segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O preço da ignorância



A frase desafiadora de Derek Bok, advogado, educador, escritor e ex-presidente da Universidade de Harvard – “Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância.” –, parece ter sido inspirada no que acontece nos países subdesenvolvidos, como o Brasil, onde a experiência da ignorância vem já de vários séculos; sabe-se que o preço pago por isso é caro, mas insiste-se no erro, rejeitando todo e qualquer projeto de melhoria no setor.

Exemplo disso foi o desvirtuamento dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), popularmente chamados de “Brizolões”. Implantados no Rio de Janeiro, pelo governador Leonel Brizola, nos anos 1980 e 90, planejados pelo brilhante antropólogo e educador Darcy Ribeiro, com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, destinavam-se a oferecer ensino público de qualidade, em período integral.

 O horário das aulas estendia-se das 8 às 17 horas, oferecendo, além do currículo regular, atividades culturais, estudos dirigidos e educação física. Os CIEPs forneciam refeições completas aos alunos, além de atendimento médico e odontológico. A capacidade média de cada unidade era para mil alunos.

Com esse sistema, que poderia ter sido implantado em todo o país, as crianças carentes são tiradas das ruas e das mãos dos bandidos que as aliciam em suas quadrilhas, passando a receber a educação necessária para se tornarem cidadãos honrados. E quanto emprego seria criado para tanta gente que funcionaria nesses centros educacionais!

Lamentável que este empreendimento fantástico tenha sido descaracterizado por governos que se sucederam ao do Brizola, por isto não vemos hoje os frutos que poderia ter dado.

Diga-se de passagem que não estou fazendo propaganda para nenhum candidato a nada, pois tanto os idealizadores quanto os realizadores do projeto já estão mortos. A minha propaganda é para a Educação! Estou cansada de tanta ignorância no nosso país, que nos faz pagar um preço caro demais.

Qual é o preço? São vidas humanas ceifadas todos os dias: tanto as vidas das crianças desamparadas que se tornam bandidos, quanto as vidas das pessoas que eles atacam.

Qual é o preço? São os custos altos de prisões ineficazes, que não cumprem o papel de recuperar o preso, pois oferecem condições precárias; também não cumprem o papel de proteger a sociedade, pois os criminosos são soltos inapropriadamente, a meu ver, ou fogem “inexplicavelmente”, para cometer crimes ainda piores.

Qual é o preço? São as absurdas situações em que vivemos no cotidiano brasileiro, acuados com medos e estresses que desgastam nossa saúde, enquanto poderíamos estar usando nossos neurônios para muitas outras atividades produtivas, em que todos se beneficiariam.

Fala-se em reduzir a maioridade penal. Não consigo entender como isso pode mudar alguma coisa. Alguém é ingênuo ao ponto de achar que os menores deixarão de cometer crimes por causa disso? O que vai acontecer é que vai haver mais presos amontoados nas cadeias e todas as consequências que advêm disso.

 Eles saem mais deteriorados ainda e mais perigosos para a sociedade. Além disso, há crianças mais jovens que já são criminosos e que não vão ser enquadrados nessa categoria.

Para sanar o problema de imediato, é óbvio que o menor infrator que comete crimes graves deveria receber punição mais severa do que a permitida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – este estatuto é que tem que mudar! Que seja preso de verdade e cumpra pena, mas não junto com os maiores! Não deveria ser “promovido” a adulto, pois com a maioridade perde-se, entre outras coisas, a possibilidade de chamar os pais dessas crianças à responsabilidade que lhes cabe também!

Acho que os critérios para punição do menor têm que ser revistos. O que chamam de “crime violento”? Será que não criou-se uma tolerância à gravidade das ocorrências? As agressões nas ruas, as invasões de domicílio, de lojas, todos os tipos de assalto a mão armada... O que são? Um bando de meninos que joga um transeunte no chão, corta-lhe o braço com canivete, faca ou caco de vidro, para roubar-lhe a bolsa, carteira, ou celular... Isto não é um ato de violência? É preciso que seja hediondo para considerar esses bandidos perigosos?

As estatísticas que vêm sendo apresentadas, para justificar isso ou aquilo, estão muito aquém da realidade. Quem vive no Brasil sabe disso.

Eu que já lá não vivo há muitos anos – e a situação não parece ter melhorado, muito pelo contrário – presenciei cenas terríveis no cotidiano dos cidadãos, que não entraram em estastística alguma porque, quando a polícia chegava, os menores infratores já haviam fugido. 

Estes dados que escapam aos registros geram análises erradas em estudos que colocam os meninos de rua menos perigosos do que realmente são. Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente continua com critérios no mínimo defasados. Vivemos num mundo surreal no Brasil! Agora, a situação está piorando mais ainda, com esta onda de facadas no Rio!

E que futuro têm esses meninos? Quando não são traficantes de droga, são drogados. Vivem em disputas entre eles, se matam a torto e a direito. Se estivessem nas escolas o dia inteiro, seriam formados para serem cidadãos honestos, capazes de dar bons frutos; não estariam vagabundeando pelas ruas.

Na minha opinião, não resta a menor dúvida de que a solução a médio e longo prazo é a Educação, com escola em tempo integral. Mas tem que ser um processo continuado, não se pode abandoná-lo com poucos anos de experiência, como aconteceu.

Uma das primeiras coisas que meu marido observou, na primeira vez que foi ao Brasil, no trajeto do aeroporto para casa, foi a quantidade de crianças na rua. E perguntou se elas não iam à escola... Eu tive que explicar, muito envergonhada, que nossos cursos são em turnos. 

