Muita gente não acredita em pessoas com superpoderes. Mas
eu acredito. Na verdade conheci um rapaz com um poder incrível: a
invisibilidade.
Era uma pessoa comum, como nós, simples mortais.
Perambulava pelas ruas, sem ambição, sem rumo. Uma das primeiras experiências
com o superpoder foi numa noite fria de agosto. Ele andava pelo centro da
cidade quando parou em frente à janela de uma pizzaria.
O cheiro e a imagem do queijo derretendo lhe causaram dor
no estômago. Foi então que ele percebeu que algo incrível acontecia. Ninguém
podia vê-lo! Mas para sua surpresa uma pessoa era imune ao seu poder: o homem
do caixa, que saiu na rua furioso, escorraçando nosso herói.
Dali em diante ele percebeu a dimensão de seu poder. Não
importava o que fizesse ninguém o enxergava. Ele dormia na calçada, tomava
banho no chafariz, revirava o lixo alheio e simplesmente ninguém era capaz de
vê-lo. A não ser os guardas municipais, seguranças e donos de estabelecimentos,
que assim como o cara do caixa, eram imunes ao seu poder.
O garoto invisível já estava acostumado com sua condição
especial. Vivia numa cidade sem ser notado. Porém, o que ele não sabia era que
seus dias com superpoderes estavam contados.
Numa noite de verão, na orla da praia, muitas pessoas
bebiam, namoravam e exibiam os sons potentes dos seus carros. Nosso herói
estava sentado embaixo de uma árvore comendo o resto de uma à la minuta que
estava jogada no lixo. Sem ele imaginar que seus poderes momentaneamente
falhariam, cinco rapazes conseguiram enxergá-lo.
O grupo partiu pra cima dele. O agrediu com chutes, socos,
pauladas na cabeça e o esfaqueou.
Depois de derrotar o garoto invisível, os cinco rapazes saíram
correndo, entraram num carro e foram embora. Passada a dor e a angústia, só
restou o sangue que escorreu, levando consigo a vida.
Do outro lado da rua, uma menina que segurava a mão do pai
exclamou:
- Olha pai! Um homem morto!
- Não minha filha. É só um mendigo.
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