sexta-feira, 30 de outubro de 2015

“Num buraco no chão vivia um homem…”

Igual um hobbit, personagem de Senhor dos Anéis, homem vive em buraco há mais de 25 anos.

No mundo imaginário de Senhor dos Anéis, do escritor J.R.R. Tolkien, existe uma raça conhecida como hobbit. No que diz respeito a este povo é que estão contentes em ignorar e serem ignorados pelas pessoas do grande mundo. O coração de um hobbit reside na paz e na quietude e todos compartilham o amor por coisas que crescem, proveniente da boa mãe terra. Resumindo: um povo simples. A peculiaridade dos hobbits, porém, vem de suas residências: moram em buracos debaixo da terra.
Essa é a curiosa história de Antônio Francisco Calado, de 57 anos. Na cidade onde mora, Nova Roma, 517 km de Goiânia, localizada na região Norte do Estado, é conhecido como “homem do buraco” ou “homem do mato”.
Seu Antônio vive em um enorme buraco há mais de 25 anos. O juiz Everton Pereira Santos, do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), realizou uma inspeção no local para determinar as condições de vida desta excêntrica e incompreendida figura. O magistrado foi acompanhado da irmã de Antônio, Raimunda Tereza Calado.
A Casa
O juiz saiu do fórum da cidade de Iaciara, percorreu 50 km de asfalto, 30 km de estrada de terra e andou mais 1 km até encontrar a moradia de seu Antônio. No livro de Tolkien, um buraco de hobbit significa higiene e conforto, já a morada do seu Antônio, apesar de muito bem construída e possuir algumas “regalias”, é basicamente de terra batida. A casa tem mais de um ambiente e tinha uma rede pendurada em um local e uma cama.
Nas paredes havia imagens que ele alegou serem seus irmãos. Também havia um espaço para ele guardar suas ferramentas.
O homem do mato apresentou um dos seus passatempos: “essa aqui é minha televisão”, apontou para um buraco no teto que dava para o céu. À noite, Antônio assiste a programação da natureza: o céu, nuvens, a lua e as estrelas.
A simplicidade da vida

Antônio Calado usava uma vestimenta simples, chinelos e carregava consigo utensílios simples para caça como, lâminas e um isqueiro. Não faz a barba e não corta as unhas. Banho quando toma é no rio perto da casa. Segundo conta o magistrado, eles foram recebidos enquanto seu Antônio cozinhava a janta: Arroz, molho de pimenta e verduras. “não vou oferecer porque não lavo a panela tem 10 anos”, alegou o ermitão.
Como companhia, o eremita tem uma raposa e um cachorro chamado Barão, que passam o dia todo com ele. Seu Antônio explica seu modo de vida: “Sou feliz aqui, não preciso de nada. Sou feliz com os animais. Durmo com eles”.
Seu Antônio também recebe visitas de outros animais em sua casa. De vez em quando, abelhas e formigas vêm visitar ele, alega.
O problema psiquiátrico e a ação na justiça
Antônio Calado foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide há muitos anos atrás. Essa é uma grave doença que pode causar psicose aguda, alucinações e delírios. Pode fazer a pessoa acreditar em situações inexistentes. O laudo médico apresentado diz: “incapaz para a vida independente e para o labor”. Entretanto não é a realidade desde 1990, quando decidiu morar sozinho nesta condição.
Porém o laudo também aponta outros detalhes: “Periciado tem déficit cognitivo e desorientação mental com alienação mental”. Com isso a irmã deseja conseguir a pensão. Na lei, para uma pessoa maior de idade continuar a receber pensão do Estado após a morte dos pais precisa ser provada invalidez.
Durante a inspeção do juiz, algumas conversas do eremita eram desconexas. Ele também alegava conversar com o “relâmpago”. O relâmpago dizia o que ele deveria fazer. Até mesmo em momentos de sua vida que não estão relampeando de fato.
A ida até o local e o estudo do modo de vida de Antônio Calado, fez com que o juiz Everton Pereira Santos concedesse o pedido de pensão. Raimunda Calado explica que o irmão precisa de tratamento e usará o dinheiro para essa finalidade.
Outros eremitas
Um eremita ou ermitão é um indivíduo que, usualmente por penitência, religiosidade, misantropia (aversão ao ser humano e à natureza humana) ou simples amor à natureza, vive em lugar deserto, isolado.
Pode soar loucura alguém querer se isolar do mundo e de todas as pessoas por longos anos ou para sempre, porém essa prática já foi estabelecida por figuras consideradas nobres.
Santo Antão, conhecido como Pai dos Monges, foi o mais famoso dos Padres do Deserto: eremitas religiosos que viviam no deserto. Quando seus pais morreram aos 18 anos, ele ouviu um sermão sobre Jesus e então vendeu todos os seus bens e herança e foi viver sozinho no deserto.
Outro ermitão de destaque foi o escritor e ativista americano Henry David Thoreau. Seu mais famoso livro é “A Desobediência Civil”. Um ensaio escrito na cadeia de como se opor ao um Estado opressor, injusto e arbitrário. Thoreau inspirou a revolução de Gandhi, na Índia e foi chamado por outros como “o precursor do anarquismo”.
(Com informações do TJ-GO).
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