sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Cabelo bombado: O xampu-bomba é a nova moda para tratar os cabelos

O xampu-bomba é a nova moda para tratar os cabelos

O xampu-bomba não é nenhum produto explosivo, é apenas a nova moda das mulheres para tratar os cabelos

Para manter a beleza, as mulheres estão dispostas a sacrifícios, gastar dinheiro e muitas vezes a experimentar produtos e misturas inusitadas que prometem efeitos milagrosos. Um dos novos modismos em alta entre as mulheres é o xampu-bomba. O produto é uma mistura de um xampu sem sal, de escolha pessoal, Monovin A e Bepantol líquido. Receitas pululam na internet e fazem crer que haverá um crescimento mais acelerado que o normal e o fortalecimento dos fios de cabelo.
O produto não está à venda nas lojas de cosméticos ainda. Mas é possível encontrar alguns artigos com o nome de xampu-bomba na internet. Porém, a maioria das mulheres prefere fazer a mistura em casa. Elas compram um xampu de sua preferência que não possua sal em sua fórmula, também adquirem o Monovin A e o Bepantol e os misturam de forma artesanal. A escolha do xampu ao invés de um creme se deve ao fato de que o Monovin é um produto oleoso e aliado a produtos hidratantes deixaria o cabelo com aspecto grudado, como se estivesse há dias sem lavar.
Uso veterinário
A associação de produtos não seria tão estranha se um de seus elementos não fosse de uso veterinário. O Monovin A é utilizado, conforme a veterinária Isadora Apude, para o tratamento da cinomose, uma virose canina. Com dez anos de experiência na profissão, a veterinária explica que o produto é um composto oleoso de vitamina A e que seu uso ocorre de forma injetável no animal doente.
Ainda de acordo com Isadora, o Monovin A, por ser vitamina provoca um melhoramento do bulbo piloso, e por isso também é utilizado nos cavalos para que crina e rabo possam crescer mais sedosos e de forma rápida. O bulbo piloso, ou raiz do cabelo/pelo, está contido no folículo piloso, sob o couro cabeludo. É neste local que há a produção dos fios. “É comum o uso do Monovin principalmente em animais de competição em exposições”, explica a veterinária.
Com o uso eficaz nos cavalos, a ideia foi tentar utilizar também nos cabelos humanos. Perfazendo o mesmo caminho que as mulheres que utilizam há muito tempo o xampu desenvolvido especificamente para a crina dos cavalos. Para Isadora, a absorção do produto é menor no uso tópico que é feito ao se lavar os cabelos com produto que tenha o Monovin. “Porém é sabido que há absorção dessa vitamina A e que ela auxilia no crescimento e desenvolvimento melhor das células nos fios”, completa.
Consumidoras
Débora Lapot, de 23 anos, descobriu a novidade em março quando começou a utilizá-lo. Usou seguidamente por três meses, deixou o cabelo descansar do produto por um mês e depois voltou a fazer uso do xampu-bomba. Para ela, o produto fez o efeito desejado. “Meu cabelo normalmente não cresce nem um centímetro por mês. E eu tive que cortar ele acima do ombro porque quebrou muito devido a tinta loira que usava”, conta ela, que ainda teria visto o cabelo ficar mais sedoso e brilhoso.
A auxiliar de administração educativa explicou que ficou sabendo da novidade através das redes sociais e depois pesquisou mais sobre o assunto pela internet. “Fiquei com medo por causa do Monovin A, mas não aconteceu nada”, conta lembrando que seu cabelo ficou sedoso e não oleoso como ela receava.
Também tendo encontrado o produto por meio das redes sociais, a professora Janaína Vilela afirma que tem visto bons resultados, assim como todos do seu convívio tem notado o crescimento de seu cabelo. “Deu muito certo no meu cabelo. Ele está hidratado e bem bonito, não caiu e não quebrou”, diz.

