domingo, 6 de dezembro de 2015

Bar Esperança: o último que fecha


A vida de boêmio é sofrida e plena de peias. Acredite. Lei Seca, Lei do Cigarro. Falta de segurança nas ruas. Inflação. Querem mais? Tudo conspira. Desde que a Lei Seca - e bato palmas! - entrou em vigor, em junho de 2008, pelo menos dez clientes de carteirinha do Jobi, o botequim do Leblon e bar da minha mocidade, no Rio de Janeiro, perderam a habilitação em blitze do bafômetro na volta para casa, lá pela madrugada. Resultado: a clientela, nesse horário, despencou de 20% a 30%.
Corta para o Café Lamas, reduto da turma do chope da rua do Catete, no Flamengo. De lá para cá, a casa fundada em 1874, que vivia cheia depois da meia-noite e vendia de seis a sete barris do líquido dourado com colarinho branco por dia, passou a vender somente quatro. E olhe lá! Estique para a saideira na Lapa. No bairro musical da cidade, veja só, o Nova Capela, altar dos madrugadores da área, também não escapou. Ali, a média de cinco barris nos fins de semana caiu para três. A clientela, mesmo a mais fiel, murchou em torno de 20%.
A Lei Seca, a Lei do Cigarro, a inflação e o temor de perder a vida em razão da violência nas ruas, lembro bem, mudaram as madrugadas cariocas, capital da boemia tupiniquim. O Lamas, que só começava a expulsar fregueses por volta das 3h30min, agora cerra as portas por volta de 1h, de segunda a quinta, e não passa muito das 2h nos fins de semana. "Amedrontadas, temerosas de assaltos, as pessoas estão indo para casa mais cedo", informa o alegre proprietário da casa, que não demitiu nenhum dos 19 atendentes, mas também não repôs as vagas dos dois que solicitaram dispensa.
O Jobi - ah que saudades do chopinho doirado do Jobi! - ainda insiste em fechar às 3h. "Mas a freguesia, nesse horário, virou pinga-pinga", admite o dono da casa, que também se orgulha de não ter demitido ninguém. No Nova Capela, onde os nove atendentes foram mantidos, o primeiro vilão foi o cigarro, depois o medo das ruas.
Não foi à toa que, outro dia, num boteco pé-sujo na rua da Passagem, em Botafogo, conta um amigo carioca, o garçom, um carioca da gema, tentava aumentar o PIL, isto é, o Produto Interno Líquido, anunciando, de mesa em mesa, com voz de falsete, que não havia blitz com bafômetro nas imediações: "Ô, chefia, pode beber tranquilo que o teste do bafômetro está longe. O chefinho diz que ele está na avenida Brasil. Garanto, pode pedir mais uma..."
Há controvérsias.

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