domingo, 19 de abril de 2015

É possível viver sem dormir?

Uma pessoa que atingir 78 anos terá passado nove deles assistindo televisão, quatro anos dirigindo e quase 25 anos de sua vida dormindo.
É incrível pensarmos que, segundo alguns cálculos, uma pessoa que atingir 78 anos terá passado nove deles assistindo televisão, quatro anos dirigindo, 92 dias no banheiro e 48 dias fazendo sexo. Mas nada supera o sono: aquela pessoa terá levado quase 25 anos de sua vida dormindo.
Muitos de nós acreditamos se tratar de uma perda de tempo e se pergunta: quanto tempo aguentamos sem dormir? E quais as consequências de não desfrutar do sono?
Qualquer pessoa saudável que planeje descobrir as respostas por sua própria experiência terá dificuldades em executá-lo. “A vontade de dormir é tão forte que ela chega a superar a vontade de comer”, afirma Erin Hanlon, professora no Centro de Sono, Metabolismo e Saúde da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. “O cérebro simplesmente embarca no sono, apesar de todos os esforços conscientes para espantá-lo.”
Dormir para quê?
O motivo exato pelo qual a vontade de dormir é tão forte ainda é um mistério. “A função precisa do sono ainda precisa ser desvendada”, afirma Hanlon. Ela acrescenta, no entanto, que algo no sono parece “zerar” os sistemas em nosso organismo. Além disso, alguns estudos demonstraram que o sono rotineiro e adequado ajuda a curar doenças, fortalece o sistema imunológico, melhora o metabolismo e traz muitas outras vantagens. É por isso que nos sentimos bem ao acordarmos de uma noite bem dormida.
Por outro lado, a falta de sono pode estar ligada a um maior risco de diabetes, problemas cardíacos, obesidade, depressão e outras doenças. Para evitar esses males, nosso corpo envia sinais desagradáveis quando adiamos ou encurtamos o descanso: a energia acaba, o andar se torna cambaleante, as pálpebras pesam sobre os olhos doloridos.
E quanto mais resistimos a dormir, perdemos a capacidade de concentração e de memória. Se ignorarmos esses efeitos e passarmos dias e dias acordados, nossas mentes começam a se desequilibrar. Alterações de humor, paranoias e alucinações tomam conta. “É uma espécie de loucura”, define Atul Malhotra, diretor de medicina do sono da Universidade da Califórnia em San Diego.
Muitos estudos documentaram o declínio do organismo que sofre que privação do sono. O nível de hormônios causadores do estresse, como a adrenalina e o cortisol, aumenta, fazendo a pressão arterial subir.
Enquanto isso, o ritmo cardíaco se altera e o sistema imunológico começa a esmorecer, segundo Malhotra. “Esses indivíduos passam a se sentir cada vez mais ansiosos e têm maior risco de contrair doenças”, afirma.
A boa notícia é que esses efeitos não são permanentes e podem desaparecer ao se colocar o sono em dia. “Os danos são reversíveis”, afirma Jerome Siegel, professor do Centro para a Pesquisa do Sono da Universidade da Califórnia em Los Angeles.
Insones extremos
Mas o que fazer quando o sono nunca vem? Uma rara doença genética conhecida como insônia familiar fatal (IFF) nos dá um quadro macabro das consequências da falta de sono extrema. Apenas cerca de 40 famílias em todo o mundo possuem o gene da IFF. Um defeito nesse gene faz com que proteínas no sistema nervoso se deformem em príons, perdendo sua funcionalidade normal.
“Os príons são proteínas com formas estranhas que embaralham a vida dessas pessoas”, explica Malhotra. Eles se aglomeram no tecido neural, matando-o e formando cavidades no cérebro (exatamente como no caso da doença priônica mais conhecida do mundo, a síndrome de Creutzfeldt-Jakob).
Uma das áreas particularmente atingidas em indivíduos com IFF é o tálamo, região profunda do cérebro que controla o sono. Por isso, alguns passam dias sem dormir. Ao fim de algumas semanas, entram em uma espécie de adormecer superficial, apresentando sonambulismo ou movimentos musculares involuntários. A situação pode levar à perda de peso e à demência, e culminaria na morte.
Nem no ‘Guinness’
É possível que, ao saber de tudo isso, muitos de nós acabem desistindo de testar nossos limites sem dormir. Mas uma questão ainda está no ar: quanto tempo aguentamos acordados?
O registro mais citado é o do americano Randy Gardner, que, para uma experiência para a feira de Ciências de sua escola, ficou 264 horas sem dormir – ou pouco mais de 11 dias, segundo cientistas que o monitoraram durante esse tempo. Gardner tinha 17 anos e o experimento ocorreu em 1964.
Muitos outros relatos, pouco ou mais inacreditáveis, surgiram desde então em várias partes do mundo. Mas ninguém conseguiu estabelecer um número de horas definitivo. Talvez isso seja uma boa coisa. Ciente dos danos graves provocados pela falta de sono contínua, o Livro Guinness dos Recordes eliminou esse tipo de competição na década passada.
Da BBC Future.
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