domingo, 31 de maio de 2015

Infernizar-se ou celestiar-se?

Vivemos, nos tempos atuais, uma crescente crise de gratuidade e alteridade. Cada vez mais, cada um concentra-se em seu interesse e assim vai-se embora a gratuidade; e concentrando-se em seu interesse não se pensa mais no outro e assim vai-se embora a alteridade. Vive-se com interesse e age-se para si mesmo! Sem gratuidade e sem alteridade instaura-se o inferno; com gratuidade e alteridade consolida-se o céu. Inferno é ausência de gratuidade e alteridade. Céu é presença de gratuidade e alteridade.
Ilustrando as afirmações acima, o conto oriental a seguir, simbolicamente é plástico: "Um dia, um mandarim partiu para o Além. Primeiro chegou ao inferno e viu muitas pessoas, sentadas à mesa em frente de pratos com arroz; mas todas morriam de fome, porque tinham pauzinhos com dois metros de comprimento e não podiam servir-se deles para se alimentarem. Depois foi para o céu e também lá viu muitas pessoas sentadas à mesa diante de pratos de arroz; todas estavam alegres e gozavam de boa saúde porque também elas tinham pauzinhos com dois metros, mas cada um servia-se deles para alimentar aquela que estava sentada à sua frente".
A civilização dos nossos tempos, se não inverter, urgentemente, a direção rumo à gratuidade e alteridade, cada vez mais ela vai-se infernizando. E as consequências do inferno que estamos, infelizmente, construindo, já são sentidas palpavelmente: pessoas fragilizadas, famílias desunidas, comunidades egoístas, sociedades violentas. Viver juntos e pautar a vida com interesses próprios e ações egoístas é infernizar tudo.
Mas a humanidade foi criada para o céu. Nossa índole humana é constituída pelo relacionamento e um relacionamento gratuito e áltero. E quanto mais gratuidade e alteridade, mais nos tornamos "celestes": somos mais imagem e semelhança de Deus. Viver juntos e pautar a vida sem interesses e ações egoístas é celestiar tudo.
Infernizar-se ou celestiar-se: eis a questão!

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