O álcool reduz a percepção e retarda os reflexos
“Tive meu primeiro contato com a
bebida alcoólica aos 16 anos. De lá para cá não parei mais. Na primeira vez,
tomei metade de uma garrafa de vodca. Sofri horrores e parei no hospital.
Deram-me soro e os médicos tiveram de injetar glicose na minha veia. Hoje, bebo
menos, mas o álcool vicia e eu gosto.” O relato de Jorge (nome fictício),
universitário de 19 anos. Isso reflete a vulnerabilidade de jovens diante do
consumo indiscriminado do álcool.
O atropelamento de um operário que
trabalhava na manutenção da BR-153, perímetro urbano por uma estudante de 22 anos, na madrugada da
última quinta-feira (7), por ter feito consumo excessivo de bebida reacende o
debate dos perigos da substância lícita.
O álcool na corrente sanguínea
provoca a redução da percepção e o retardamento dos reflexos, explica o médico
e psiquiatra Arthur Guerra. “A dosagem excessiva conduz à perigosa diminuição
da percepção e à total lentidão dos reflexos, diminuindo a consciência do
perigo”, afirma. O especialista acrescenta que todo condutor em estado de
embriaguez, mesmo leve, compromete a própria segurança, a dos demais usuários
da via e a dos passageiros que entregam 100% de suas vidas nas condições deste
motorista.
Beberrão
Estima-se que o Brasil consome algo
próximo a 15 bilhões de litros de bebidas alcoólicas por ano. Desses bilhões,
14, aproximadamente, são de cerveja – e o 1 bilhão restante pertence à
categoria das chamadas bebidas destiladas (uísques, vodcas, vermutes, tequilas
e outras). Vale lembrar que a Ambev, maior companhia de bebidas alcoólica do
Brasil, teve lucro líquido de R$ 2,51 bilhões nos meses de abril, maio e junho
de 2015.
“O álcool é uma substância
facilmente absorvida pelo organismo. Depois de alguns minutos após a ingestão
de alguma bebida alcoólica, ela já está correndo no sangue e chegando aos
principais órgãos vitais do corpo (um deles é o cérebro)”, explica Guerra. Essa
substância altera a comunicação entre os neurônios diminuindo as repostas do
cérebro ao organismo, salienta o médico.
Órgãos
As principais áreas afetadas pelo
uso do álcool são o córtex frontal (responsável pela coordenação motora do
nosso corpo) e o cerebelo (responsável pela leitura espacial do corpo e do
equilíbrio). Assim, uma pessoa que bebe, sobretudo de forma exagerada, perde a
capacidade de resposta motora e espacial, aptidões essenciais para conduzir um
veículo.
O manual de Classificação
Internacional de Doenças (CID) 10, há tempos reconhece aspectos patológicos
relacionados ao uso do álcool, catalogando, dentre outros, a síndrome de
abstinência do uso do álcool, o transtorno psicótico em sua decorrência e a
síndrome de dependência alcoólica.
“Marvadas”
O Relatório Global sobre Álcool e
Saúde, publicado em maio de 2014 pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
estimou que, no Brasil, pessoas com 15 anos ou mais consumiram o equivalente
8,7 litros de álcool no ano de 2010. Enquanto isso, indivíduos a partir da
mesma faixa etária pelo resto do mundo ingeriu cerca de 6,2 litros da
substância, o equivalente a 13,5g por dia. O levantamento apontou ainda que o
País consumiu 40% mais álcool em comparação a média mundial.
Levantamento Domiciliar sobre o uso
de Drogas Psicotrópicas no Brasil revelou que 12,3% da população, das 108
maiores cidades brasileiras, já se encontra na fase de dependência da doença do
alcoolismo. Os dados são referentes ao ano de 2005 e divulgados em 2006 pelo
Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas (CEBRID), vinculada a Universidade
Federal de São Paulo.
Relatório Global sobre Álcool e
Saúde, publicado em maio de 2014 pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
apontou que, em todo o mundo, a faixa etária entre 20 a 49 anos é a principal
afetada em relação a mortes associadas à ingestão de bebida alcoólica. No
Brasil, entre 60% e 63% dos índices de cirrose hepática têm relação com a
substância.
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