quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O jornal da rua

O homem tenta, mas ainda não inventou uma ferramenta de comunicação tão eficaz quanto o poste. Nada no mundo moderno consegue derrubar a condição noticiosa dessa base de concreto ou madeira, instalada nas quadras a cada 30, 40 metros.

Eu sou um leitor dos postes. Cada um deles tem sua própria editoria. Existem os postes culturais, responsáveis por divulgar os shows, os espetáculos e as apresentações programadas para a cidade. Existem os postes de serviço, em que a gente sabe quais as excursões que vão partir rumo a compras na Serra, descanso em um complexo termal ou passeio turístico. Outros são destinados ao mercado, oferecem vagas de emprego e recebem currículos, e alguns funcionam como consultório sentimental.

Há pouco tempo o Diário Popular publicou uma foto curiosa, com a mensagem deixada por alguém que procurava companhia para aplacar a solidão da vida. Outra função que só os postes oferecem, sem discriminar o autor ou exigir algo em troca. A mensagem, engraçada e sincera, com erros de Português, tinha o seguinte conteúdo: "Alguma solterona está afim de namoro? Eu sou nego, magrinho, humilde, não sou bonitão. Eu gosto das mulhe que não vai para os baile".

Há alguns anos o quadrinista paulista Laerte publicou a história do personagem que falava com os postes da Vila Madalena. Era considerado louco pelas pessoas porque dava bom-dia, boa-tarde e boa-noite às peças fixadas nas calçadas. Além disso, trocava ideias sobre assuntos variados. Até presenciar a briga de um casal que estava de mudança para o bairro, mas havia se perdido e não sabia onde ficava a casa nova. Após subirem em um poste com o estranho, tiveram uma visão única da cidade, lá do alto, e encontraram o futuro lar.

Os postes fazem parte da nossa vida desde o momento em que nascemos. Na infância eles são a referência para a brincadeira de esconde-esconde ou a trave nas partidas de futebol de rua. Na adolescência é onde a gente costuma ficar escorado conversando com os amigos. E na fase adulta o local para as leituras rápidas.

Fico impressionado ainda com a atualização das informações. Como se fosse um site, os postes têm novidades toda semana. O cartaz de hoje nunca é o mesmo de amanhã. Sempre há algo diferente para ser observado. 

Na frieza do concreto pintado de branco e cheio de fios, existe vida intensa, o cotidiano da cidade em rápidas mensagens. O poste é o jornal da rua, com clientes fiéis.


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