Ele ficou surpreso, pois desde que se entende por gente, as escolas aqui no Canadá são em tempo integral, caia neve ou faça sol.

Por falar em neve, acho que seria mais fácil nevar e fazer bastante frio no Brasil do que esperar alguma atitude razoável por parte de nossos políticos e governantes, infelizmente.

Mas não podemos desistir! Vamos continuar lutando por um Brasil digno!



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A escola que não ensina nada


O conhecimento apresentado nas instituições de ensino é completamente vazio frente à vida.



Não é de hoje que o ensino escolar é limitado a um punhado de coisas que praticamente não iremos utilizar no dia a dia, porém, somos obrigados a "saber" (leia-se decorar) para nos tornarmos "pessoas de valor" diante da sociedade.

O mero e limitado conhecimento oferecido nas escolas faz parte de um padrão social para que as pessoas sejam simplesmente criadas em uma grande esteira de produção que fabrica pessoas prontas para serem escravas eternas.

As pessoas que possuem melhores condições de vida são aquelas que fazem algo por si mesmas e buscam o conhecimento que realmente pode fazer alguma diferença na vida delas: o conhecimento sobre a vida.

Conhecer sobre a vida é conhecer o que é realmente importante e entender que não é necessário - ter - para - ser - alguém diante da sociedade ou do grupo em que se vive. As crianças aprendem que precisam ser idênticas às outras ou serão tidas como estranhas para outras crianças. 

O desejo de aceitação já se inicia desde cedo e logo a criança cresce a faz parte de um grupo escolhido por ela para que possa partilhar das mesmas coisas, querendo ou não, como meio de pagamento para a aceitação de tal grupo.

O medo da solidão e da exclusão faz das pessoas escravas umas das outras e logo todos perdem a identidade completamente. As escolas não ensinam nada e nunca irão ensinar, pois fazem parte de um sistema retardador de pessoas que fabricam robôs prontos para obedecer, se calar e se fechar dentro de determinado grupo.

A única coisa que pode libertar alguém da prisão mental criada pela sociedade é o conhecimento. Aliás, é até mesmo engraçado falar mal das escolas e ao mesmo tempo dizer que é necessário buscar conhecimento. Isso acontece porque existe uma grande confusão quando se fala em conhecimento e educação.

A escola apenas repassa um conhecimento técnico e não faz mais nada, além disso. A escola ou qualquer outra instituição de ensino formadora de profissionais, serve apenas para disseminar conhecimentos técnicos e não conhecimentos para o desenvolvimento humano.

Não é por acaso que encontramos milhares de pessoas completamente despreparadas para o convício social, pois não sabem lidar com absolutamente nada da vida. Não entendem sobre sua saúde, sobre suas emoções, sobre finanças, sobre família, sobre temperamento, sobre sexo, sobre relacionamentos, sobre bens e principalmente, não sabem nem mesmo quem são, seus pontos fracos e fortes.

Ser assim é simplesmente ser igual, ser "normal", como dizem por aí. O problema é que ser "normal" é, também, ser limitado quanto à resolução de seus próprios conflitos interiores e os conflitos com as demais pessoas de convívio comum. Uma pessoa que realmente tem qualidade de vida é aquela que faz tudo aquilo que as pessoas "comuns" fazem.

Quer ser dono de uma empresa? Estude, aprenda e empreenda. Tenha coragem e enfrente seus medos. Quem ter uma boa colocação profissional? Estude, aprenda, fuja do consumismo e use o seu dinheiro para coisas úteis e não para exibicionismos sociais. Isso que acabei de dizer é o mínimo que uma pessoa inteligente deve fazer. 

Há outras dezenas de outras atitudes que pessoas de sucesso devem seguir e são conduzidas por uma: A DISCIPLINA.

A escola não ensina as pessoas a serem pessoas. Ensina as pessoas as serem robôs que saem da fábrica para um vida de escravo.

 Atualmente, todos possuem faculdade e a faculdade vende o sonho do melhor salário por meio do diploma. Pena, que, na verdade, é uma mentira. Se deseja ser funcionário estude. Faça graduação, pós-graduação, mestrado e quem sabe um doutorado. Aliado a isso aprenda a se comunicar, escrever, falar bem, deixe de pagar inglês por 3, 4, 5 ou 6 anos e tente aprender o inglês fluente porque é isso que a maioria dos lugares valoriza.

Não pense que um simples diploma comum vai fazer de você um alguém com um ótimo emprego porque diplomados existem muitos no mercado. Você precisa apresentar um diferencial de alguma forma e aí sim conquistar o melhor lugar. Não limite os seus sonhos. Volto a dizer: Seja inteligente. Guarde dinheiro e faça uma pós-graduação. Evite viver uma vida de luxo de um dia para o outro, pois isso vai dissipar o pouco que conseguiu e com o tempo você vai perceber que muito, se tornou pouco.

Depois de muitos diálogos com profissionais da área de psicologia, desocobri que nem mesmo um curso relacionado à área mental é capaz de formar seres humanos melhores, pois o curso de psicologia, apenas repassa informações técnicas. 

Busque conhecimento e se destaque diante da sociedade limitada e estagnada no comum apresentado pelo sistema. Seja inteligente! Somente pessoas bem desenvolvidas são felizes de verdade e conseguem melhores lugares na sociedade.

Não é uma matemática lógica os resultados por meio do pensamento. Ou seja, não basta pensar diferente, ler e estudar que tudo irá acontecer. Você precisa se mover e colocar em prática suas capacidades e demonstrá-las para  a sociedade. A escola não ensina nada. Aprenda mais sobre finanças, sobre suas emoções, sobre profissões e não tenha medo de enfrentar os seus medos. Os medos são reflexos do desconhecimento sobre algo.

