Recebi um tapa na cara da vida. Daqueles bem dados, para nunca
mais esquecer e lembrar que existem coisas mais importantes do que as bobagens
que corremos atrás e colocamos acima de valores essenciais. Um verdadeiro puxão
de tapete que me atordoou.
Era início de tarde e antes de chegar ao trabalho decidi entrar
em uma agência lotérica do Centro para apostar na Mega-Sena, acumulada em
vários milhões de reais.
Na calçada, exatamente em frente ao estabelecimento, um idoso
com a aparência muito simples e um papel de caderno na mão buscava com os olhos
alguém. A alguns metros de distância nos encaramos, ele me escolheu e aquilo me
irritou.
- Lá vem um pedinte, pensei.
E antes mesmo de colocar o primeiro pé dentro da lotérica o
idoso estendeu o papel amassado com algo escrito. Minha falta de educação o
impediu de falar. Rapidamente sinalizei de forma negativa.
Mais preocupado em escolher os números do jogo - embora a chance
de ganhar na Mega-Sena com um único volante seja de uma em 55 milhões -, fui
surpreendido segundos depois com o senhor ao meu lado. Desta vez, não consegui
impedi-lo de falar.
- Desculpe, moço. Eu moro pra fora (interior) e não consigo
encontrar esse endereço. O senhor pode me ajudar?
Eu peguei o bilhete escrito à mão e li que buscava um cartório
de imóveis. Precisava de documentos relativos a sua propriedade rural.
Envergonhado com minha atitude, saí na rua e apontei em direção
ao local onde ele deveria ir, fácil de encontrar. O homem agradeceu com uma
frase que nunca mais vou esquecer.
- Obrigado. Sabe como é, a gente que é de fora não conhece bem a
cidade e precisa sempre de ajuda.
Ele partiu sem me dar tempo de falar aquilo que eu deveria ter dito.
Ele partiu sem me dar tempo de falar aquilo que eu deveria ter dito.
- De nada. Sabe como é, a gente que é da cidade é mal-educado,
individualista, dá mais importância a uma droga de jogo do que à possibilidade
de dialogar, ajudar e manter boas relações com as pessoas.
O que fiz martela até hoje na minha cabeça. Mas tive sorte
porque o idoso não desistiu de mim. Aprendi a lição e meu rosto ainda arde com
o tapa que levei da vida. Foi merecido.
A gente dedica tempo
demais ao que não é importante e passa por cima de quem se mete neste pequeno e
fútil caminho que insiste em trilhar. Por sorte, existem lições nas esquinas e
na frente de lotéricas.
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