sábado, 16 de agosto de 2014

Modernidade na terceira idade

Envelhecimento está cada vez mais conectado com as novas necessidades do mundo globalizado

Atualmente, é inegável que os jovens dividem cada dia mais o espaço virtual com seus pais, tios e principalmente avós. E se engana quem pensa que, quando o assunto é modernidade e tecnologia, a terceira idade fica restrita apenas às redes sociais ou confinadas ao estado inercial em seu “mundinho”. Eles querem aproveitar a diversão dos videogames, a praticidade dos tablets e celulares, compras pela internet e ainda, levar uma vida saudável, se exercitando diariamente.
De acordo com último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2010, o Brasil tem 20,5 milhões de idosos, o que representa 10,8% da população que vive no País. Os dados revelam que a expectativa de vida aumentou e com isso, as exigências e necessidades das pessoas com mais de 60 anos também. Até 2025, para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a nação brasileira será o sexto país do mundo em número de idosos.
O levantamento sinaliza que a faixa etária dos mais velhos vai continuar registrando crescimento no Brasil. Com isso, embora os jovens ainda sejam a maioria que acessa as redes sociais, principalmente, o Facebook, o potencial de pessoas conectadas é maior na terceira idade. Em visita ao projeto com idosos Vida Plena, do Serviço Social do Comerciário (Sesc) Faiçalville em Goiânia, a reportagem do Diário da Manhã conversou com beneficiários do programa, que abriga 200 pessoas na melhor idade.
Durante a entrevista, foi possível verificar o quanto estão cada vez mais ativos e com vontade de participar de cada episódio que a vida oferece. Eles contaram que começaram a usar a tecnologia para se aproximar da nova realidade, se manter mais próximos dos parentes, familiares e para fazer amigos com quem possam discutir afinidades.
A aposentada Maria Lenir Ferreira, 74, representa como cada vez mais idosos estão independentes, quando se trata de acessar a internet, seja pelo celular ou computador. “Comprei duas vezes um computador, mas não passava nem perto dele. Agora, perdi o medo e não peço mais ajuda a ninguém para mexer no computador, entrar na internet, conversar com amigos e família pelo whatsapp ou navegar em sites”, afirma ela, que diz também ser condutora de veículo automotor sem necessitar da ajuda de terceiros.
Independência
Isso representa, entre outras situações, que pessoas da terceira idade dependerão, a cada dia, menos dos netos, filhos ou sobrinhos para exercer atividades do cotidiano. Conforme Maria das Graças Santos, 62, a motivação para aprender a usar as redes sociais, como Facebook, veio da irmã. “Ela incentivou para que eu fizesse curso de informática. Relutei, mas não teve jeito, então, cursei aulas de computação ministrada pelo Sesc Cidadania. Antes de começar o curso, nem sabia ligar o equipamento, agora, converso direto com meus irmãos que vivem no exterior”, confessa a aposentada, que diz adorar tirar foto dos amigos e postar na rede.
O uso dessas ferramentas acaba com o isolamento a que eles são submetidos. Quando ganham confiança, dominam o ambiente e convivem sem problemas. “Corro atrás das coisas novas, da modernidade. Quem não se moderniza fica para trás. Atualmente, tudo é tecnológico”, conscientiza Maria do Carmo Labruna, 72. De acordo com ela, também joga videogame com os netos. “Eles me ensinam e faço igual.”
A aposentada Maria Lucia Duarte, 65, explica que a internet é uma ótima maneira de manter a cabeça ativa. “Nos ajuda a pensar, a nos manter vivos”, acredita. Maria Lucia também se vê livre da dependência de alguém mais jovem para poder usar o computador e a internet. Ela curte muito postar fotos nas redes sociais. “Faço tudo sem precisar de ajuda”, garante. Ainda conforme a aposentada, usa muito o computador para fazer e-commerce, as vendas e compras pela internet.
Lucro
Em torno de 71% dos idosos, registrados pelo IBGE, conseguem ter independência financeira. Eles são responsáveis por uma renda anual de R$ 243 bilhões, um poder de compra nada desprezível. Apenas 5% dos homens e 23% das mulheres dessa faixa da população declaram-se em dificuldades financeiras.
“Uso o computador para trabalhar. Através da internet troco e-mails, evito ter que percorrer quilômetros para vender meus produtos de cosméticos e perfumaria ou para atender meus clientes”, afirma Eustaquio Merciane de Castro Perreira, 64. Mas, para ele, as redes também ocasionam “danos quando utilizadas para o mal ou deixando as pessoas mais preguiçosas”, pontua.
Preocupados com a qualidade de vida, os idosos entrevistados pela equipe de reportagem do DM, assim como os outros participantes do projeto Vida Plena, demonstram preocupação com a saúde. Dentro do programa Sesc Goiás são utilizadas estratégias, em que os idosos usufruem dos benefícios para o bem-estar e melhoria da condição vida, sendo um deles a hidroginástica. Eles também buscam melhorar a saúde através de exercícios físicos, uma alimentação equilibrada e bom relacionamento social.
Curso de vida para velhice ativa
Preocupados com a existência e a qualidade de espaços que contemplem o público da terceira idade, o Sesc Goiás desenvolve o projeto Grupo Social com idosos, o Vida Plena. Por meio de ações para a valorização da cidadania e a integração social, o projeto realiza, semanalmente, as mais diversas atividades para a promoção da saúde do idoso.
Na programação, estão palestras, oficinas, dinâmicas, atividades de expressão corporal, visitas institucionais, minicursos e diversas outras atrações que resgatam a saúde e o bem-estar de quem chegou à terceira idade. Acompanhado por assistentes sociais, o programa Vida Plena procura, a cada encontro, sair da rotina e gerar novas experiências aos participantes. Nutricionistas, psicólogos, professores de teatro e odontólogos também participam da iniciativa por meio de palestras com temáticas específicas.
De acordo com a assistente social do Sesc Faiçalville Geruza Alves Rodrigues, responsável pelo trabalho social com idosos, o projeto tem a finalidade de integrar e oferecer novas habilidades e conhecimentos. As atividades procuram ser dinâmicas e diversificadas, buscando contribuir na vida dos idosos. Cada reunião possui uma programação diferente.
Para os idosos, participar do grupo social é uma oportunidade de sair da rotina e conhecer novas pessoas. As palestras e oficinas são relevantes para que eles acompanhem assiduamente as reuniões. Adquirir novas experiências e conhecer a realidade de outras pessoas é o que faz os integrantes se sentirem vivos e participativos dentro do grupo. Eles afirmam que as reuniões sempre oferecem novidades, que são aplicadas no cotidiano e se tornam estimulantes.
“Quando cheguei aqui, era uma pessoa tímida, mas, agora, sou outra pessoa. Danço, faço academia, me divirto com os amigos e eles estão sempre por perto quando necessito. Já ganhei até concurso de dança. Hoje, posso dizer que sou mais ativo. Com o projeto Vida Plena, rejuvenesci. Aprendi até a mexer no Facebook. E num mundo globalizado, é importante saber dessas coisas da internet e do computador”, afirma Pedro Texeira de Souza, 69, aposentado e beneficiário do projeto.
Contudo, torna-se importante uma ação dos governantes para criar políticas públicas que promovam modos de viver mais saudáveis em todas as etapas da vida, favorecendo a prática de atividades físicas no cotidiano e lazer, o acesso a alimentos saudáveis e a redução do consumo de tabaco. Estas questões são a base para o envelhecimento saudável, que signifique também um ganho substancial em qualidade de vida e saúde.


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