Conheça mais. Vá além. Não seja mais como o gado. Saia da gaiola que a sociedade colocou ao seu redor por meio da retardação mental que cria o medo e é formada pelo desconhecimento. Não é necessário que se torne doutor em tudo. Você precisa dar passos e passos para o seu desenvolvimento diário. Por exemplo, use um mês inteiro para ler um livro, artigos ou reportagens sobre desenvolvimento humano, inteligência emocional e resolução de conflitos internos e depois coloque em prática. 

Aprenda mais sobre você e sobre as pessoas. Isso vai te ajudar a ser uma pessoa melhor.

Na semana seguinte você pode estudar sobre metas, depois sobre gerenciamento do tempo, depois sobre finanças e controlar os seus ganhos, gastos e criar um fundo de reserva, depois sobre o mínimo para manter uma saúde melhor por meio de exercícios, alimentação e assim por diante. 

Você não será um especialista grandioso em tudo, será uma pessoa que possui o conhecimento necessário para uma vida melhor. Tudo isso, porque, a escola, não ensina nada.



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Mentiras e desmandos




A política brasileira está permeada de mentiras, desmandos, equívocos e gestões temerárias. Percebemos, todos os dias, exemplos desastrosos de desperdício de dinheiro público. Os gestores deviam pagar essas contas. São mais de 22.000 CCs nos Ministérios do Planalto. Não cabe essa gente naqueles prédios. E lá se vai o dinheiro público.

O governo federal quer o sacrifício da sociedade, mas não diminui uma máquina inchada e incompetente. Além disso, temos o Mensalão, Lava Jato, BNDES. Sem falar nos desvios nas pequenas compras em todo o setor público. Esse é um assunto que rende vários artigos. Pagaremos a roubalheira e a incompetência?

Outro equívoco grave e atual se refere à criminalização do uso de drogas. A lei atual, que regula a matéria, já descriminalizou o uso. De modo que o Congresso está perdendo seu tempo. A avaliação de traficante e usuário deve ser feito pelo Magistrado que julga. Há casos de gente presa com dez quilos de cocaína, dizendo que é para uso próprio.

 Brincam com a justiça. O MAIS GRAVE EQUÍVOCO, cometido atualmente se refere ao USUÁRIO DE DROGAS. Deputados federais estão dizendo que o usuário de drogas prejudica a si mesmo, a sua saúde. E que não prejudica mais ninguém. MENTIRA.

 Comecemos pelos usuários crack. Estão envolvidos em mais de 80% dos crimes graves. Esses viciados furtam, assaltam e matam, para ter a droga. Começam furtando tudo o que tem dentro de casa. Deixam os familiares sem nada. Depois vão para a rua e cometem toda sorte de violência, para conseguir a droga.

Então é mentira que eles prejudicam apenas a si mesmos. Tem pessoas tão traumatizadas, que não conseguem sair na rua. Ficam doentes depois de ataques, assaltos, homicídios e estupros cometidos por viciados em pedra. E o vício do crack não tem cura.

O maior problema é classificá-lo como traficante ou usuário. Primeiro devemos saber como funciona o método de vender no varejo. O traficante tem consigo poucas pedras, o que teoricamente seria classificado como usuário. Mas ele está vendendo. Se está vendendo é traficante, pequeno ou grande, não interessa.

A criminalidade cresceu, porque cresceu o consumo de crack e de outras drogas novas, como o ecstasy. Mas o usuário de crack não tem cura. É violento, furta, rouba e mata. O uso do crack começou na década de 1990. Desde então a violência não para de crescer. E está ligada umbilicalmente ao desenfreado consumo do crack. Então é fácil concluir que o crackeiro é um criminoso contumaz. Destrói a família e a sociedade.

 ENTÃO É MENTIRA QUE O USUÁRIO DO CRACK SÓ FAL MAL A ELE PRÓPRIO.

E o vício do crack só pode ser curado pela fé e pela doutrina. Não há outro remédio. Ele tem de ser segregado da sociedade. Trabalhei no Júri em Passo Fundo por muitos anos. Em quase todos os casos o álcool estava envolvido. O álcool destruía famílias e levava o usuário ao crime. Mas não se compara aos fumadores da pedra. Álcool e crack são duas bombas em permanente explosão na sociedade, fazendo germinar cada vez mais o crime.

 Que preocupações o governo e o congresso têm com isso? Não vejo nenhuma. O viciado em crack tem de ser isolado e obrigado a um longo tratamento. Alguém discorda?



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A verdade sobre os “traumas” de infância


As carências da vida adulta se devem à razões bem mais complexas que a falta de amor dos pais.


Não é minha intenção subestimar a importância das vivências infantis dolorosas na formação de sintomas chamados de neuróticos na vida adulta. Não gostaria, porém, de continuar a superestimá-los, como têm feito algumas das mais importantes correntes da psicologia contemporânea. 

A importância da infância na formação de nossas estruturas psíquicas é óbvia. Além de ser dependente, de ter o cérebro pronto para operar e receber informações do meio que a cerca, a criança possui uma intuição sofisticada, fruto da evolução incompleta da sua razão lógica – a razão após estabelecer-se completamente, funciona como “camisa-de-força” para as operações psíquicas sensoriais.

O que me preocupa é a forma dedutiva como muitos raciocinam sobre o tema. Observam, por exemplo, um adulto incapaz de ficar só e que busca com urgência qualquer tipo de vínculo afetivo. Ficam sabendo que ele teve uma mãe que lhe deu pouco carinho, pois vinha de uma família em que não era usual a manifestação física do afeto. Correlacionam os dois fatos e deduzem que, “lógico”, esse adulto carente de afeto é produto de uma criança que teve menos amor que precisava.

