domingo, 3 de maio de 2015

O trabalho em tempos líquidos!

Zygmunt Bauman (1925), um sociólogo polonês, escreveu Modernidade Líquida, no qual aborda a liquidez no mundo do trabalho de uma forma muito esclarecedora. Por liquidez deve-se entender o que seja líquido (não tem forma, molda-se conforme o recipiente, escorre, vaza, transborda, flui). Portanto, o tempo líquido é escasso e deve ser vivido imediatamente, por que escorre pelo meio dos dedos. Uma oportunidade perdida nunca mais volta. Tudo flui, já preconizava Heráclito.
O consumo do nosso tempo presta-se a planos de vida de curto prazo, podendo-se depreender daí a noção de não haver razão para dedicação por anos a fio em estudos, em um trabalho, em estratégias de futuro.
Saímos de uma movimentação do estado sólido, quando planejávamos, trabalhávamos a vida toda na mesma empresa, nos aposentávamos lá. Os empreendedores pensavam sua empresa como firmemente fincada no chão. Isso tudo deu lugar a uma nova forma de ver o trabalho, como algo em movimento curto, onde o sistema simplesmente flui, escorre.
Segundo Bauman, o indivíduo descobriu que o trabalho era fonte de riqueza, por isso tinha que busca-lo, ser eficiente. O trabalhador ficava atrelado e subjugado às ordens de outros e o tempo seria de longo prazo. Mas, no lugar há uma nova mentalidade, na qual há flexibilidade, há o plano virtual onde a movimentação é livre e cheia de incertezas. O resultado é a fragilidade que caracteriza as relações de trabalho, onde não há engajamento, onde não se “veste a camisa”. Nesta nova relação, a empresa é algo descolado do indivíduo.
Ao invés de funcionários conta-se com colaboradores, sem laço com a empresa. Nada fica muito claro nessa relação, por haver o temor de frustração e desconfiança sobre a lealdade entre uns e outros e a projetos futuros. Não se planeja junto e tende-se a adiar as ações, rompendo os limites de tempo.
Na modernidade líquida há incertezas grandes demais, o que provoca um vazio de futuro, por isso não há interesse por planejamentos. Não se sabe se aquele trabalho que realizamos vai existir no futuro. Não há garantias de que a empresa ainda exista no ano que vem. Assim o adiamento da satisfação pessoal também é adiada provocando um problema social de inadequação pessoal.
O mundo do trabalho condensa as incertezas quanto ao futuro e ao planejamento dele, assim como estabelece insegurança nas relações , pela total falta de garantias entre os atores laborais. Há uma flexibilidade quase que patológica, na medida em que produz indivíduos cuja satisfação deve ser alcançada instantaneamente. Não adiamos, portanto, por que, uma oportunidade não aproveitada é uma oportunidade perdida.
Sufocamos nossas insatisfações, nossas inseguranças com o único jeito que encontramos como subterfúgio de encontrar uma vida boa. Compramos e não somos assombrados pela falta de algum produto, mas pela multiplicidade de produtos que estão à disposição. 

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