terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O drama feminino de todos os dias

Agredida, assediada, violentada e vulnerável. Estas foram apenas algumas das expressões utilizadas por mulheres que foram entrevistadas pela Agência Brasil para se referir ao modo como se sentem quando são abordadas na rua com "gracejos", "galanteios abusivos". Em parceria com a Defensoria Pública de São Paulo, o Coletivo Olga quer tornar visível esse assédio para desnaturalizar uma situação que, na prática, é mais uma violência de gênero. Para isso, lançou a Campanha Chega de Fiu Fiu.

A jornalista Juliana de Faria, criadora da iniciativa, é enfática sobre a situação pela qual as mulheres passam: "Não é valorização, não é elogio, não é querer ter um relacionamento, não é flerte". Ela aponta que esse assédio está dentro de um contexto de violência marcado pelas desigualdades de gênero. "Talvez isso possa parecer uma questão menor, mas não é. Estamos falando de direitos muito básicos, então isso já é uma grande violência".

Uma pesquisa na internet, com a participação de aproximadamente 7,7 mil mulheres, foi feita como parte das ações da campanha. O resultado final impressiona, ao mesmo tempo em que assusta: 99,6% das mulheres já haviam sido assediadas, 81% disseram ter deixado de sair para algum lugar com medo de sofrer assédio e 90% trocaram de roupa pensando no lugar que iriam por receio de passar por esse tipo de situação.

A defensora pública Ana Rita Prata, coordenadora auxiliar do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher, destaca que o assédio é qualificado penalmente. "É uma contravenção penal, a importunação ofensiva ao pudor, cuja pena é multa. Há também a caracterização de crime como ato obsceno", explicou. Nos casos em que for verificada a violência física, pode ser caracterizado o crime de estupro. Ela destaca que a responsabilização do agressor é importante e um direito da vítima, mas que é fundamental tratar do tema de forma a conscientizar a sociedade sobre a questão. "A responsabilização de uma pessoa não vai mudar um contexto social", ponderou.

Para a professora Carla Cristina Garcia, do Departamento de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), também entrevistada pela Agência Brasil, esse assédio pode ser explicado por uma cultura em que o espaço público é tido como masculino. "Por mais que a rua pareça neutra, ela não é. As mulheres sabem dessa cartografia mental, que você não pode estar em um lugar em determinado momento do dia. 

A sociedade e a cultura machista vão impondo a compreensão de que, se algo acontecer, a culpa é sua", acrescenta. Ela lembra que, ao mesmo tempo em que se culpa a vítima e se invisibiliza a violência contra as mulheres, naturaliza-se a agressividade masculina.

Infelizmente, as mulheres ainda são, grande parte das vezes, tratadas como objetos. A culpa não é delas, antes que alguém queira dizer. Pelo contrário, está em uma cultura com extrema dificuldade de se desapegar de um machismo nefasto. Só a educação e o repúdio a tais atos poderão tecer um futuro melhor.

Ag. Brasil.


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Um comentário:

  1. Isso é fato amigo!A mulher não o direito ser bonita.Acho que homem que não respeita não merece ser respeitado.Simples assim!!!

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