Pode ser que seja “lógico”, mas nem tudo que é lógico é verdadeiro. O que define a veracidade de uma firmação é sua comprovação prática. Minha experiência clínica mostra que todos nós, adultos, somos carentes, inseguros e com grande dificuldade para estarmos só, mesmo quando tivemos uma mãe amorosa.

Alguns de nós crescemos carentes porque tivemos pouco amor na infância e ansiamos por preencher essa lacuna. Outros porque tivemos muito, acostumamo-nos a isso e não conseguimos viver com menos. As carências da vida adulta não dependem apenas de nossa mãe e das peculiaridades que marcaram a nossa infância. Atribuo essa sensação de incompletude a um acontecimento geral, próprio de toda a espécie humana: a dramática vivência do nascimento, quando nos desgrudamos da mãe e passamos a sentir toda a sorte de inseguranças, desconfortos e desamparo.

O nascer é um “trauma” infantil, que nos marca a todos. Com o passar dos anos, um outro ingrediente entra em cena: o modo como funciona nossa razão. Já pelos 2-3 anos de idade observamos grandes diferenças na reação de crianças expostas ao mesmo fato externo. Diante da morte de um animal de estimação, por exemplo, algumas sofrerão mais que outras. 

Algumas tolerarão melhor frustrações, contrariedades e dores de todo o tipo; outras reagirão com violência sempre que contrariadas. Algumas serão facilmente conduzidas pelos argumentos; outras serão guiadas mais pela vontade que pela razão. 

Não há como negar que algumas dessas diferenças dependem de variáveis inatas e não relacionadas com o ambiente ou às vivências que cada criatura tenha tido de enfrentar.

Não desprezo a possibilidade de certas experiências dolorosas terem forte influência sobre a formação da personalidade de algumas pessoas. Isso, em virtude de terem sido expostas a dores muito graves (estupro, pai que se matou, queimaduras sérias etc.) ou por terem um espírito muito delicado (filhos que se tornam tímidos ou gagos em razão da agressividade dos pais, rapazes que evoluem na direção homossexual por serem objeto de humilhação, pessoas que se tornam obsessivas porque não tiveram espaço para expressão de suas raivas).

O que não me parece correto é generalizarmos esse tipo de reflexão apenas porque nos parece “lógico”. E, o que é mais grave, para explicar condições gerais dos setores humanos: inseguranças, carências afetivas e tantos outros conflitos que todos temos. 

Esse raciocínio equivocado sobre os “traumas” de infância tem acovardado muitos pais, tornando-os incapazes de agir com rigor e determinação na educação dos filhos.



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domingo, 30 de agosto de 2015

Overdoses emocionais



Já fiz terapia com uma psicóloga. As lembranças que tenho do tempo em que só sobrevivi por causa das conversas com ela são contraditórias. Há períodos na vida em que vivemos overdoses. Ora somos muito felizes e todos os nossos poros e manifestações revelam isso, ora somos muito infelizes e transbordamos isso de todas as formas, sendo impossível esconder o que nos move, ou o que nos paralisa.

Quando entramos em crise de verdade nosso sofrimento concentra-se no meio do peito, concretamente, podemos pegá-lo com a mão. Isso é tão concreto que parece uma massa que aperta a garganta.

 Este estado angustiante nos leva a pedir ajuda, com a mão no peito, pedindo algo que nos alivie. Passei por um episódio assim: boca seca, suor excessivo, um redemoinho de água pulsando loucamente no lugar do coração, sensação clara de morte.

Minha psicóloga tateou em busca das chaves dos meus porões e essa busca foi muito sofrida, por que sou, assim como todos, um mistério, por vezes insondável e profundo.

Temos alguns clarões reveladores que nos desnudam, mas temos espaços escuros, quase desconhecidos, escondidos e fechados com uma chave que, com o tempo, perdemos. A chave dos meus porões eu permiti que fosse encontrada, a duras penas, por isso estou bem hoje. Sei lidar com meus fantasmas, mas não sempre.

Através da vida aprendi a fechar alguns compartimentos internos para conseguir me proteger de interferências que vêm lá do passado e que não há necessidade de que continuem me ferindo. Procuro com todas as minhas forças continuar acreditando nas pessoas e em mim mesma.

Procuro continuar na ativa, alerta, sondando o que acontece à minha volta. Observo as pessoas tentando encontrar-me nelas, por que acredito que fazemos parte de uma rede, onde nos reconhecemos e nos constituímos humanos.

Sei que estou viva e pulsante, quando encontro quem não vejo há tempos e acontece uma alegria genuína, que explode em lembranças de situações vividas, nem sempre agradáveis, mas que reconhecemos importantes para nosso crescimento mútuo. Quando acontece esse encontro sei que tudo valeu a pena.

É muito difícil viver sem alegria, sem encontros, sem objetivos, tendo que virar os dias na expectativa de que amanhã será melhor, ou, tendo a nítida sensação de que será pior. Viver na expectativa de futuro é devastador. E quando ficamos velhos é muito pior.

Os fantasmas começam a saltar de dentro dos porões nos assombrando sem trégua, fazendo com que cada esquecimento, cada dor, cada perda sejam prenúncio de tragédias. Sair disso é necessário, ou estragamos a nossa vida e a dos que vivem conosco.