De acordo com ela, o uso em três meses fez seu cabelo ter três dedos a mais no cumprimento. Normalmente o cabelo humano cresce um centímetro por mês e por isso em três meses teria que ter crescido o que ela afirma que conseguiu com o produto. Porém de acordo com Janaína seus fios não cresciam. “Meu cabelo não era bom para crescer, mas agora as pessoas têm notado diferença e me perguntam o que eu tenho feito para meu cabelo ter crescido e ficado bonito”, conta.
Cabeleireiro
Carlos Antônio de Jesus, há 13 anos atua como cabeleireiro e diz que a cada dez clientes que chegam ao salão onde trabalha, pelo menos seis comentam sobre o xampu-bomba. Para ele, as mulheres que já utilizam o produto falam sobre o crescimento de seus cabelos e o quanto ficam sedosos, enquanto as que não conhecem perguntam ao profissional se é bom ou não.
“Eu não indico o que não conheço e não sei nada sobre esse produto, a não ser que utiliza um produto veterinário no preparo. Para as clientes que me ouvem eu peço para ficarem alertas e indico outros cosméticos que tem o mesmo resultado”, explica Carlos Antônio.
Conforme ele, suas clientes começaram a perguntar sobre o xampu-bomba há cerca de seis meses. “Em algumas clientes é possível ver que o cabelo realmente está mais brilhoso”, comenta. Mas para o cabeleireiro a prática é mais uma moda, como aconteceu com os cremes aos quais se misturavam abacate e outros compostos e que atualmente quase não se utiliza. Ele informa que indica apenas produtos que o fabricante dá garantias de qualidade.
Tricologista
A tricologia é uma parte das ciências médicas que cuida dos pelos ou cabelos e tem como função solucionar os problemas de origem capilar. Leonardo Bisinotto é especialista na área, professor de tricologia na Faculdade Cambury, na Universidade Federal de Goiás (UEG) e membro da Diretoria Executiva da Associação dos Profissionais da Beleza do Estado de Goiás (Aprobeleza-GO). 
Para ele, o produto não é recomendável para uso, pois seus efeitos não foram estudados ou testados. “Tenho sido questionado com frequência sobre esse xampu, principalmente em sala de aula, pois sou professor universitário no curso de Estética e Cosmética. Mas o que é importante salientar que se trata de uma formulação caseira, sem estudo científico e testes realizados em humanos, o que inviabiliza logicamente seu uso”, afirma.
O tricologista ainda afirma temer que o produto seja prejudicial e que o efeito de crescimento observado pode ter origem psicossomática. Como não existe comprovação científica da eficácia da fórmula, as pessoas podem psicologicamente induzirem seu próprio corpo às mudanças, como nos casos de efeito placebo. “Seria inapropriado apontar com certeza o que poderia acontecer ao couro cabeludo ou com o cabelo, mas existe a possibilidade de reações alérgicas afinal de contas o produto não foi estudado e criado para tal fim”, aponta.
Leonardo ainda alerta sobre o uso de produtos não criados para humanos misturados em um processo artesanal. “A mistura de produto para uso humano mesclado a um produto de uso veterinário, certamente não é para uso humano, não deve ser usado de forma alguma, não foi criado para isso! E mais, um produto popularmente conhecido como de ‘fundo de quintal’ não pode ser utilizado sem haver pesquisa científica e teste dos ativos, além disso, uma publicação importante do cientista provando eficiência e eficácia da fórmula”, afirma.
Dermatologista
A médica Cláudia Arantes Santana, especialista em dermatologia cosmética, doenças do cabelo e unhas, também não recomenda o uso de um produto não pesquisado e clinicamente testado. De acordo com a especialista, o produto Bepantol, não é problemático, pois melhora a queratinização do cabelo, evitando o aspecto arrepiado do cabelo (frizz).
Porém, a dermatologista informa que o Monovin A, devido sua alta concentração de vitamina A, pode trazer prejuízos aos fios e ao couro cabeludo. “O cabelo tem um ciclo, que é individual para cada pessoa, de acordo com a genética. Ele consiste em crescimento, repouso e queda. A hipervitaminose A pode interferir acelerando esse processo”, informa.
Para Cláudia o Monovin é como um anabolizante, que acelera o crescimento e a queda do cabelo pode ser consecutivamente acelerada, e acontecer antes do normal. “É um processo que não pode ser previsto, pois é individual e precisa de análise”, explica.
Além da interferência no ciclo natural do cabelo, a dermatologista ainda alerta para o surgimento de dermatites seborreicas, devido ao aumento da oleosidade, que pode evoluir para o surgimento de fungos no couro cabeludo. “O que está na internet sobre esse xampu-bomba é uma série de inverdades”, comenta a dermatologista.


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