O governo federal vive uma crise financeira e uma crise
política. Alguns dizem que a crise é de gestão, outros dizem que a crise é de
liderança. O governo é uma instituição política e também uma organização empresarial.
Nele estão presentes as questões de gestão e as questões de liderança. Qual a
diferença entre as duas?
Gestão é a provisão e o comando de coisas,
dinheiro, processos e tarefas, com vistas a produzir bens e serviços.
Liderança é a capacidade de levar as pessoas a fazer o que tem de ser
feito, sobretudo influenciar e motivar, mais que o uso do poder de obrigar.
Gestão está no âmbito do conhecimento técnico e das habilidades para executar
tarefas e projetos.
Liderança habita o mundo do comportamento e da capacidade de se
relacionar com pessoas e motivá-las para a ação.
Uma boa definição de liderança diz que é "a capacidade de
influenciar e convencer pessoas, levá-las a acreditar na causa e despertar
nelas a vontade de agir em favor de objetivos comuns, sobretudo quando são
livres para seguir outro caminho".
A imprensa diz que a presidente Dilma trata seus subordinados de
forma autoritária e ríspida. A coisa se complica se esse estilo for usado para
se relacionar com aqueles que não são seus subordinados, como é o caso dos
parlamentares.
É sabido que o governo tem relacionamento difícil com o
Congresso. Tancredo Neves, um mestre em habilidade de relacionamento, dizia que
não há democracia sem parlamento e sem oposição.
Logo, ambos devem ser vistos como
normais e necessários; por isso, ainda que em campos opostos, devem ser
tratados com respeito e cortesia. Os parlamentares têm mandato, muitos têm ego
inflado e outro tanto não tem o menor escrúpulo ético.
Entender toda essa lógica, ter uma estratégia de relacionamento
com o parlamento e não usar de autoritarismo e grosseria são condições
necessárias ao êxito da missão de governar.
Não sendo assim, a crise de liderança aparece. Quanto à crise de
gestão, ela tem influência da crise política, mas está principalmente na
ineficiência administrativa da máquina estatal.
O ex-presidente Lula gastou sua lábia para convencer o país de
que Dilma era uma gerentona competente e eficaz. É como se ele dissesse: ela é
grossa, não é política, mas é boa gestora.
No início do primeiro mandato, a população até gostou dessa
caracterização da presidente, pois a máquina pública é lenta, cara e percebida
como ineficiente. Dado o gigantesco tamanho do governo, a gestão nunca será
ótima, e uma crise de liderança aprofunda a crise de gestão.
É papel do líder escolher bem os executivos. Uma crise de gestão
pode vir de más escolhas de ministros e gerentes. Nas organizações
empresariais, livres de influência político-partidária, a escolha baseada em
competência técnica e moral é mais fácil.
No governo, é mais difícil. Ao escolher mal, o chefe de governo
falha como líder; na sequência, falhará como gestor. Maus gerentes, má gestão.
Quando investidos de cargo, os líderes têm poder de mandar, e o
risco é a tentação de colocarem para fora o ditadorzinho que há dentro de todos
nós. O alimento desse ditadorzinho é o crachá: quanto maior o poder, maior a
tentação de impor, gritar, mandar, não ouvir e não aceitar opiniões diferentes.
Voltando ao governo, para a população, mais que essas questões,
o que conta é o resultado em estabilidade política, crescimento econômico e
prosperidade social. Com isso, defeitos serão perdoados. Sem isso, qualidades
serão apedrejadas.
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