Por tudo isso, por causa dessas overdoses emocionais, quando necessário precisamos pedir ajuda. Por vezes remamos, remamos, remamos e não chegamos a lugar algum, a não ser ao cansaço e à depressão. Aí entra o discernimento de que somos assim, vulneráveis, passageiros, e a consciência de finitude pode ser um impulso para algo que nos mova de forma mais saudável.

A procura por ajuda é um exercício de humildade. Não somos superpoderosos, nem podemos prescindir do amor e do carinho que estão aí, à disposição. Os que nos amam sofrem junto conosco e ficam impotentes tentando entender o momento difícil, tentando ajudar-nos a ancorar nosso barco que insiste em ficar à deriva.

Tenho meus medos, mas perder a alegria é meu medo maior. Olhar para dentro e verificar de onde vem o aperto, às vezes, é tarefa inútil. É necessário conversar, procurar ajuda profissional se necessário, pensar humildemente que o momento é de crise e que isso é comum a todo mundo.

 Subestimar o mal-estar é negar um bem estar que pode estar logo ali, no aconchego da família, dos amigos, em profissionais de confiança, capazes de ouvir sensivelmente o que nos atormenta.
Portanto, vamos viver nossa velhice, nossa crise de meia idade, nossa juventude com a excelência possível, com muitas overdoses, por que vida morna ninguém merece.



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Hórus vivo, na Terra



Na mitologia egípcia, Hórus seria filho de Osíris e Isis, um deus solar, ou o deus dos céus. Símbolo da luz, mas, principalmente, era a manifestação do poder, e um poder absoluto, sem limites. Era representado por um ser com cabeça de falcão e corpo humano.

Não era sem razão que os reis o invocavam e dele queriam ser protegidos, uma vez que assim teriam a luz ao longo de seus caminhos e a garantia de segurança de seus reinados.

À época dos faraós, todavia, esta veneração transcendeu os limites do razoável porque os faraós passaram a se enxergar como o próprio Hórus, vivo, na terra, senhores de todos os poderes, inclusive sobre a vida e a morte das pessoas e com a responsabilidade de manterem o equilíbrio cósmico.

A literatura a respeito do Egito no período dos faraós mostra que, de verdade, os faraós assim se consideravam: deuses na terra. E como o Egito era uma terra abençoada pelo Nilo, que a tornava muito fértil com a regularidade de suas enchentes e vazantes, sem se falar na riqueza extraordinária de seu solo e seu subsolo, a cultura de então tinha o Egito como ponto de equilíbrio do cosmos. Daí porque a prosperidade do Egito e a confirmação cada vez maior de seu poder e estabilidade governamental era fator preponderante no equilíbrio cósmico. Em razão disto a preocupação dos faraós com a estabilidade de seus governos, para a manutenção do equilíbrio cósmico.

Imagino, por isto, primeiro a incredulidade do faraó a quem José, filho de Jacó, revelou o significado dos sonhos: as sete vacas gordas surgidas à margem do Nilo sendo devoradas por sete vacas magras posteriormente. E as sete espigas de trigo, muito bem granadas, sendo devoradas pelas sete espigas malformadas e fracas.

Sete anos de prosperidade seguidos de sete anos de total desolação.

Aquilo nunca acontecera naquela terra abençoada!

Mas, em seguida, a dúvida: e se acontecer?

A responsabilidade do faraó no governo egípcio era a de manter o equilíbrio cósmico, o que seria impossível, com o Egito assolado por uma seca de sete anos.

Na dúvida, José foi nomeado Vice-rei do Egito e os sete anos de prosperidade foram seguidos por sete anos de seca total, estes absorvidos pelo Egito porque nos sete anos de fartura foram armazenados alimentos necessários para suportar todo o período de adversidade e ainda vender mantimentos para os povos vizinhos que não se haviam preparado para tão longa estiagem.

O faraó sentia esta responsabilidade.

O problema, todavia, estava no fato de, na maioria das vezes, este poder tão absoluto gerar no espírito de seu detentor a ideia cada vez mais veemente da sua própria divindade.

É a herança maldita do espírito, manifestada na carne: orgulho exacerbado, vaidade imensa, inclinação pelo poder, a dominação sobre os outros, sem qualquer limite.

Quem está assistindo “Os dez mandamentos”, novela baseada no texto bíblico de Êxodo, está começando a ficar com raiva da insolência do filho do faraó Ramsés e a vaidade sem limite deste.

Não se cansa de repetir que é o soberano, o Hórus vivo, na terra. O rei/deus, cuja vontade, por mais absurda que seja, tem que ser obedecida, doa em quem doer, totalmente deslembrado das consequências terríveis que caem sobre aqueles destinatários de seus desígnios, de suas atitudes ou decisões.

Nunca admite estar enfrentando força maior do que a dele, e sempre minimiza o adversário, porque o vê apenas na figura daquele que lhe faz o pedido, a advertência ou a súplica, nunca o imaginando um emissário de um poder maior, como se tudo fosse apenas o hoje…

E fico olhando a sociedade de hoje, tanto tempo depois, tão infestada de Hórus vivos, em todos os seus segmentos. Pessoas que, detentoras de algum poder ou de muito poder, não se preocupam em como usá-lo nem para que fim aplicá-lo, uma vez que os efeitos não os alcançarão, pensam.

Na medicina, na justiça, no governo, na política em geral, nas igrejas, nas relações com grupos ou nas relações individuais, pessoas que podem, com um pouco mais de serenidade, de bondade e de humanidade, causar benefícios inumeráveis a muita gente, mas que desperdiçam a oportunidade, preferindo apenas o mando. Acham-se um Hórus vivo na terra…

É sempre bom lembrar que aqui tudo é transitório e o amanhã chegará, implacavelmente, com suas consequências, até mesmo para os que se acham um Hórus vivo, na terra.


