Gay Talese, um dos fundadores do New Journalism (novo
jornalismo), uma maneira de descrever a realidade com o cuidado, o talento e a
beleza literária de quem escreve um romance, é um crítico do jornalismo sem
alma e sem graça.
Seu desapontamento com a
qualidade de certa mídia pode parecer radical e ultrapassado. Mas não é. Na
verdade, Talese é um enamorado do jornalismo de qualidade. E a boa informação,
independentemente da plataforma, reclama competência, rigor e paixão.
Segundo Talese, a crise do jornalismo está intimamente
relacionada com o declínio da reportagem clássica. “Acho que o jornalismo e não
o Times, está sendo ameaçado pela internet”, disse Talese. “E o principal
motivo é que a internet faz o trabalho de um jornalista parecer fácil.
Quando você liga o laptop na sua cozinha, ou em qualquer lugar,
tem a sensação de que está conectado com o mundo. Em Pequim, Barcelona ou Nova
York…Todos estão olhando para uma tela de alguns centímetros. Pensam que são
jornalistas, mas estão ali sentados, e não na rua.
O mundo deles está dentro de uma sala, a cabeça está numa
pequena tela, e esse é o seu universo. Quando querem saber algo, perguntam ao
Google.
Estão comprometidos
apenas com as perguntas que fazem. Não se chocam acidentalmente com nada que
estimule a pensar ou a imaginar. Às vezes, em nossa profissão, você não precisa
fazer perguntas. Basta ir às ruas e olhar as pessoas. É aí que você descobre a
vida como ela realmente é vivida”, observa Talese.
A crítica de Gay Talese é um diagnóstico certeiro da crise do
jornalismo. Os jornais perdem leitores em todo o mundo. Multiplicam-se as
tentativas de interpretação do fenômeno. Seminários, encontros e relatórios, no
exterior e aqui, procuram, incessantemente, bodes expiatórios. Televisão e
internet são, de longe, os principais vilões. Será?
Os jornais, equivocadamente, pensam que são meio de comunicação
de massa. E não o são.
Daí derivam erros fatais: a inútil imitação da televisão, a
incapacidade de dialogar com a geração dos blogs e dos videogames e o
alinhamento acrítico com os modismos politicamente corretos.
Esqueceram que os diários de sucesso são aqueles que sabem que o
seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite
numerosa, mas cada vez mais órfã de produtos de qualidade.
Num momento de ênfase no didatismo e na prestação de serviços -
estratégias úteis e necessárias -, defendo a urgente necessidade de complicar
as pautas. O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na
internet. Ele quer qualidade informativa: o texto elegante, a matéria
aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões. Quer também
mais rigor e menos alinhamento com unanimidades ideológicas.
A fórmula de Talese demanda forte qualificação profissional: “A
minha concepção de jornalismo sempre foi a mesma. É descobrir as histórias que
valem a pena ser contadas. O que é fora dos padrões e, portanto, desconhecido.
E apresentar essa história de uma forma que nenhum blogueiro
faz. A notícia tem de ser escrita como ficção, algo para ser lido com prazer.
Jornalistas têm de escrever tão bem quanto romancistas”. Eis um magnífico
roteiro e um baita desafio para a conquista de novos leitores: garra,
elegância, rigor, relevância.
A revalorização da reportagem e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso encantar o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasil oficial e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência.
A revalorização da reportagem e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso encantar o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasil oficial e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência.
Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em
pautas criativas. É hora de proceder às oportunas retificações de rumo. Há
espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo.
E redescobrir uma verdade constantemente negligenciada: o bom
jornalismo é sempre um trabalho de garimpagem.
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