acharem que é confortável e de acordo com os recursos que o país
possui.”
Portugal
O país
terminou o processo de transição no ano passado. As crianças e os jovens estão
aprendendo, nas escolas, a nova ortografia. Ainda há resistência por parte de
setores da sociedade, que encaram as mudanças como perda de identidade. Para
Marisa, esses grupos são minoria. “Acho natural que haja pessoas que se oponham
ao acordo: O acordo provoca sempre desacordos, até nas coisas mais simples do
cotidiano. Estamos falando de hábitos, de forma de escrever. Muita gente já
estava habituada [às normas antigas]. Eu não consigo pensar em um retrocesso
desse processo, nem em Portugal, nem no Brasil.”
Timor-Leste
O tétum e
o português são as duas línguas oficiais do país, enquanto o indonésio e a
língua inglesa são consideradas línguas de trabalho pela atual constituição.
Mesmo assim, o português não é amplamente falado pela população: “O grande
objetivo do país é ter a língua portuguesa presente junto dos demais idiomas,
então, eles não estão tão focados no preciosismo da grafia”.
São Tomé e Príncipe
Foi o
quarto país a ratificar o acordo. Ele está sendo aplicado desde janeiro de 2012
e já é usado nos documentos do Estado e de demais organismos oficiais.
Angola
O país
ainda não ratificou o acordo. No entanto, foi um dos que mais contribuiu
financeiramente para a elaboração do vocabulário comum, que reúne todas as
palavras da língua e é ferramenta imprescindível para uma melhor aplicação do
acordo: “As instituições do Estado estão trabalhando para a ratificação do
Acordo. Não cabe a nós pressionar nem Angola nem nenhum dos demais países.”
No Brasil
Apesar de
terem se tornado obrigatórias apenas este ano, as novas regras do Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa já estão presentes em livros, veículos de
comunicação, comunicados oficiais do governo e materiais didáticos usados pelas
escolas em todo o País. Segundo o integrante da Academia Brasileira de Letras,
Evanildo Bechara, acadêmico, professor e filólogo, o que faltava ao Brasil era
a obrigatoriedade.
“O que
estava faltando era entrar em vigor, todo mundo passar a usar. Quando todos
usarem as novas regras, as deficiências serão ressaltadas e, então, se impõe
algumas mudanças”, diz Bechara. Ele exemplifica o que ocorreu no Brasil há
alguns anos. Até agora, o Brasil usava um sistema definido em 1943. Em 1971, o
País fez algumas mudanças. Retirou do idioma escrito, por exemplo, os acentos
diferenciais: antes, escrevia-se êle e govêrno, palavras, hoje, sem
acento.
Assinado
em 1990 com outros Estados-Membros da CPLP, para padronizar as regras
ortográficas, o acordo foi ratificado pelo Brasil em 2008 e implementado sem
obrigatoriedade em 2009. De acordo com o Ministério da Educação, o acordo
alterou 0,8% dos vocábulos da língua portuguesa no Brasil e 1,3% em Portugal.
O
português, explica Bechara, era a única língua com grafias diferentes, o que
dificulta a publicação de documentos de organismos internacionais no idioma,
que tinham de ser adequados à grafia de Portugal e do Brasil. “Isso dificulta a
difusão e a expansão da língua no mundo. Como a língua portuguesa está entre as
mais faladas, exige maturidade política e uma decisão científica no sentido de
chegar a um acordo”, comenta. “Essa unificação não significa unificar a língua.
Portugal e Brasil continuarão com as respectivas pronúncias.
A reforma é na língua, para resolver um
problema ortográfico.”
EBC.
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