sábado, 17 de outubro de 2015

A farra bancária

Instituições detém boa parte das riquezas do mundo.

Não é de se estranhar que o Bradesco tenha fechado o segundo trimestre de 2015 com lucro líquido de 4,47 bilhões de reais; o Santander também manteve o mesmo ritmo de crescimento e lucrou a bagatela de 1,675 bilhão de reais e; o Itaú//Unibanco que no primeiro trimestre de 2015 havia conferido lucro de 5,73 bilhões de reais amplia seus ganhos, para o trimestre seguinte, para 5,98 bilhões de reais.
É surpreendente no que o sistema bancário se tornou no Brasil, de outro modo, uma galáxia econômica descolada do mundo da produção e da economia real. Uma espécie de “leviatã econômico” operante a partir de leis próprias e de notável autonomia.
Fruto desse movimento é o atual e glorioso instante pela qual passa a banca brasileira. Não casualmente, em pesquisa publicada no Jornal Folha de São Paulo (FSP) a Consultoria Economatica irá demonstrar que no quesito “lucratividade” os bancos brasileiros se situam entre os cinco principais do continente americano, com exceção do Canadá (JP Morgan, Bank of America, Banco do Brasil, Itaú e Bradesco); no item “rentabilidade”, a banca brasileira ocupa, nada mais, nada menos, do que a primeira e segunda posição (Banco do Brasil, Bradesco, American Express, Santander e Itaú).
A definição de rentabilidade, segundo a Economatica, é dada por um indicador desenvolvido por analistas financeiros e denominado de “Rentabilidade sobre Patrimônio Líquido” ou simplesmente “ROE”. Rentabilidade, segundo esse critério, diz respeito ao crescimento auferido por determinada instituição a partir somente do patrimônio ou de ativos que dispõe sem ter que fazer novos investimentos.
É muito estranho que os preços das commodities tenham se desvalorizado significativamente no mercado internacional, sobretudo, a partir da redução das demandas chinesas; que, da mesma forma, a indústria brasileira tenha ampliado sua capacidade ociosa e expressão desse processo é a quantidade de demissões já ocorridas e o “quantum” de férias coletivas já realizadas em 2015 e; finalmente, e não menos importante, a fuga dos capitais de curto prazo do País (FSP/Mercado, 10/10/2015) onde, segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), o “estoque de investimento estrangeiro caiu 30% no terceiro trimestre” irá demonstrar o próprio grau de vulnerabilidade da economia brasileira e, mesmo assim, o setor bancário avança batendo recordes de lucratividade e se afirmando como principal setor da economia brasileira.
Ainda no gigantismo das finanças bancárias do Brasil, é preciso considerar que o atual quadro de lucratividade dos bancos por aqui operantes é a expressão contemporânea de amplo movimento não só econômico mas também, e sobretudo, político e que garantiu todas as condições para tal crescimento.
A mesma Economática e que realiza suas pesquisas, sobretudo a partir das movimentações das principais empresas que realizam investimentos na Bolsa de Valores divulgou, ainda em 2014, que o maior lucro da série histórica das empresas de economia aberta seria exatamente do Itaú/Unibanco e que ocorrerá livre e célere em pleno ambiente de crise internacional seguido, de novo, pelo Bradesco que, à altura, abocanhara 4,24 bilhões de lucro líquido.
O que se percebe é um cenário que afirma a plenos pulmões, a tese marxiana de que os capitais tendem a se concentrar e esse processo é intensificado, sobretudo, em períodos de crise, tal qual a que estamos imersos.
De outro modo é fundamental compreender a própria composição orgânica desses capitais para, em seguida, identificar sua lógica e tendência na feitura e refeitura de crises e que, nesse sentido, passa a ser a principal instituição para o próprio equilíbrio desses “continentes de dinheiro”. Enfatizo, de novo e desta maneira, que a crise, juntamente com o protecionismo e a especulação em níveis e escalas planetárias se firma como instituição decisiva e determinante da muito moderna economia contemporânea.
Dessa forma, a ideia ultraliberal da “ordem espontânea” entusiasticamente propugnada por Frederick Hayek, “por não conceber o mercado como entidade concreta” (Ricardo Feijó) cai inteiramente por terra. O mercado, sobretudo, o mercado global ganha corpo, forma, substância e densidade, retratada principalmente no sistema bancário que substituiu os Estados nacionais na condução de políticas econômicas, na feitura de políticas públicas e na reinvenção do próprio conceito de economia que é, desta maneira, trespassada pela mais tresloucada sanha especulativa já vista na história do pensamento econômico.
Mercado? Estamos desta forma, nos referindo a um seleto grupo de não mais que mil empresas, sobretudo, bancárias, e que detém mais de oitenta por cento das riquezas do mundo. Aliás… O que é mesmo economia?
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