A vida de boêmio é sofrida e plena de peias. Acredite. Lei
Seca, Lei do Cigarro. Falta de segurança nas ruas. Inflação. Querem mais? Tudo
conspira. Desde que a Lei Seca - e bato palmas! - entrou em vigor, em junho de
2008, pelo menos dez clientes de carteirinha do Jobi, o botequim do Leblon e
bar da minha mocidade, no Rio de Janeiro, perderam a habilitação em blitze do
bafômetro na volta para casa, lá pela madrugada. Resultado: a clientela, nesse
horário, despencou de 20% a 30%.
Corta para o Café Lamas, reduto da turma do chope da rua
do Catete, no Flamengo. De lá para cá, a casa fundada em 1874, que vivia cheia
depois da meia-noite e vendia de seis a sete barris do líquido dourado com
colarinho branco por dia, passou a vender somente quatro. E olhe lá! Estique
para a saideira na Lapa. No bairro musical da cidade, veja só, o Nova Capela,
altar dos madrugadores da área, também não escapou. Ali, a média de cinco
barris nos fins de semana caiu para três. A clientela, mesmo a mais fiel,
murchou em torno de 20%.
A Lei Seca, a Lei do Cigarro, a inflação e o temor de
perder a vida em razão da violência nas ruas, lembro bem, mudaram as madrugadas
cariocas, capital da boemia tupiniquim. O Lamas, que só começava a expulsar
fregueses por volta das 3h30min, agora cerra as portas por volta de 1h, de
segunda a quinta, e não passa muito das 2h nos fins de semana.
"Amedrontadas, temerosas de assaltos, as pessoas estão indo para casa mais
cedo", informa o alegre proprietário da casa, que não demitiu nenhum dos
19 atendentes, mas também não repôs as vagas dos dois que solicitaram dispensa.
O Jobi - ah que saudades do chopinho doirado do Jobi! -
ainda insiste em fechar às 3h. "Mas a freguesia, nesse horário, virou
pinga-pinga", admite o dono da casa, que também se orgulha de não ter
demitido ninguém. No Nova Capela, onde os nove atendentes foram mantidos, o
primeiro vilão foi o cigarro, depois o medo das ruas.
Não foi à toa que, outro dia, num boteco pé-sujo na rua da
Passagem, em Botafogo, conta um amigo carioca, o garçom, um carioca da gema,
tentava aumentar o PIL, isto é, o Produto Interno Líquido, anunciando, de mesa
em mesa, com voz de falsete, que não havia blitz com bafômetro nas imediações:
"Ô, chefia, pode beber tranquilo que o teste do bafômetro está longe. O
chefinho diz que ele está na avenida Brasil. Garanto, pode pedir mais
uma..."
Há controvérsias.
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Até os pinguços estão sofrendo kkkkk
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