 
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Fofoqueiro é um camaleão



Na ilha de Madagascar encontra-se a maior quantidade de camaleões de todo o mundo. Moram nos mais variados habitats e apresentam diversos tamanhos e formas. Mas são todos répteis e conservam seu sangue frio e características principais imutáveis e facilmente identificáveis. Assim como os fofoqueiros.

A primeira delas e talvez a mais visível seja o mimetismo. Você olha e não vê, você chega perto, mas perto ainda e não o localiza. Esteja no meio das folhagens, no cipó, ou no chão. Socialmente invisível, ninguém se dá conta dele, até que abre a boca.

Aí apresenta sua imensa língua protrátil de maledicências. Arremessa-a numa velocidade incrível, para todos os lados. Atingindo insetos e pessoas de rodo e supetão. Parece ser inofensivo, porém não o é. Pois o mal que injeta, com informações distorcidas e veneno de inveja é algo inacreditável.

Outra coisa não tão percebida é a posição dos olhos. Grudados na cabeça, podem ir para frente e para trás de forma independente. Isso os faz grandes observadores da vida alheia e consequentemente os carregam de informações, que modifica ao seu bel prazer. Na mata, a imobilidade o salva. No escritório, na academia, no salão de beleza, na sauna ou em qualquer ponto em que as pessoas se reúnam, lá está ele calado a espera do bote lingual.

Seus movimentos são lentos, entretanto formidavelmente calculados. Com o advento das redes sociais, um dos seus passatempos prediletos é perscrutá-las, enriquecendo seu cabedal de mentiras e meias-verdades. Some no inverno, pois existe menos gente, menos pessoas para conviver. Retira-se para frente do seu micro ou do seu smartphone e desata a teclar, violentamente.

Pode aparecer de várias formas, já disse, mas todos feios. De uma monstruosidade amoral. A maioria porta chifres, o que lhes torna ainda mais ferinos e amargurados. Outros são orelhudos. Sua pretensa risada e alegria são de uma falsidade atroz. Existe até o pigmeu, mas nunca são grandes, nem irão ser. O crescimento pessoal está longe dessas pessoas.

Por último, a cauda preênsil. Para se apoiar em suas investidas e deslocamentos, precisa de apoio que é exatamente quem o ouve. Todo fofoqueiro tem o rabo preso. Isso denota justamente a última parte da minha enorme metáfora camaleônica. Infelizmente, a grandessíssima maioria das pessoas já fez ou faz fofoca, talvez nem percebam. Eu mesmo já caí nessa esparrela mais de uma vez. Como evitar e como identificar e separar o mimetismo da camuflagem?

Nós camuflamos nossos medos, invejas e dificuldades com comentários maldosos e de segunda intenção, mas sempre uma pessoa nos alerta ou até a nossa própria consciência. Devemos estar atentos com as palavras, pois estas têm muito poder. No entanto o verdadeiro camelão, o fofoqueiro primal, não para de falar. Nada o impede e ele insiste no tema maldito e em maldizer algo ou alguém.

Mil perdões as esses animais maravilhosos que conheci em Madagascar, na minha última aventura. Mas eles são exatamente iguais a essas pessoas. Elas eu não peço desculpas, e as evito ao máximo, não lhes dou ouvido e nem corda. Pois se isso ocorre, um dia serei eu o camaleão ou a vítima a sofrer com o desmando vil. E nenhuma das duas opções é boa, pois o sangue frio deixemo-lo aos répteis.



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sábado, 29 de agosto de 2015

Era uma vez…


Vivemos hoje, no Brasil, uma situação só prevista em fábulas, onde o reino é tomado por uma bruxa má e o desmando, a corrupção e a cobrança abusiva de impostos são instituídos. 



Vamos escrever o capítulo da virada dessa história onde despimos a bruxa da coroa e acalmamos o dragão para vivermos em paz.

No Brasil, crescemos ouvindo contos da Carochinha. As fábulas, cheias de heróis, príncipes e princesas,  encenadas em lugares maravilhosos e onde, no final, todos vivem felizes para sempre, ensinaram ao brasileiro a ter esperança e a acreditar que o bem sempre vence o mal.

 O problema é que tirando esse nobre ensinamento, temos o mundo real. E nesse mundo real existem bruxas e dragões, tão perversos quanto nas fábulas, mas o herói não é um príncipe ou uma princesa. O herói precisa ser cada um de nós, juntos.

O nosso mundo real está muito parecido com o caos estabelecido quando a bruxa má toma o castelo, escraviza a população cobrando altas taxas de impostos e torna todo o reino um lugar sombrio, onde as pessoas vivem com medo, temendo as próximas ações da tirana. O dragão, que outrora foi usado pela bruxa como proteção de seus desmandos, saiu de controle e virou inimigo comum da megera e do povo.

E para o nosso desespero, a bruxa, além de má, é atrapalhada. Não sabe como fazer para domar o dragão, que ela pegou mansinho, mas o enfureceu a tal ponto que será realmente difícil controlá-lo novamente. Serão necessárias medidas duras e urgentes, pois quanto mais tardias, mais o dragão se enfurece e ganha força.

No reino, o desemprego não para de subir e é o verdadeiro fantasma a assombrar o trabalhador. Economistas estimam que até o final do ano serão 1,2 milhão de desempregados. 790 mil postos de trabalho foram fechados só este semestre.

