segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Como se namora em tempos hipermodernos?


Apesar desta urgência de viver, muitos adolescentes conseguem desenvolver relacionamentos profundos e prazerosos, enquanto outros estão sempre pensando no que poderão estar perdendo e mantendo apenas relações fugazes.


“A hipermodernidade é caracterizada por uma cultura do excesso, do sempre mais. Todas as coisas se tornam intensas e urgentes. O movimento é uma constante e as mudanças ocorrem quase num ritmo esquizofrênico, determinando um tempo marcado pelo efêmero, no qual a flexibilidade e a fluidez aparecem como tentativas de acompanhar essa velocidade.” (Gilles Lipovetsky e Sebastien Charles, em Os tempos hipermodernos, 2004).

Para falarmos sobre namoros na adolescência e mesmo na infância, temos de contextualizar quem é o nosso adolescente de hoje e em que sociedade ele vive. O texto acima pode ser entendido como uma descrição muito próxima da adolescência atual. Tudo é muito rápido, na velocidade da tecnologia, novidade que torna tudo obsoleto em um curto espaço de tempo.

Sexualidade precoce

O ritmo acelerado começa a ser ditado com as relações interpessoais, que não são tão interpessoais assim. Geralmente existe um intermediário: o Facebook, o WhatsApp, o Instagram etc. É interessante ver como esta geração parece estar se relacionando com todo mundo, mas não face a face. As habilidades para se comunicar e se relacionar não vêm sendo treinadas como antigamente. Por outro lado, essa superexposição virtual da intimidade pode ajudar alguns jovens a se entenderem melhor e sentirem-se pertencentes.

A sexualidade cada vez mais precoce também muda esse panorama. Hoje é difícil que uma criança de nove a dez anos não se auto intitule um pré-adolescente. A própria puberdade parece estar chegando cada vez mais cedo. Algumas hipóteses apontam para o papel da supererotização do meio como um fator de adiantamento da puberdade. Sabe-se que o adolescente tem um peso muito forte nas decisões de consumo das famílias.

 Portanto, para o mercado publicitário, o quanto antes a criança se tornar adolescente, melhor. Ademais, o adolescente parece ter se tornado o modelo social em que pessoas mais velhas se inspiram, gerando uma adolescentificação da idade adulta, deixando o jovem sem referência além de sua própria confusão.

E a orientação sexual?

O adolescente de hoje, em geral, tem bastante liberdade sexual, porém, em função da violência, tem uma autonomia muito reduzida. Ele tem liberdade para transar, mas não tem autonomia para voltar a pé da escola. Embora cada família tenha suas normas, observamos cada vez mais pais tomarem posições liberais quanto a namoros precoces e relações sexuais, aparentemente na tentativa de ter os filhos próximos de si, com a ilusão de ficarem assim mais protegidos. 

O adolescente atual tem muita informação sobre sexualidade, mas nem sempre consegue transformar a teoria em prática, vide o alto índice brasileiro de gestações na faixa de 15 a 19 anos.

Por outro lado, os rótulos quanto à orientação sexual estão mais tênues, evidenciando uma forma de viver a sexualidade sem modelos preestabelecidos. Experiências homossexuais na juventude são cada vez mais comuns e aceitas dentro do próprio grupo, de uma forma que o jovem possa provar e se posicionar mais livremente frente à sua orientação sexual. 

Vale notar, todavia, a persistência de comportamentos homofóbicos, que ainda tornam a opção por orientações sexuais diferentes da heterossexualidade dominante muitas vezes sofrida.

Embora plugado, informado, hiperexposto e com mais liberdade, o adolescente de hoje continua tendo os mesmos conflitos sobre a sexualidade que os jovens de outros tempos. Quem sou eu? Qual a minha orientação sexual?  Vão gostar de mim? Como devo chegar em quem eu quero?


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