O poder é assim: quando as coisas vão bem,
todo mundo é amigo, mas, quando vão mal, vira um empurra-empurra, começa uma
caçada ao culpado. E o culpado, agora, não pode ser nem a presidente Dilma
Rousseff nem o ex-presidente lula.
O “culpado” pela crise econômica foi o
ministro da Fazenda do primeiro mandato, Guido Mantega, demitido em plena
campanha de 2014 e amarrado artificialmente à cadeira tal um El Cid tupiniquim.
Começa-se agora a desenhar o “culpado” pela
crise política: ele tem um bigodão, é petista desde criancinha, foi o senador
mais votado do país na sua época, não teve nenhuma importância nos dois
mandatos de Lula e tornou-se o todo poderoso do novo governo Dilma.
Sim, é ele, o chefe da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, que está no centro da boataria e no alvo da artilharia petista e
pemedebista nesses tempos de recuos nas medidas do ajuste fiscal e de
depoimentos na CPI da Petrobras, às vésperas da manifestação de domingo.
Em meio a tantas coincidências que andam
acontecendo em Brasília (a última foi a reunião de quarta-feira entre Dilma e o
ministro Dias Toffoli...), essa é mais uma: bastou Lula jantar com Dilma no
Palácio da Alvorada para Mercadante cair na boca do povo. Os dois jantaram na
terça. O zum-zum da queda de Mercadante da articulação política ficou
ensurdecedor na quarta.
E não venham dizer que não foi tão alto
assim. Tanto foi que o Planalto, num gesto bem pouco usual, gastou energia e
tinta numa nota desmentindo boatos e ratificando a posição de Mercadante. Em
São Paulo, a muitos quilômetros de distância, o Instituto Lula também tratou de
desmentir o que dez entre dez petistas dizem: que o ex-presidente vive falando
mal de Mercadante.
O fato é que Dilma acabou anunciando, no
Acre, que está finalmente ampliando o chamado “núcleo duro” do Planalto. Ou ela
cedeu às evidências gritantes de que a articulação política não está
funcionando ou cedeu às crescentes pressões, principalmente de Lula, para
fazê-lo.
Como estava escrito nas estrelas (e aqui
neste espaço), a entrada de Gilberto Kassab em campo era só uma questão de
tempo. Ministro das Cidades, criador do PSD e com enorme jogo de cintura
político, ele entra junto com dois outros ministros: Aldo Rebelo (PCdoB), da
Ciência e Tecnologia, e Eliseu Padilha (PMDB), da Aviação Civil.
Mercadante deve ficar confinado à
coordenação administrativa dos ministros e fora das negociações com a Câmara e
o Senado e, muito particularmente, com o PT e o PMDB. Sua passagem pela
articulação política foi meteórica, além de desastrada.
O movimento de Dilma confirma também que o
ministro oficial da área, Pepe Vargas, não é lá de muita valia e que o trio
Mercadante, Rossetto e Berzoini é mais do mesmo e não leva Dilma a lugar
nenhum. Especialmente com o Congresso em pé de guerra, comandado por um PMDB
armado até os dentes e boa parte da tropa ferida pela Lava Jato.
Só falta alguém de bom senso dar um toque
em Dilma de que o ministro da Defesa se transformar em porta voz do PT, ou de
qualquer partido, é um tanto esdrúxulo e pode atrapalhar seu desempenho na
relação institucional com as Forças Armadas. Jaques Wagner é um bom político,
mas deve se limitar a conselheiro de bastidores da presidente ou optar entre a
função na Defesa e a ação no PT.
Por uma questão de justiça, porém, não é
correto atribuir os erros estratégicos, os erros táticos, as derrotas na
Câmara, os recuos no Senado e todas essas dificuldades a Mercadante. No mínimo,
Dilma deveria saber, como Lula sabe, que Mercadante pode ter outras qualidades,
mas é o homem errado na hora errada para negociar com petistas e pemedebistas -
imagine-se com o resto da base aliada.
Tanto quanto Mantega, portanto, Mercadante é apenas o mordomo nesse enredo frenético de crises.
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O importante não é definir quem é culpado e sim como fazer para sair o mais cedo possível da crise.
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