 Daí pra frente é um círculo vicioso: sem emprego não há renda, sem renda não há consumo, sem consumo não há produção e sem produção não há emprego. Para quebrar esse ciclo seriam necessárias ações governamentais que estimulassem a produtividade, a competitividade das nossas indústrias, a manutenção de empregos e a criação de novas vagas, incentivando o empreendedorismo.

Na contramão de tudo isso, o que a bruxa faz? Reonera a folha de pagamento para as indústrias, aumentando em até 150% os tributos para vários setores; aumenta impostos; aumenta os juros; dificulta os financiamentos. Tudo isso ainda vai gerar mais desemprego, queda da economia e descrédito internacional. 

Soma-se a tudo isso a falta de confiança em um governo enlameado em denúncias de corrupção, com uma máquina administrativa inflada e ineficaz.

Mas e o herói? O herói não pode mais demorar a surgir. Ele precisa ser construído com a soma de todos nós, pois só assim podemos tirar a coroa dessa bruxa má e atrapalhada. A reconstrução do nosso reino não será fácil nem rápida, pois o estrago está grande. Mas, quanto antes nos livrarmos dessa forma improvisada de governo, sem gestão nem competência, melhor.

A bruxa só tem o poder que demos a ela e só nós podemos tirar esse poder. Ou a despimos dessa coroa ou ela acaba com nosso País, nossos sonhos e aspirações. Somos nós ou ela. Estamos convocados a escrever o capítulo da virada dessa história. E só assim poderemos viver felizes para sempre.


 
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“Doutor” é pronome de tratamento?



Essa semana a internet ficou em polvorosa, devido a postagem de um médico no Facebook, que dizia entre outras coisas “não merecer ser maltratado” por um faxineiro que o chamou de “você”, ao invés de chama-lo de “doutor”! Toda a discussão sobre isso fez voltar à tona o velho maniqueísmo brasileiro, dividindo tudo em médicos arrogantes ou povo humilde.

O médico que gerou tal confusão mostrou-se extremamente arrogante, tanto que foi criticado por inúmeros colegas de profissão. Ele disse que o faxineiro foi rude e inadequado simplesmente por se referir a ele por “você” e não “doutor”. O faxineiro não foi sem educação. Não o tratou mal. Apenas não usou o título que o médico achou ser portador. E a coisa piora.

Ele diminuiu o faxineiro, chamando-o de ignorante, néscio (que é sinônimo de ignorante, mas pleonasmo não tem a mesma gravidade que o uso de “você” para chamar um médico.) e sem leitura. Eu, particularmente, não sabia que alguns diplomas tornava o dono melhor que outras pessoas. Principalmente, pessoas que podem não ter tido as mesmas oportunidades que você.

O sujeito ainda falou que colocou o faxineiro no seu devido lugar, reclamando ao responsável pelo sujeito, que segundo ele não tem noção de respeito e hierarquia. Brasil adotou castas e ninguém me avisou? Por fim, ele disse que era doutor, por lei. E vou ter que falar algo pra ele, que pode deixa-lo magoado, mas, não! Ele não é doutor por lei. Não existe lei no Brasil que obrigue a população a chamar médicos de doutores. Ele deve ter faltado a essa aula na faculdade.

Quando digo que muitos querem usar “doutor” como pronome de tratamento, alguns ficam revoltadinhos. Porém, é fato que tal título tem sido usado apenas para manter um status, não merecido, diga-se de passagem. Não se escolhe, mais, profissão por ser algo que te faz bem, e sim pelo status que ela vai te garantir.

Tanto que os Conselhos Federais de Fisioterapia e Enfermagem baixaram resoluções dando direito aos profissionais neles registrados, de usarem o título de doutores, mesmo sem doutorados. Ignorando solenemente a lei 9.394 de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação Nacional, além da portaria 2.264 de 1997 do MEC que estipula os requisitos para validação de títulos de pós-graduações strictu sensu, como o doutorado.

Outros profissionais, principalmente advogados, usam, para justificar o “merecimento” de tal título, uma Lei-Decreto, de 11 de Agosto de 1827). Isso mesmo, 1827. Da época do Brasil Império. E agora, tomo a liberdade de citar o doutor (Com doutorado) Marco Antônio Ribeiro Tura, que falou sobre isso: “A Lei de 11 de agosto de 1827, responsável pela criação dos cursos jurídicos no Brasil, em seu nono artigo diz com todas as letras: ‘Os que frequentarem os cinco anos de qualquer dos cursos, com aprovação, conseguirão o grau de bacharéis formados. Haverá também o grau de doutor, que será conferido àqueles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos que devem formar-se, e só os que o obtiverem poderão ser escolhidos para Lentes’.

Traduzindo o óbvio.
A) Conclusão do curso de cinco anos: bacharel.
 B) Cumprimento dos requisitos especificados nos Estatutos: doutor.
 C) Obtenção do título de doutor: candidatura a lente (hoje livre-docente, pré-requisito para ser professor titular). Entendamos de vez: os Estatutos são das respectivas faculdades de Direito existentes naqueles tempos (São Paulo, Olinda e Recife). A Ordem dos Advogados do Brasil só veio a existir com seus Estatutos (que não são acadêmicos) nos anos trinta.”

Antes que questionem a autoridade do doutor Tura, ele é membro vitalício do Ministério Público da União. Doutor em Direito Internacional e Integração Econômica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Direito Público e Ciência Política pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor Visitante da Universidade de São Paulo. Ex-presidente da Associação Americana de Juristas, ex-titular do Instituto dos Advogados Brasileiros e ex-titular da Comissão de Reforma do Poder Judiciário da Ordem dos Advogados do Brasil.

