Os carteiros nunca perceberam, mas tiveram
influência indireta na relação dos casais que viveram o período pré-internet.
Quando o celular ainda se desenhava com o formato e o peso de um tijolo e as
linhas telefônicas custavam o preço de uma passagem aérea à Europa, era através
das cartas que as mensagens - hoje instantâneas - chegavam. De três a cinco
dias costumava ser a velocidade de entrega das correspondências. E isso só
alimentava a saudade de quem amava à distância. Fazia crescer a força de
relações embrionárias. Muitos casais, juntos até hoje, deveriam agradecer aos
carteiros. Eles foram, sem saber, os mensageiros da felicidade.
Não reconheço a instantaneidade da
comunicação como um fenômeno capaz de produzir algo tão forte quanto o teor de
um papel escrito a mão. Ao contrário. Para mim, só atrapalha. A paixão precisa
da espera e as redes sociais sempre mataram a saudade.
- Te amo.
- De novo? Postou isso há cinco minutos. Tá ficando chato.
- De novo? Postou isso há cinco minutos. Tá ficando chato.
As cartas trocadas entre os casais
transportavam a dor dos dias longe da pessoa amada. Homens e mulheres ficavam
de olho na caixa de correspondências e quando encontravam lá dentro um envelope
branco, o coração saltava pela boca. Corriam para o quarto, liam, guardavam e
reliam à noite as linhas escritas nas folhas de um caderno.
Já o amor pelo celular é assim: um recebe
frases abreviadas e o outro responde com ícones. Rápido, seco e pasteurizado.
Os carteiros, antes do advento da internet,
eram as pessoas mais aguardadas nos lares onde futuros casais viviam separados
por força das circunstâncias. Decepção mesmo era quando eles passavam direto
para a casa ao lado. A cena representava mais um dia de sofrimento pela falta
de notícias.
Eu digo. Ou melhor, escrevo. Nada em um
relacionamento pode ser comparado, até hoje, a uma carta. Até mesmo o fato de a
gente poder conversar on-line - e enxergar - com alguém distante tem o poder
sentimental de linhas preenchidas a mão. Minutos de dedicação oferecidos e
eternizados exclusivamente para nós por alguém. O que pode ser mais importante?
A carta perdeu força rapidamente na era dos
celulares e foi exterminada da vida de uma geração inteira que, privilegiada
pela comunicação instantânea, parece muitas vezes que não sabe se comunicar
direito. A geração que nunca irá esperar pelo carteiro.
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