terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Consequências do gole a mais

O álcool reduz a percepção e retarda os reflexos

“Tive meu primeiro contato com a bebida alcoólica aos 16 anos. De lá para cá não parei mais. Na primeira vez, tomei metade de uma garrafa de vodca. Sofri horrores e parei no hospital. Deram-me soro e os médicos tiveram de injetar glicose na minha veia. Hoje, bebo menos, mas o álcool vicia e eu gosto.” O relato de Jorge (nome fictício), universitário de 19 anos. Isso reflete a vulnerabilidade de jovens diante do consumo indiscriminado do álcool.
O atropelamento de um operário que trabalhava na manutenção da BR-153, perímetro urbano  por uma estudante de 22 anos, na madrugada da última quinta-feira (7), por ter feito consumo excessivo de bebida reacende o debate dos perigos da substância lícita.
O álcool na corrente sanguínea provoca a redução da percepção e o retardamento dos reflexos, explica o médico e psiquiatra Arthur Guerra. “A dosagem excessiva conduz à perigosa diminuição da percepção e à total lentidão dos reflexos, diminuindo a consciência do perigo”, afirma. O especialista acrescenta que todo condutor em estado de embriaguez, mesmo leve, compromete a própria segurança, a dos demais usuários da via e a dos passageiros que entregam 100% de suas vidas nas condições deste motorista.
Beberrão
Estima-se que o Brasil consome algo próximo a 15 bilhões de litros de bebidas alcoólicas por ano. Desses bilhões, 14, aproximadamente, são de cerveja –  e o 1 bilhão restante pertence à categoria das chamadas bebidas destiladas (uísques, vodcas, vermutes, tequilas e outras). Vale lembrar que a Ambev, maior companhia de bebidas alcoólica do Brasil, teve lucro líquido de R$ 2,51 bilhões nos meses de abril, maio e junho de 2015.
“O álcool é uma substância facilmente absorvida pelo organismo. Depois de alguns minutos após a ingestão de alguma bebida alcoólica, ela já está correndo no sangue e chegando aos principais órgãos vitais do corpo (um deles é o cérebro)”, explica Guerra. Essa substância altera a comunicação entre os neurônios diminuindo as repostas do cérebro ao organismo, salienta o médico.
Órgãos
As principais áreas afetadas pelo uso do álcool são o córtex frontal (responsável pela coordenação motora do nosso corpo) e o cerebelo (responsável pela leitura espacial do corpo e do equilíbrio). Assim, uma pessoa que bebe, sobretudo de forma exagerada, perde a capacidade de resposta motora e espacial, aptidões essenciais para conduzir um veículo.
O manual de Classificação Internacional de Doenças (CID) 10, há tempos reconhece aspectos patológicos relacionados ao uso do álcool, catalogando, dentre outros, a síndrome de abstinência do uso do álcool, o transtorno psicótico em sua decorrência e a síndrome de dependência alcoólica.
“Marvadas”
O Relatório Global sobre Álcool e Saúde, publicado em maio de 2014 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), estimou que, no Brasil, pessoas com 15 anos ou mais consumiram o equivalente 8,7 litros de álcool no ano de 2010. Enquanto isso, indivíduos a partir da mesma faixa etária pelo resto do mundo ingeriu cerca de 6,2 litros da substância, o equivalente a 13,5g por dia. O levantamento apontou ainda que o País consumiu 40% mais álcool em comparação a média mundial.
Levantamento Domiciliar sobre o uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil revelou que 12,3% da população, das 108 maiores cidades brasileiras, já se encontra na fase de dependência da doença do alcoolismo. Os dados são referentes ao ano de 2005 e divulgados em 2006 pelo Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas (CEBRID), vinculada a Universidade Federal de São Paulo.
Relatório Global sobre Álcool e Saúde, publicado em maio de 2014 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apontou que, em todo o mundo, a faixa etária entre 20 a 49 anos é a principal afetada em relação a mortes associadas à ingestão de bebida alcoólica. No Brasil, entre 60% e 63% dos índices de cirrose hepática têm relação com a substância.
Comente este artigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário