terça-feira, 11 de agosto de 2015

Sociedade brasileira: Reféns do Medo

São tantos os nossos pesares e temores, incontáveis as dificuldades do cotidiano, inumeráveis as preocupações, pesados os fardos da dura luta pela sobrevivência... Acabamos não percebendo o óbvio: caminhamos à beira do precipício.

A correria da vida moderna, a programação da TV, os males e benefícios da internet, nos ofuscam a visão, o discernimento e o senso crítico, por medo de encará-la, nós preferimos ignorar a realidade.

Escamoteamos a verdade dos fatos, deixamos de identificá-la, embora esteja ali, na nossa frente - e na mente - dedo em riste, alertando que estamos na iminência de mergulhar no caos. Isso ocorre em relação ao insustentável e insuportável nível do aumento da violência e da criminalidade no país - de Norte a Sul.

E o recrudescimento da selvageria social não se restringe aos bandidos comuns, aos crimes contra a pessoa e o patrimônio público e privado. Vai além e escancara uma sociedade enferma, com gravíssimos problemas éticos e morais, sem limites, como se não houvesse lei - dos homens, de Deus e da própria consciência.

São alarmantes os delitos cometidos por pessoas comuns, aparentemente acima de qualquer suspeita. Assassinatos por motivos banais se sucedem diariamente, matar e morrer é corriqueiro, apesar de representar epidemia de dimensões nacionais, desdenhada pela Justiça e os governantes.

A anárquica e desenfreada escalada da perversidade - sabemos - tem origem na desigualdade social histórica do Brasil, no desleixo com a educação abrangente e de qualidade, na influência nefasta de programas, filmes e novelas televisivos... Na permissividade, na impunidade, nos maus exemplos dos políticos, na falta de investimentos públicos em segurança... Na disseminação do uso de drogas - legais e ilegais -, na propaganda consumista, induzindo jovens ao crime para ter o tênis, o jeans, o celular da "hora" e aparentar o que não é e tampouco precisa ser.

 A nação enfrenta profunda adversidade política e socioeconômica - é evidente. E desoladora crise de valores e princípios - sem dúvida. Mas é preciso que a coletividade e suas instituições representativas atentem para a expansão da delinquência - antes que nos tornemos reféns definitivos do medo - inclusive de usufruir da prerrogativa de cidadãos livres para ir e vir, sem o temor de ser assaltado, brutalizado ou assassinado.

Memória
Quinta-feira completa um ano da trágica morte do então candidato à Presidência da República, Eduardo Campos (PSB). Ontem ele completaria 50 anos de idade. Homenagens, discursos e lágrimas referenciam a memória de Campos. Há muita gente querendo tirar uma lasquinha do espólio político do ex-governador. Show de hipocrisia e cinismo à vista e a prazo.

Mea-culpa
Acossados e presos na teia construída pelo próprio partido, ícones do PT entendem - e defendem: para tentar sair do coma, é preciso aceitar que a sigla apodreceu, corrompida pelo poder. A ideia é fazer mea-culpa e admitir desvios éticos e morais. Trocando em graúdos: assumir que a legenda acobertou corruptos e avalizou malfeitos bilionários com o erário. Agora que a vaca foi pro brejo e a maionese desandou?

Lamaçal
Ministérios do Planejamento e da Previdência estão na alça de mira dos investigadores da Operação Lava Jato. São os próximos alvos da Justiça. Outras pastas - Transportes, Saúde, Educação, por exemplo - também deveriam entrar na lista. E os PACs, as loterias da Caixa, os patrocínios a clubes, a Copa das Copas...

Lista de Janot
Reforma ministerial é questão de dias. Procurador-geral da República Rodrigo Janot, apesar de ainda depender de aval do Senado, continuará mais dois anos no cargo. Neste mês ele pretende denunciar políticos envolvidos na Lava Jato. A presidente Dilma teme indicar nomes que estejam enrolados em corrupção. Vai esperar a "lista de Janot".

Retórica
"Vamos repudiar sistematicamente o 'vale-tudo' para atingir qualquer governo, seja federal, dos estados, dos municípios. No 'vale-tudo', quem acaba sendo atingido pela torcida do 'quanto pior melhor' é a população". Da presidente Dilma Rousseff em discurso no Maranhão. Questão: antes "valia tudo" para ganhar eleição? Ou não?

Luiz Carlos Freitas.


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