Na procuradoria em que ele trabalha, “doutor é só quem tem título acadêmico. Lá está estampado na parede para todos verem. E não teve ninguém que reclamasse; porque, aliás, foi a própria Ordem dos Advogados do Brasil quem assim determinou, conforme as decisões seguintes do Tribunal de Ética e Disciplina: Processos: E-3.652/2008; E-3.221/2005; E-2.573/02; E-2067/99; E-1.815/98.

Em resumo, dizem as decisões acima: não pode e não deve exigir o tratamento de doutor ou apresentar-se como tal aquele que não possua titulação acadêmica para tanto.”

Ficou claro? Então, os membros da magistratura e do Ministério Público são tratados por Excelência. Senhoria, é o tratamento adequado para Os delegados e advogados, públicos e privados. E bacharel, é bacharel! Caso encerrado.

Pra finalizar, deixo aqui a instrução contida no Manual de Redação da presidência da República, publicado em 2002, que diz: “Acrescente-se que doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Evite usá-lo indiscriminadamente.

 Como regra geral, empregue-o apenas em comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem concluído curso universitário de doutorado.” E conclui que o tratamento por senhor é suficiente nessas situações.

Como psicólogo, vou confessar que o título de doutor só tem uma função: massagear o nosso ego. Nos dá um grau de importância ser tratado por doutor. Porém, é apenas isso. Ao me chamar de senhor, ao invés de doutor, a pessoa estará sendo educada da mesma maneira, e sem se colocar abaixo de mim.

Não é uma formação que te faz melhor que alguém. Você pode até ter certa importância em determinado contexto, mas fora dele é apenas mais um e não merece ser tratado por doutor por causa disso. Trabalho com diversos médicos, e nunca vi nenhum, por maior que fosse seu cargo exigir ser tratado por doutor. Pelo menos, não de minha parte!

Portanto, fique tranquilo! Você não é obrigado a chamar ninguém de doutor. Esse é um costume cultural perpetuado por pessoas que precisam se autoafirmar através de seus cargos. O pronome certo para bacharéis é “senhor”, sejam eles em medicina, direito, psicologia, fisioterapia ou enfermagem. “senhor” é pronome de tratamento. “doutor”, não!




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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Aprende-se a gostar de gente?


Quando me perguntam se é possível aprender a gostar de gente, respondo, sem medo de errar, que é perfeitamente possível. Depende da atitude de cada pessoa.


Costumo dizer que os grandes diferenciais competitivos no mercado atual não estão apenas na qualidade dos produtos e preços baixos, mas, principalmente, nos relacionamentos saudáveis com as pessoas, tanto no atendimento quanto na prestação de serviços. Entretanto, ouço constantemente que muitas pessoas nem sempre são abertas a relacionamentos e que muitos nem respondem a um “bom dia”, “boa tarde” etc.

Por outro lado, quando pergunto: Em cada dez pessoas quantos não respondem ao cumprimento? Quantos são grosseiros? As respostas giram em torno de dois ou três. Ora, isso é normal, pois está dentro da faixa de 20% a 30%. Já pensou se todos não respondessem! Sem dúvida, o erro estaria com quem cumprimentou.

Com frequência, encontram-se vendedores e atendentes que fazem julgamento dos seus clientes pela minoria e usam isso como justificativa para encobrir as suas falhas, alegando que todos só querem levar vantagens. Profissionais que pensam assim perdem vendas e clientes, dando oportunidade aos concorrentes que são mestres em cultivar relacionamentos.

Quando me perguntam se é possível aprender a gostar de gente, respondo, sem medo de errar, que é perfeitamente possível. Depende da atitude de cada pessoa. Antes de achar que apenas os clientes são complicados, é fundamental que os profissionais de vendas e atendimento façam uma autoavaliação para verificarem como estão se comportando. Identificada a necessidade de mudança, o próximo passo é agir no sentido de mudar. Mas é bom lembrar que não se muda do dia para a noite.

Recomendo a leitura de excelentes autores que contribuem bastante para a mudança de atitude, a exemplo de Dale Carnegie (Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas), Napoleon Hill (A Lei do Triunfo, Quem Pensa Enriquece, entre outros), Joe Girard (Como Vender Qualquer Coisa a Qualquer Um) etc.

Vejamos a seguir algumas regras simples, mas eficazes, para se construir relacionamentos saudáveis, de modo a fazer com que as pessoas passem a gostar da gente e vice-versa, tendo como consequência o sucesso nos negócios:

>> Cumprimente as pessoas com alegria e entusiasmo.

>> Sorria para as pessoas. O sorriso elimina as barreiras da antipatia e encurta a distância entre as pessoas.

>> Ouça com atenção. Siga a dica de William Shakespeare: Dê a todas as pessoas seus ouvidos, mas a poucos a sua voz.                  

>> Não tenha medo de pegar na mão das pessoas, mesmo das humildes. Uma coisa é certa: os seus dedos continuarão intactos e você será valorizado por elas.

>> Esteja sempre de bom humor.

>> Fale de coisas de interesse das outras pessoas.

>> Trate as pessoas pelo nome, pois este é o som mais importante para elas.

>> Demonstre disponibilidade para servir, e não apenas querer se servir das pessoas.

>> Seja proativo e faça sempre mais que a obrigação.

>> Seja comprometido, cumprindo rigorosamente os compromissos assumidos.

>> Use e abuse das palavras mágicas: Obrigado, por gentileza, dê licença, parabéns, desculpe etc.

>> Demonstre sinceridade com as pessoas.

>> Aja sempre com ética.

>> Seja tolerante, flexível e respeite a individualidade de cada pessoa.



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